Antes de deitar, muitos cães giram em círculos, arrumam o lugar com as patas e só então relaxam. Esse comportamento costuma chamar a atenção dentro de casa, especialmente quando o animal tem à disposição uma cama macia ou um sofá. Mesmo em ambientes controlados, o hábito permanece e levanta uma pergunta comum: por que esse ritual persiste em cães domésticos em 2025, tão distantes da vida selvagem de seus ancestrais? Em suma, essa cena tão comum no cotidiano dos tutores revela muito sobre a mente canina e sobre como o instinto ainda orienta diversas atitudes dos nossos companheiros de quatro patas.
Pesquisadores e especialistas em comportamento animal apontam que essa volta em círculo não é aleatória. Trata-se de uma herança dos lobos, que precisavam preparar o local onde iriam dormir, especialmente em áreas com vegetação alta, pedras, insetos e outros possíveis riscos. Com o tempo, esse padrão se consolidou como um instinto canino, que continua presente mesmo quando já não é essencial para a sobrevivência. Portanto, ainda que o cachorro viva em um apartamento confortável, o cérebro dele, por assim dizer, “se lembra” de que girar ajuda a criar um espaço mais seguro.
Por que os cães se enrolam em círculos antes de deitar?
O principal motivo apontado para os cães se enrolarem em círculos antes de deitar é a busca por segurança e conforto. Ao girar, o animal consegue avaliar melhor o espaço ao redor, identificar cheiros, ruídos e eventuais ameaças. Esse comportamento seria uma forma de “varrer” o ambiente com os sentidos, garantindo um local de descanso mais protegido, ainda que se trate apenas de uma cama na sala. Então, mesmo que o tutor saiba que não há perigo algum, o cão age seguindo essa programação interna, reforçada ao longo de milhares de anos.
Outro fator associado a esse ritual é a necessidade de achar o melhor lugar para o corpo. Nos antepassados selvagens, a volta em círculo ajudava a achatar a grama, afastar pequenos animais e criar uma espécie de ninho improvisado. Em casa, o cão pode repetir o gesto para ajeitar cobertores, almofadas ou até mesmo o próprio tapete, buscando a posição mais estável e confortável para se deitar e dormir por mais tempo. Entretanto, além do conforto físico, esse ritual também contribui para o bem-estar emocional, pois o ato de repetir um padrão previsível costuma acalmar muitos cães, funcionando quase como um “ritual de sono” semelhante ao que humanos criam ao apagar as luzes e arrumar a cama.
Instinto herdado dos lobos e adaptação ao ambiente doméstico
O comportamento de girar antes de deitar é considerado um instinto ancestral, comum em lobos e em outros canídeos selvagens. Na natureza, esse movimento ajudava a:
- Achatar a vegetação e formar uma espécie de cama;
- Checar o solo em busca de pedras, gravetos ou objetos incômodos;
- Afastar insetos, pequenos répteis ou outros animais indesejados;
- Ajustar a posição em relação ao vento e à temperatura.
Ao longo de gerações, os cães mantiveram esse comportamento como parte do repertório natural, mesmo em lares urbanos com pisos lisos e camas acolchoadas. Em muitos casos, o giro é rápido, quase simbólico, como se o animal “cumprisse” um protocolo interno. Especialistas em comportamento canino explicam que, mesmo sem necessidade prática, o cérebro do cão continua “programado” para esse padrão de ação, que se repete por hábito e herança genética. Portanto, quando o tutor observa esse giro, está vendo um pedaço da história evolutiva do cão em ação dentro da própria sala.
Além disso, estudos mais recentes em etologia apontam que esse comportamento pode se relacionar também à forma como os cães organizam o próprio espaço social. Então, ao girar e cheirar o local, o animal reforça seus odores, deixando ali uma “assinatura” olfativa que indica: “este é o meu lugar de descanso”. Em suma, o ritual combina instinto de sobrevivência, conforto térmico, marcação de território e, ainda, um componente de rotina que traz previsibilidade ao dia a dia do cão.
Esse ritual dos cães pode indicar algum problema?
Na maior parte das situações, o ato de virar em círculos antes de deitar é considerado um comportamento normal e esperado em cães. Contudo, a observação atenta ajuda a diferenciar um gesto instintivo saudável de um sinal de desconforto físico ou de ansiedade. A forma como o animal se movimenta, o tempo que leva e a frequência com que repete o ato podem trazer pistas importantes. Portanto, em vez de se preocupar com qualquer giro, o tutor precisa avaliar o contexto geral e possíveis mudanças nesse padrão.
