Entre os muitos comportamentos observados em cães de companhia, o ato de “dar a pata” chama a atenção por parecer um gesto educado ou até carinhoso. Entretanto, por trás dessa atitude está um conjunto complexo de fatores biológicos, sociais e emocionais que envolvem instinto maternal, aprendizado e comunicação canina, além da influência direta do ambiente e do estilo de vida do animal. Em suma, entender a origem desse comportamento ajuda a interpretar melhor o que o animal tenta transmitir em diferentes contextos e ainda permite ao tutor ajustar o manejo diário para favorecer bem-estar e equilíbrio emocional.
Ao longo de milhares de anos de convivência com humanos, os cães passaram por um processo de domesticação que transformou antigos instintos em gestos hoje vistos como “fofos” ou “educados”. Portanto, o comportamento de estender a pata, muitas vezes interpretado como um pedido de atenção, está ligado a padrões naturais já observados em filhotes e em cadelas no cuidado com a ninhada, ainda que, no dia a dia, nem sempre se manifeste de forma consciente ou “instintiva” no sentido estrito. Então, além do componente biológico, entram em cena reforços diários, rotinas, experiências anteriores e até o temperamento individual do cão, que moldam a intensidade e a frequência com que ele oferece a pata.
Instinto maternal em cães e o comportamento de cuidado
O chamado instinto maternal canino abrange uma série de comportamentos que surgem, principalmente, em cadelas no período de gestação e após o parto. Entre esses comportamentos estão: lamber os filhotes, aproximá-los das mamas, manter contato físico constante e responder a choros ou movimentos com proteção e aconchego. Em suma, esse cuidado intenso é guiado por hormônios como prolactina e ocitocina, que estimulam vínculo e atenção redobrada à ninhada e criam uma base sólida para comportamentos futuros de proximidade e busca por contato.
Filhotes de cães, por sua vez, usam muito as patas dianteiras para explorar o ambiente, tocar a mãe, disputar espaço para mamar e buscar contato corporal. Nesse contexto, esse toque com as patas é reforçado repetidamente, pois costuma resultar em respostas importantes: alimentação, aquecimento, proteção e aproximação. Portanto, desde cedo, o animal aprende que usar as patas pode gerar um retorno positivo, associando o gesto a cuidado e interação. Então, quando o cão cresce, ele leva consigo essa “memória de aprendizado”, que se manifesta em diferentes situações sociais, inclusive com humanos, outros cães e até com objetos que ele associa a conforto, como cobertores e camas.
O que significa “dar a pata” nos cães?
Na fase adulta, o ato de dar a pata pode ser visto como uma extensão desses padrões de interação desenvolvidos na infância. Entretanto, ainda que não seja um comportamento estritamente “maternal”, carrega traços da forma como o cão aprendeu, desde filhote, a buscar atenção e contato. Ao estender a pata para uma pessoa, o animal pode estar tentando iniciar uma interação, pedir algo ou simplesmente manter proximidade física. Em suma, “dar a pata” se torna uma ferramenta versátil de comunicação que o cão adapta às situações do dia a dia.
Especialistas em comportamento animal apontam que o gesto de dar a pata costuma aparecer em contextos como:
- Pedido de carinho ou contato físico prolongado;
- Procura por reforço positivo, como petiscos ou brinquedos;
- Busca de segurança em situações novas ou levemente estressantes;
- Resposta a treinamento, quando o comportamento é ensinado como “truque”;
- Tentativa de manter a atenção do tutor, sobretudo quando este se afasta ou se distrai.
Em muitos casos, o cachorro aprende rapidamente que encostar a pata na perna ou na mão de alguém gera olhares, voz dirigida a ele e, muitas vezes, afagos. Portanto, esse reforço constante consolida o comportamento, que passa a se manifestar de forma espontânea. Então, se o tutor reage sempre com muita empolgação, o cão tende a repetir ainda mais o gesto, transformando essa simples ação em um hábito diário, especialmente em momentos de tédio ou quando ele sente falta de estímulo mental.
