O interesse da população em entender a relação entre alimentação e saúde cerebral tem crescido nos últimos anos, especialmente diante do envelhecimento da população mundial. Entre os temas em destaque, o papel do consumo de queijo gorduroso e demência tem chamado atenção após novas pesquisas indicarem uma possível associação entre a ingestão diária desses queijos e um menor risco de desenvolver quadros demenciais ao longo da vida. Em suma, a discussão envolve hábitos alimentares, prevenção de doenças e revisão de antigas orientações nutricionais que, por muito tempo, recomendaram a redução drástica de gorduras saturadas.
A demência, que inclui doenças como o Alzheimer, impacta diretamente a memória, o comportamento e a capacidade de realizar tarefas do dia a dia. Por isso, qualquer fator que possa influenciar o risco de desenvolver esse tipo de condição passa a ser observado com cuidado. Estudos recentes têm sugerido que certos laticínios, especialmente queijos com alto teor de gordura, podem estar ligados a uma incidência menor dessas doenças, contrastando com a visão tradicional de que gorduras saturadas deveriam ser sempre limitadas. Entretanto, pesquisadores reforçam que esses resultados ainda exigem cautela e que ninguém deve basear toda a sua estratégia de prevenção apenas em um alimento isolado.
O que é demência e por que a alimentação entra nessa discussão?
A demência não é uma única doença, mas um conjunto de sinais e sintomas que afetam funções cognitivas como memória, linguagem, orientação e tomada de decisão. Entre as manifestações mais comuns estão esquecimentos frequentes, repetição de perguntas, dificuldade para lembrar compromissos e problemas para reconhecer pessoas conhecidas. Esses quadros tendem a se tornar mais frequentes com o avanço da idade, e por isso são alvo de políticas públicas e pesquisas contínuas em diversos países, inclusive com foco na prevenção por meio de mudanças no estilo de vida.
Especialistas apontam que o desenvolvimento da demência é influenciado por diversos fatores, entre eles genética, nível de escolaridade, condições cardiovasculares, prática de atividade física e, cada vez mais, padrões alimentares. A alimentação pode interferir na saúde dos vasos sanguíneos, na inflamação crônica e no funcionamento do cérebro. Portanto, investigar se o queijo com alto teor de gordura desempenha algum papel nesse contexto faz parte de uma linha mais ampla de estudos sobre nutrição e saúde cognitiva, que também avalia padrões alimentares como a dieta mediterrânea, a dieta MIND e o consumo de ômega-3, legumes, frutas e grãos integrais.
Consumo de queijo gorduroso e demência: o que as pesquisas sugerem?
Pesquisas de longo prazo realizadas com grandes grupos populacionais têm observado o comportamento alimentar de adultos por décadas, comparando o que comem com o que acontece com a saúde ao longo do tempo. Em um desses estudos, pessoas que relatavam consumir diariamente cerca de 50 gramas de queijos com mais de 20% de gordura, como brie, gouda, cheddar, parmesão, gruyère e muçarela, apresentaram menor incidência de demência em comparação com aquelas que consumiam quantidades bem menores. Então, essa relação sugere um possível efeito protetor, embora ainda não se possa falar em relação de causa e efeito.
Os números indicaram uma diferença percentual no risco entre os grupos, mesmo após ajustes para variáveis como idade, sexo, nível de escolaridade e padrão geral da dieta. Essa associação levantou a hipótese de que o consumo regular de queijos gordurosos poderia estar ligado a algum tipo de proteção para o cérebro. No entanto, os próprios pesquisadores destacam que se trata de um estudo observacional, ou seja, ele identifica relações estatísticas, mas não demonstra causa e efeito. Em suma, quem consome queijo gorduroso todos os dias pode também adotar outros hábitos saudáveis, como praticar exercícios ou controlar melhor a pressão arterial, o que também influencia o risco de demência.
Existem algumas possíveis explicações levantadas na literatura científica. Entre elas, a presença de nutrientes como cálcio, proteínas de alta qualidade, vitaminas lipossolúveis (como A e K2) e certos ácidos graxos que poderiam influenciar mecanismos inflamatórios, integridade das membranas neuronais e funcionamento dos vasos sanguíneos cerebrais. Além disso, certos queijos maturados concentram compostos bioativos produzidos por bactérias durante o processo de fermentação, que, em teoria, poderiam atuar de forma benéfica no eixo intestino-cérebro. Porém, essas hipóteses ainda estão em investigação e não há consenso definitivo sobre quais mecanismos estariam envolvidos, nem sobre qual tipo de queijo ofereceria maior benefício.
Todo tipo de laticínio ajuda a reduzir o risco de demência?
Ao analisar diferentes laticínios, pesquisadores observaram que o padrão visto com queijos mais gordurosos não se repetiu para todos os derivados do leite. Produtos como iogurtes, kefir e leite, tanto integral quanto desnatado, não apresentaram associação consistente com redução do risco de demência. Portanto, não se pode generalizar o efeito dos queijos gordurosos para todos os laticínios, já que cada alimento possui composição própria de gorduras, proteínas, micronutrientes e compostos bioativos.
Da mesma forma, versões de queijos com baixo teor de gordura não mostraram o mesmo efeito observado nos queijos tradicionais mais gordurosos. A manteiga apareceu como um caso à parte, com resultados que variaram conforme o tipo de demência analisado, incluindo algumas indicações de possível aumento de risco para doença de Alzheimer em consumo elevado. Isso sugere que nem todo alimento rico em gordura, mesmo de origem láctea, atua de forma semelhante no organismo. Então, o processamento, o teor de proteína, o tipo de gordura e a forma de consumo parecem influenciar esses efeitos de maneiras diferentes, o que reforça a importância de olhar para o alimento como um todo, e não apenas para um nutriente isolado.
