Durante um episódio de febre, muitas pessoas relatam sentir frio intenso, calafrios e vontade de se cobrir, mesmo quando o termômetro indica que a temperatura do corpo está alta. Essa sensação costuma causar estranhamento e leva à dúvida sobre o que realmente está acontecendo com o organismo. A explicação envolve o funcionamento do hipotálamo, região do cérebro responsável pelo controle da temperatura corporal, que age como um termostato interno. Em suma, o corpo não “erra”, ele apenas passa a trabalhar com um novo padrão de temperatura definido pelo cérebro.
Em condições normais, o corpo mantém uma faixa de temperatura considerada adequada para o bom funcionamento dos órgãos, geralmente em torno de 36 °C a 37,5 °C. Entretanto, quando ocorre uma infecção, um processo inflamatório ou outro estímulo, substâncias químicas sinalizam ao hipotálamo que é necessário elevar esse valor de referência. A partir desse momento, mesmo que a temperatura já esteja mais alta do que o comum, o cérebro passa a “entender” essa nova temperatura-alvo como a ideal e interpreta a temperatura atual como se estivesse baixa. Portanto, a sensação de frio, calafrios e mal-estar surge como parte de uma estratégia organizada de defesa.
Como o hipotálamo funciona como um termostato corporal?
O hipotálamo recebe informações constantes sobre a temperatura do corpo por meio de sensores presentes na pele, no sangue e em órgãos internos. Então, em condições estáveis, ele compara esses dados com um “ponto de ajuste” interno, semelhante ao ajuste de um ar-condicionado ou aquecedor. Esse ponto de ajuste, também chamado de set point, indica qual temperatura o organismo deve manter.
Quando tudo está equilibrado, o hipotálamo aciona mecanismos para dissipar ou conservar calor, como suor, vasodilatação (aumento do calibre dos vasos sanguíneos) ou vasoconstrição (redução do calibre dos vasos). Entretanto, em situações de febre, moléculas produzidas pelo sistema imunológico, como citocinas e prostaglandinas, chegam ao hipotálamo e “avisam” que é necessário subir o set point. Assim, a temperatura que antes era considerada normal passa a ser vista como baixa, desencadeando uma reação de aquecimento. Em suma, o corpo recalibra o próprio termostato para criar um ambiente menos favorável a vírus e bactérias, o que ajuda na resposta imunológica.
Por que sentimos frio quando estamos com febre?
A sensação de frio durante a febre está ligada a esse reajuste do termostato corporal. Ao elevar o set point, o hipotálamo interpreta que o corpo está “abaixo” da nova temperatura desejada. Como resposta, ele desencadeia mecanismos para gerar e conservar calor, o que inclui calafrios, tremores musculares e contração dos vasos sanguíneos da pele. Portanto, o frio que a pessoa sente não significa que a temperatura está baixa, mas sim que o corpo ainda não alcançou o novo alvo definido pelo cérebro.
Nesse momento, a pele tende a ficar mais fria e pálida, porque o sangue é direcionado para órgãos internos, como coração, pulmões e cérebro. Então, o contato com o ambiente pode aumentar o desconforto térmico, e o indivíduo passa a procurar cobertores ou roupas mais quentes. Em resumo, o organismo está, de forma controlada, tentando se aquecer até atingir a nova temperatura estabelecida pelo hipotálamo. Entretanto, esse processo pode vir acompanhado de cansaço, dor no corpo e mal-estar geral, o que reforça a sensação de que algo “piorou”, mesmo fazendo parte da defesa.
- Calafrios: movimentos musculares rápidos e involuntários que produzem calor e ajudam a elevar a temperatura interna.
- Vasoconstrição periférica: diminuição do fluxo sanguíneo na pele, fazendo-a parecer fria ao toque e contribuindo para a sensação de frio.
- Sensação subjetiva de frio: percepção central de que a temperatura está abaixo do alvo definido pelo hipotálamo, mesmo com a febre já alta.
O que acontece no corpo depois que a febre atinge o pico?
Quando a causa da febre começa a ser controlada, seja por ação do próprio sistema imunológico ou por medicamentos como antitérmicos, o hipotálamo tende a reduzir novamente o set point. A partir daí, a temperatura que estava elevada passa a ser considerada alta demais para o novo padrão e o corpo precisa dissipar calor. Portanto, o organismo inverte a estratégia: em vez de reter calor, ele passa a eliminá-lo de forma mais intensa.