Alguns pontos costumam chamar atenção quando se avalia esse comportamento:
- Duração do ritual: giros rápidos e poucos costumam ser apenas parte do instinto; movimentos prolongados, com sinais de inquietação, podem indicar dor ou incômodo. Então, se o cão gira por muito tempo, levanta, deita, torna a girar e parece não encontrar posição, vale investigar.
- Idade do cão: animais idosos que giram demais antes de deitar podem estar lidando com dores articulares, rigidez ou dificuldade para encontrar uma posição confortável. Em suma, articulações mais sensíveis levam o cão a testar várias posturas antes de relaxar.
- Outros sinais associados: lambedura excessiva de patas ou flancos, vocalizações, respiração ofegante e dificuldade para relaxar podem apontar para questões físicas ou emocionais. Portanto, quando esses sinais aparecem em conjunto com o giro exagerado, o tutor deve suspeitar de dor, ansiedade ou até alterações neurológicas.
Profissionais da área recomendam que o tutor observe o contexto geral do comportamento. Quando o giro antes de deitar ocorre de forma semelhante todos os dias, sem sofrimento aparente, tende a ser apenas uma expressão natural do instinto de proteção e conforto. Se houver mudança brusca nesse padrão, ou se o cão parecer desconfortável, a avaliação veterinária é indicada para investigar possíveis causas clínicas. Então, longe de ser um gesto apenas “fofo”, esse ritual também pode servir como um termômetro da saúde física e emocional do animal.
Como tornar esse hábito mais confortável para o animal?
A adaptação do ambiente pode colaborar para que esse ritual fique mais tranquilo e seguro. Ao compreender que o cão busca preparar o próprio espaço, muitos tutores ajustam a casa para favorecer esse comportamento natural, sem tentar eliminá-lo. Pequenas mudanças já fazem diferença no dia a dia do animal e, portanto, contribuem tanto para o conforto quanto para a prevenção de problemas ortopédicos e de pele.
Entre as medidas mais citadas por especialistas, estão:
- Oferecer uma cama de tamanho adequado, que permita ao cão girar livremente;
- Evitar superfícies escorregadias em áreas de descanso, reduzindo o risco de quedas;
- Manter o local limpo, sem objetos pontiagudos ou brinquedos duros na região onde o cão costuma se deitar;
- Observar preferências de temperatura, escolhendo pontos com sombra no calor e locais mais abrigados em dias frios.
Dessa forma, o comportamento de se enrolar em círculos antes de deitar continua presente como parte natural da rotina do cão, mas em condições mais adequadas ao contexto doméstico atual. O que surgiu na vida selvagem como estratégia de sobrevivência hoje se manifesta como um costume previsível, que ajuda o animal a se sentir seguro, organizado e pronto para descansar. Em suma, quando o tutor entende esse ritual e organiza o ambiente de forma consciente, transforma um antigo instinto em uma experiência diária de conforto e bem-estar.
FAQ – Perguntas frequentes sobre o ritual de girar antes de deitar
1. Todos os cães giram antes de deitar?
Não. Muitos cães exibem esse comportamento, porém alguns quase não giram ou fazem apenas um movimento discreto. Portanto, a ausência desse ritual não indica, por si só, qualquer problema de saúde ou de comportamento.
2. Filhotes também apresentam esse hábito?
Sim, filhotes costumam começar a girar cedo, principalmente quando ganham mais autonomia para escolher onde deitar. Então, mesmo que de forma menos coordenada, eles já demonstram esse instinto ancestral em miniatura.
3. Posso treinar meu cão para não girar?
Não é recomendável tentar eliminar o comportamento, pois se trata de um padrão natural e geralmente inofensivo. Entretanto, se o giro se torna excessivo ou ansioso, o ideal é trabalhar o manejo do estresse com enriquecimento ambiental, rotinas estruturadas e, se necessário, acompanhamento com profissional de comportamento.
4. O tipo de cama influencia o quanto o cão gira?
Influencia, sim. Camas muito pequenas, instáveis ou escorregadias podem levar o cão a girar mais vezes na tentativa de se acomodar. Portanto, uma cama firme, do tamanho adequado e com boa textura tende a reduzir a necessidade de ajustes repetitivos.
5. Esse comportamento tem relação com transtorno obsessivo-compulsivo?
Na maioria dos casos, não. Em suma, o ato de girar antes de deitar é normal. Contudo, quando o cão gira por longos minutos, em diferentes contextos, sem conseguir interromper o movimento, aí sim pode haver suspeita de comportamento compulsivo, o que exige avaliação veterinária e, muitas vezes, acompanhamento com especialista em comportamento.






