A circulação de informações falsas, as fake news, acompanha a história dos seres vivos, muito antes das redes sociais digitais se popularizarem entre humanos. Pesquisas recentes em comunicação biológica indicam que sinais enganosos aparecem em diversos grupos, de bactérias a aves, passando por mamíferos marinhos. Nesses sistemas, a desinformação não é vista apenas como um desvio, mas como parte estrutural das interações sociais. Além disso, ao observarmos com atenção esses comportamentos, percebemos que muitos deles seguem padrões previsíveis, o que ajuda a entender, portanto, por que também surgem de forma recorrente entre humanos.
Esse olhar mais amplo sobre o fenômeno das fake news ajuda a entender por que boatos, rumores e mensagens enganosas ganham espaço em ambientes online. Em vez de enxergar essas distorções como algo totalmente novo, pesquisadores sugerem que se trata de uma expressão moderna de um mecanismo antigo: a emissão de sinais que podem ou não corresponder à realidade, mas que trazem vantagens a quem os transmite em determinadas situações.
O que é desinformação na natureza?
Na biologia, desinformação é qualquer sinal social que transmite uma mensagem imprecisa, exagerada ou falsa, alterando o comportamento de outros indivíduos. Pode ser um alarme de perigo emitido sem ameaça real, uma indicação de rota insegura ou até um estímulo químico que induz respostas desnecessárias. Esses sinais enganosos surgem tanto por erro de interpretação do ambiente quanto por estratégias deliberadas de organismos que tentam obter benefícios. Portanto, falar de desinformação na natureza significa falar de comunicação, seleção natural e disputa por recursos.
Em muitos casos, a mentira traz ganhos claros: mais acesso a alimento, maior chance de reprodução ou redução de riscos. Entretanto, esse tipo de comunicação enganosa também envolve custos. Se o grupo passa a desconfiar de certos avisos, sinais verdadeiros podem ser ignorados, aumentando a vulnerabilidade coletiva. Por isso, a desinformação na vida selvagem costuma se equilibrar com mecanismos de checagem, punição ou simples desatenção a indivíduos considerados pouco confiáveis. Então, o sistema de comunicação acaba funcionando como um “mercado de informação”, em que credibilidade, reputação e experiência valem tanto quanto a mensagem em si.
Fake news biológicas: o que a ciência já observou?
A expressão fake news é normalmente associada a notícias falsas na internet, mas alguns exemplos na natureza ilustram comportamentos bastante semelhantes. Um dos casos mais citados é o do chapim-real (Parus major), um pequeno pássaro europeu que emite alarmes de perigo em áreas de alimentação. Estudos mostram que uma parcela significativa desses avisos não corresponde a ameaças reais. Em suma, a espécie constrói um cenário em que o medo, a urgência e a competição moldam o fluxo de informação.
Parte desses falsos alarmes acontece por engano, como reação automática a movimentos na vegetação ou sombras repentinas. Porém, há indícios de que alguns indivíduos usam a estratégia de forma intencional para afastar outros pássaros e garantir acesso exclusivo à comida. Portanto, o benefício direto para quem emite o alarme enganoso é óbvio: menos competidores no mesmo recurso. Mesmo assim, o grupo continua respondendo a muitos chamados porque o risco de ignorar um alerta verdadeiro é alto. Em contextos com predadores, o custo de não reagir pode ser fatal, o que mantém o sistema funcionando, mesmo com alto índice de sinais enganosos. Entretanto, quando um indivíduo exagera na quantidade de alarmes falsos, outros passam gradualmente a ignorá-lo, mostrando que existe um controle social.
- Benefício individual: quem engana ganha recurso ou espaço.
- Custo coletivo: o grupo gasta energia reagindo a alarmes falsos.
- Risco extremo: ignorar um aviso correto pode levar à morte por predadores.
Quais outras formas de desinformação aparecem em animais?
Casos de comunicação enganosa vão além das aves. Em comunidades de bactérias, por exemplo, a troca de sinais químicos coordena defesas coletivas e formação de biofilmes. Algumas linhagens podem enviar sinais em momentos inadequados, forçando outras a ativar defesas antes da hora. Essa antecipação compromete recursos e reduz a eficiência do grupo, enquanto o “emissor” se ajusta melhor ao ambiente. Portanto, mesmo em organismos microscópicos, a lógica é semelhante: quem manipula o tempo e o contexto da informação pode obter vantagem.
Entre vertebrados sociais, pesquisas descrevem comportamentos em que informações desatualizadas ou inadequadas seguem sendo reproduzidas por tradição. Baleias e golfinhos podem manter rotas migratórias que se tornaram arriscadas por mudanças climáticas ou atividade humana. Mesmo assim, continuam seguindo líderes experientes, confiando mais na autoridade social do que na checagem direta das condições atuais. Em suma, a “força do costume” age como um tipo de desinformação herdada, que persiste porque já funcionou no passado, ainda que hoje ofereça perigos. Então, observamos que tradição, hierarquia e confiança formam um tripé essencial para entender como esses sinais se mantêm.
- Bactérias: uso de sinais químicos antecipados que induzem respostas ineficientes.
- Aves: alarmes falsos em áreas de alimentação e defesa de território.
- Mamíferos marinhos: rotas seguidas por tradição, ainda que menos seguras.
FAQ – Perguntas frequentes sobre desinformação na natureza e nas redes
1. Desinformação e erro são a mesma coisa?
Não. Erro ocorre quando um sinal enganoso surge sem intenção, por interpretação equivocada do ambiente. Desinformação, por sua vez, envolve qualquer mensagem imprecisa que altera o comportamento de outros, podendo ser estratégica ou não. Portanto, todo erro de comunicação pode gerar desinformação, mas nem toda desinformação é apenas erro inocente.
2. A desinformação sempre traz vantagens para quem engana?
Nem sempre. Em muitos casos, o benefício é imediato, mas os custos aparecem depois: perda de confiança, punições do grupo ou isolamento social. Então, quando a mentira se torna frequente, a própria reputação do emissor sofre, o que reduz suas chances de ser ouvido em situações críticas.
3. Como podemos aplicar essas ideias no dia a dia online?
Uma forma prática consiste em copiar três estratégias da natureza: checar sinais com outras fontes, valorizar emissores confiáveis com histórico positivo e “punir” conteúdos enganosos deixando de seguir, denunciar ou desestimular quem os compartilha. Em suma, cada usuário funciona como um filtro que fortalece ou enfraquece a circulação de boatos.
4. Emoções fortes aumentam mesmo o risco de cair em fake news?
Sim. Mensagens que despertam medo, raiva ou sensação de urgência pulam etapas de reflexão crítica. Portanto, quando um conteúdo parece exigir reação imediata, o ideal é fazer o oposto: pausar, verificar a fonte e buscar confirmação em meios independentes antes de compartilhar.
5. A educação midiática pode reduzir a desinformação?
Pode, e muito. Quando pessoas aprendem a reconhecer padrões típicos de boatos, a identificar fontes confiáveis e a checar dados básicos, o “custo” de mentir aumenta. Então, assim como em grupos animais que desenvolvem mecanismos de controle, sociedades humanas com boa educação midiática tendem a ser menos vulneráveis a fake news.