- Queijos gordurosos maturados: associados em alguns estudos a menor risco de demência, especialmente quando consumidos em quantidades moderadas dentro de uma dieta equilibrada.
- Queijos magros: não apresentaram o mesmo padrão de associação, o que indica que a redução extrema de gordura nem sempre traz o benefício esperado para a saúde cerebral.
- Leite e derivados fermentados: efeito neutro na maior parte das análises, embora possam contribuir para a saúde intestinal e óssea, o que indiretamente também influencia o bem-estar geral do organismo.
- Manteiga: resultados mistos, com possíveis riscos em consumo elevado, especialmente quando inserida em um padrão alimentar rico em ultraprocessados e pobre em vegetais, fibras e gorduras insaturadas.
Como interpretar o consumo de queijo gorduroso no dia a dia?
Diante desses achados, especialistas em saúde pública e nutrição sugerem interpretar o consumo de queijo e risco de demência dentro do contexto de um padrão alimentar equilibrado. O fato de haver uma associação positiva em um estudo de coorte não significa que o queijo deva ser visto como um “remédio” para o cérebro, nem que outros aspectos da dieta possam ser negligenciados. Portanto, a recomendação mais aceita hoje prioriza a moderação: incluir o queijo gorduroso em porções adequadas, em vez de exagerar na quantidade ou usá-lo como justificativa para uma alimentação desequilibrada.
Fatores como controle da pressão arterial, redução do tabagismo, prática de exercícios e estímulo cognitivo seguem sendo apontados como fundamentais na prevenção de demência. Em suma, quem deseja proteger o cérebro precisa olhar para o conjunto da rotina: sono de qualidade, manejo do estresse, interação social e controle de doenças como diabetes e colesterol alto são tão importantes quanto o que vai ao prato. Nesse cenário, o queijo com alto teor de gordura se encaixa como mais um elemento, e não como protagonista absoluto.
Em linhas gerais, orientações atuais costumam enfatizar uma alimentação variada, com presença de frutas, legumes, verduras, grãos integrais, peixes, oleaginosas e fontes de gordura de boa qualidade, como azeite de oliva, abacate e castanhas. Dentro desse cenário, o queijo com alto teor de gordura pode ocupar um espaço moderado, integrado às preferências culturais e ao estado de saúde de cada pessoa. Então, avaliações individuais com profissionais habilitados ajudam a considerar colesterol, peso corporal, histórico familiar e outros elementos relevantes antes de aumentar ou reduzir o consumo de queijos gordurosos.
- Observar o padrão geral da alimentação, e não apenas um alimento isolado, já que o contexto da dieta influencia fortemente o risco de demência.
- Consultar profissionais de saúde antes de mudanças significativas na dieta, principalmente em casos de doenças cardiovasculares, renais ou metabólicas.
- Considerar fatores como idade, doenças pré-existentes e uso de medicamentos, pois certas condições exigem limites específicos de sódio, gorduras e calorias.
- Manter outros cuidados preventivos para saúde do cérebro, como atividade física, estímulo mental, vida social ativa e controle de fatores de risco cardiovascular.
As pesquisas sobre queijo gorduroso e demência continuam em andamento e devem trazer novos dados nos próximos anos. Enquanto os estudos avançam, o tema segue como parte do debate sobre como escolhas alimentares ao longo da vida podem se relacionar com o envelhecimento cerebral e a manutenção das capacidades cognitivas na população. Em suma, a mensagem central indica equilíbrio: aproveitar o queijo como parte de uma alimentação prazerosa, mas sem ignorar o conjunto de hábitos que, em última análise, moldam a saúde do cérebro.
FAQ sobre queijo gorduroso e demência
1. Comer mais queijo gorduroso garante que eu não vou ter demência?
Não. O consumo de queijo gorduroso aparece associado a menor risco em alguns estudos, porém isso não garante proteção individual. Portanto, você deve enxergar o queijo como parte de um estilo de vida saudável, que inclui alimentação variada, atividade física, sono adequado e controle de doenças crônicas.
2. Pessoas com colesterol alto podem consumir queijo gorduroso?
Depende do caso. Então, quem tem colesterol alto precisa de avaliação individual com médico e nutricionista. Em muitos casos, é possível consumir porções pequenas de queijos gordurosos dentro de um plano alimentar ajustado, priorizando gorduras insaturadas no restante do dia.
3. Há diferença entre queijos industrializados e artesanais para a saúde cerebral?
Em termos de demência, ainda faltam estudos específicos comparando queijos artesanais e industrializados. Entretanto, queijos artesanais maturados tendem a ter menor uso de aditivos e podem concentrar diferentes perfis de bactérias benéficas, o que potencialmente influencia a saúde intestinal. Mesmo assim, o mais importante continua sendo a quantidade consumida e o padrão alimentar geral.
4. Qual é uma porção considerada moderada de queijo gorduroso no dia a dia?
Como referência geral, muitas diretrizes consideram algo em torno de 30 a 50 gramas por dia uma porção moderada para adultos saudáveis. Entretanto, essa quantidade pode variar conforme necessidades calóricas, nível de atividade física e presença de doenças, então o ideal é personalizar com um profissional de saúde.
5. Substituir carnes por queijo gorduroso ajuda a proteger o cérebro?
Não existe consenso de que simplesmente trocar carne por queijo traga benefício direto para o cérebro. Portanto, o foco deve ser montar refeições equilibradas, com variedade de proteínas (peixes, ovos, leguminosas, carnes magras e, se desejado, queijos), além de muitos vegetais e gorduras de boa qualidade. O equilíbrio entre esses alimentos conta mais do que substituições pontuais.