“Dar a pata” tem origem biológica ligada ao instinto maternal?
A relação entre o instinto maternal e o gesto de dar a pata pode ser compreendida como uma conexão indireta. As mesmas estruturas biológicas que sustentam o vínculo entre mãe e filhotes — hormônios, necessidade de contato físico, resposta a toques e choros — favorecem o desenvolvimento de comportamentos baseados em aproximação e toque. Em suma, ao crescer, o cão mantém parte desses padrões de busca por contato, agora direcionados também aos humanos e a outros animais com os quais convive.
Em filhotes, é comum observar movimentos de “amassar” com as patas próximas às mamas, comportamento que estimula a saída de leite e reforça o contato com a mãe. Mais tarde, esses movimentos podem se transformar em gestos de toque em outros contextos, como encostar a pata em braços e mãos humanas. Portanto, o gesto de dar a pata pode ser visto como um comportamento que tem raízes em fases precoces de desenvolvimento, marcadas pelo cuidado materno, pela necessidade de proximidade e pelo aprendizado de que o toque gera respostas positivas.
Além disso, cães são animais altamente sociais. A espécie desenvolveu grande capacidade de ler sinais humanos e responder a eles. Estudos recentes indicam que o contato visual e o toque físico entre cães e pessoas elevam níveis de ocitocina em ambos, reforçando laços de apego semelhantes aos observados em relações entre mãe e filho. Então, nesse cenário, o ato de estender a pata pode funcionar como um “atalho” para acionar essa interação próxima. Entretanto, é importante ressaltar que cada cão interpreta e usa esse gesto de forma individual, de acordo com suas experiências, genética e rotina de socialização.
Como interpretar quando o cão oferece a pata?
Para interpretar o significado do gesto, é preciso observar o conjunto de sinais corporais. Um cão relaxado, com o corpo solto, orelhas em posição neutra e cauda balançando suavemente, ao dar a pata, geralmente está buscando carinho ou manutenção de um contato confortável. Em suma, nesse contexto, o gesto indica tranquilidade, confiança e desejo de prolongar um momento positivo. Já um animal que apresenta orelhas baixas, corpo encolhido ou respiração ofegante pode usar a pata como pedido de segurança ou apoio em situação desconfortável, como barulhos intensos, presença de estranhos ou mudanças na rotina.
Entre as situações mais frequentes em que o cão oferece a pata estão:
- Momento de descanso: ao lado do tutor, o cão encosta a pata para prolongar o contato;
- Durante o treinamento: quando o gesto foi ensinado, o animal o repete para tentar obter recompensa;
- Ambiente com estímulos novos: o toque pode ser uma forma de buscar amparo;
- Pedido de interação: o cão quer brincar, sair para passear ou simplesmente ser notado.
Em todos esses contextos, o toque com a pata funciona como uma ferramenta de comunicação. Portanto, ele não é apenas um “truque”, mas um recurso que o animal usa para interagir com o ambiente humano de maneira eficiente. Então, quando o tutor aprende a ler esses sinais em conjunto com postura corporal, expressões faciais e vocalizações, ele passa a responder de forma mais adequada, fortalecendo o vínculo, reduzindo frustrações e prevenindo mal-entendidos que podem levar a problemas de comportamento.
Treinamento, reforço e cuidado com o comportamento
Embora a base biológica e social explique por que o gesto surge, o modo como o cão “dá a pata” no dia a dia é fortemente influenciado pelo treinamento e pelos reforços recebidos. Quando o tutor responde com atenção e agrados toda vez que o cão toca com a pata, o comportamento tende a se repetir com maior frequência, inclusive em momentos menos adequados, como durante refeições ou quando há visitantes. Portanto, entender como funciona o reforço positivo é essencial para direcionar o comportamento de forma saudável.
