Na década de 1960, a Inglaterra foi palco de um dos crimes mais famosos envolvendo transporte ferroviário: o assalto ao trem pagador. O episódio, que aconteceu em agosto de 1963, chamou atenção pela ousadia de seus autores e pela engenhosa operação. Os detalhes da ação e as consequências vividas pelos envolvidos ainda despertam curiosidade e levantam diferentes questionamentos sobre segurança, investigação e fuga de criminosos.
A operação mobilizou 15 indivíduos que, meticulosamente, planejaram e executaram o roubo no percurso entre Glasgow, na Escócia, e Londres, na Inglaterra. O líder do bando foi Bruce Reynolds, cuja experiência prévia em crimes sofisticados foi crucial para o sucesso da empreitada. Explorando vulnerabilidades do sistema ferroviário, os assaltantes conseguiram interceptar o trem postal e subtrair uma grande quantia em dinheiro, equivalente a cerca de 2,6 milhões de libras (o equivalente a 4,2 milhões de dólares ou R$ 282,5 milhões em valores atuais). A ação resultou em marca significativa nos registros policiais do Reino Unido.

A concepção do assalto ao trem pagador
O plano foi colocado em prática nas primeiras horas do dia 8 de agosto de 1963, próximo a Cheddington, na Inglaterra. Para interromper o comboio, os criminosos simularam um sinal de advertência, utilizando uma bateria improvisada que simulava uma falha operacional. Diante disso, um dos funcionários do trem, ao tentar comunicar o centro operacional, percebeu que as linhas estavam cortadas, situação que dificultou qualquer alerta imediato à polícia.
No momento em que retornava ao veículo, o condutor auxiliar foi surpreendido e dominado. Além disso, os assaltantes renderam também o maquinista principal, utilizando violência para assegurar o controle da locomotiva. Posteriormente, separaram parte dos vagões, permitindo acesso mais prático aos volumes de dinheiro transportados. O grau de organização e divisão de funções entre os membros do grupo mostrou conhecimento operacional e táticas de grupos especializados, fatores atribuídos ao planejamento detalhado de Reynolds.
O que ocorreu após a ação criminosa?
Logo após retirarem os sacos de dinheiro, os integrantes do grupo utilizaram veículos automotivos para a fuga. Em seguida, a polícia iniciou uma série de investigações, contando com pistas deixadas, movimentações suspeitas em propriedades rurais e observações de moradores locais. Um dos principais achados foi uma fazenda em Leatherslade, usada como esconderijo temporário e ponto de partilha do saque.
A estratégia dos criminosos incluía eliminar indícios que pudessem levar à sua identificação. No entanto, alguns descuidos facilitaram o trabalho dos detetives, como impressões digitais esquecidas em objetos comuns, incluindo uma garrafa e um tabuleiro de jogo. Esses detalhes foram cruciais para o rastreamento e prisão de boa parte dos envolvidos, demonstrando a importância do trabalho minucioso da perícia criminal.

O desfecho para os participantes do assalto ao trem pagador
O processo judicial iniciado após a prisão dos suspeitos resultou em sentenças severas. Grande parte dos condenados recebeu penas superiores a 30 anos de reclusão. Destinos distintos marcaram as trajetórias dos criminosos: alguns conseguiram escapar temporariamente das autoridades, migrando para diferentes países. Um dos casos mais notórios foi o de Ronald Biggs, que conseguiu fugir da prisão em 1965 e, depois de passar por vários países, estabeleceu-se no Brasil. Por aproveitar brechas da legislação brasileira e vínculos familiares, Biggs ganhou notoriedade ao evitar a extradição por décadas, tornando-se uma das figuras mais conhecidas ligadas ao caso. Biggs teve um filho no Brasil, Michael Biggs, que ficou famoso nos anos 80 como integrante da banda infantil Turma do Balão Mágico, ao lado de Simony, Toby e Jairzinho.
Bruce Reynolds também viveu anos foragido, sendo capturado apenas em 1968, depois de uma longa perseguição internacional. No âmbito das vítimas, os funcionários do trem sofreram graves consequências físicas e psicológicas decorrentes do episódio. O maquinista, ferido durante o ataque, enfrentou problemas de saúde persistentes até o fim da vida. O caso permanece como uma referência histórica sobre crimes que desafiaram os protocolos de segurança britânicos e serviu de parâmetro para a evolução de técnicas de investigação policial.
- Assalto ao trem pagador: marco na história criminal britânica.
- Planejamento detalhado e uso de tecnologia improvisada no crime, com liderança de Bruce Reynolds.
- Consequências judiciais rigorosas e fugas internacionais marcantes, como a de Ronald Biggs para o Brasil.
- Impactos duradouros no sistema ferroviário e nas vítimas envolvidas.
Mesmo mais de seis décadas após sua ocorrência, o assalto ao trem pagador é frequentemente mencionado como um exemplo emblemático de crimes organizados. O episódio influenciou normas de segurança em sistemas de transporte de valores e permanece como objeto de análise em investigações criminais e estudos históricos.