Nessa fase, a pessoa geralmente deixa de sentir frio e passa a ter sensação de calor, sudorese intensa e rubor na pele. O organismo, então, ativa mecanismos como:
- Sudorese: produção de suor, que ao evaporar ajuda a resfriar a pele e diminuir a temperatura corporal.
- Vasodilatação: aumento do fluxo sanguíneo na superfície do corpo, deixando a pele mais quente e avermelhada, o que facilita a troca de calor com o ambiente.
- Respiração mais rápida: em alguns casos, auxilia na perda de calor e na oxigenação, principalmente quando o corpo está sob estresse térmico.
Esse ciclo – primeiro sensação de frio e tremores, depois calor e suor – acompanha as oscilações do set point regulado pelo hipotálamo e explica por que a experiência da febre pode mudar ao longo do dia. Em suma, o sobe e desce da temperatura, associado a alterações no conforto térmico, revela que o organismo está ajustando seu termostato interno de acordo com a evolução da doença e com o tratamento. Então, observar esses padrões ajuda a entender melhor o que está acontecendo no corpo durante uma infecção.
Quando a sensação de frio na febre merece atenção especial?
A sensação de frio em si é uma resposta fisiológica, mas alguns sinais associados podem indicar necessidade de avaliação médica. Episódios de febre alta e prolongada, calafrios intensos recorrentes ou acompanhados de mal-estar importante costumam ser levados em consideração na investigação da causa. Da mesma forma, alterações em crianças pequenas, idosos, gestantes ou pessoas com doenças crônicas exigem monitoramento cuidadoso, pois esses grupos tendem a descompensar com mais facilidade.
Em geral, medidas simples como hidratação adequada, repouso e uso orientado de medicamentos podem auxiliar o organismo enquanto o hipotálamo reajusta o termostato corporal. Então, observar a variação da temperatura, a intensidade dos calafrios e outros sintomas, como dor, dificuldade para respirar ou alterações de consciência, ajuda a identificar situações em que a febre e a sensação de frio estejam associadas a quadros que precisam de atenção profissional. Portanto, em suma, não basta olhar apenas para o número no termômetro; é essencial considerar o contexto, a duração da febre e o estado geral da pessoa.
FAQ – Perguntas frequentes sobre frio e febre
1. É melhor se agasalhar ou se descobrir quando estou com febre e sentindo frio?
Quando você sente muito frio e apresenta calafrios, o corpo ainda está tentando alcançar o novo set point. Então, faz sentido usar cobertores leves e roupas confortáveis para reduzir o desconforto. Entretanto, após o pico, quando surge muito calor e suor, o ideal consiste em retirar o excesso de roupas e permitir que o corpo dissipe o calor, sempre evitando correntes de ar muito frio e mantendo o ambiente agradável.
2. Tomar banho frio ajuda a baixar a febre?
Banhos muito frios costumam causar vasoconstrição e tremores, o que pode aumentar a sensação de mal-estar e até estimular mais produção de calor. Portanto, prefira banhos mornos ou ligeiramente frescos, por pouco tempo. Em suma, o foco deve recair sobre conforto e segurança, e não em “choques térmicos”, que podem ser prejudiciais, principalmente em crianças e idosos.
3. Toda febre com calafrios indica infecção grave?
Nem sempre. Muitos quadros virais comuns, como gripes, geram febre com calafrios, especialmente no início. Entretanto, calafrios muito intensos, febre alta persistente, piora progressiva do estado geral, dor no peito, falta de ar ou confusão mental exigem avaliação médica rápida. Portanto, observe a evolução dos sintomas e não apenas a presença de calafrios isoladamente.
4. Antitérmicos atrapalham a defesa do organismo?
Antitérmicos, quando usados de forma adequada e orientada, aliviam sintomas como dor de cabeça, mal-estar e desconforto térmico. Então, eles contribuem para o bem-estar e para o descanso, o que também auxilia a recuperação. Em suma, em muitas situações, o benefício supera possíveis efeitos negativos. Entretanto, o uso excessivo, sem orientação ou em doses erradas, pode trazer riscos, principalmente para o fígado e os rins.
5. Em que momento devo procurar um médico por causa da febre?
Você deve buscar atendimento quando a febre dura mais de 48 a 72 horas sem melhora, quando ultrapassa frequentemente 39 °C, quando vem acompanhada de dificuldade para respirar, dor intensa, rigidez na nuca, manchas na pele, confusão mental, ou quando surge em bebês muito pequenos, idosos frágeis e pessoas com imunidade baixa. Portanto, então, em qualquer situação de dúvida ou insegurança, a avaliação profissional garante um cuidado mais seguro e direcionado.