Para manter um equilíbrio saudável, alguns cuidados são recomendados:
- Reforçar o gesto em momentos específicos, como durante treinos de obediência;
- Ignorar toques insistentes em situações em que o comportamento não é desejado;
- Associar o ato de dar a pata a comandos claros, ajudando o cão a entender quando usar o gesto;
- Observar sinais de ansiedade ou insegurança, buscando orientação profissional se o contato com a pata estiver ligado a medo ou estresse.
Em suma, quando o tutor coloca limites consistentes e, ao mesmo tempo, oferece outras formas de interação — como brinquedos, passeios, enriquecimento ambiental e treino mental — o cachorro aprende que “dar a pata” é apenas uma das várias maneiras de se comunicar. Então, o gesto permanece como uma forma de interação positiva e funcional, sem se transformar em atitude invasiva ou sinal de desconforto não reconhecido. Entretanto, em casos de exagero ou de associação com ansiedade, o acompanhamento com médico-veterinário e profissional de comportamento se torna fundamental para ajustar o quadro.
Um gesto simples com base em vínculos profundos
Ao analisar o gesto de dar a pata, percebe-se que ele reúne componentes biológicos, traços herdados da interação entre mãe e filhotes, aprendizado ao longo do desenvolvimento e adaptação ao convívio humano. Portanto, não se trata apenas de um comando ensinado, mas de um comportamento que encontra terreno fértil em instintos de cuidado, busca por contato e capacidade de formar vínculos. Em suma, o cão utiliza a pata como um elo entre seu mundo interno — emoções, memórias, necessidades — e o mundo externo, representado pelo tutor e pelo ambiente em que vive.
Compreender esses elementos permite interpretar o gesto de forma mais ampla: por trás de uma pata estendida está um animal que aprendeu, desde muito cedo, que tocar é uma maneira eficaz de se conectar, receber atenção e garantir segurança em seu ambiente social. Então, quando o tutor respeita os limites do cão, observa os sinais de desconforto e oferece respostas coerentes, o ato de dar a pata se consolida como parte de um relacionamento equilibrado, afetuoso e seguro para ambos. Em suma, entender o porquê desse comportamento é um passo importante não apenas para “educar”, mas também para fortalecer a relação de confiança entre humano e cão.
Perguntas frequentes sobre o gesto de “dar a pata” em cães (FAQ)
1. Todo cão que dá a pata está pedindo carinho?
Nem sempre. Em suma, muitos cães realmente usam a pata para pedir afeto, mas outros podem estar pedindo comida, brincadeira ou até indicando leve desconforto. Portanto, observe o contexto: horário, local, postura corporal e se há algo diferente no ambiente.
2. Cães que não dão a pata são menos apegados ao tutor?
Não. Alguns cães preferem outras formas de contato, como se encostar, deitar perto ou seguir a pessoa pela casa. Então, a falta desse gesto específico não indica falta de afeto, apenas um estilo de comunicação diferente.
3. Posso ensinar o comando “dá a pata” em qualquer idade?
Sim. Filhotes e cães adultos podem aprender o comando com reforço positivo. Portanto, use petiscos, elogios e sessões curtas de treino. Em suma, a chave está na repetição consistente e no respeito ao ritmo do animal.
4. O cão pode usar a pata como sinal de dor ou incômodo físico?
Pode. Em alguns casos, o cão oferece a pata porque tem dor em outra região do corpo ou porque sente desconforto ao se movimentar. Então, se o gesto vier acompanhado de apatia, mancar, lamber excessivo de alguma área ou mudança brusca de comportamento, consulte o veterinário.
5. “Dar a pata” pode indicar ansiedade de separação?
Em alguns cães, sim. Se ele oferece a pata de forma insistente antes de você sair, chora, vocaliza, destrói objetos ou apresenta outros sinais de estresse quando fica sozinho, isso pode apontar para ansiedade de separação. Portanto, em suma, procure orientação profissional para avaliar o quadro e elaborar um plano de manejo.









