A discussão sobre o chamado movimento “woke” vem ganhando espaço nas conversas culturais e políticas desde meados dos anos 2010. Em especial pelo debate sobre diversidade e representatividade. Agora, jornais como o New York Times, Deutsche Welle e The Guardian destacaram que uma “guerra cultural”, impulsionada por disputas políticas — especialmente após a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos —, está provocando uma guinada conservadora em diversos setores sociais. Segundo reportagens, esse movimento começa a reduzir a preocupação com diversidade e inclusão. O fato reflete um ambiente de tensão e retrocesso em relação aos avanços conquistados nas décadas anteriores.
O termo, que surgiu nos Estados Unidos relacionado à conscientização sobre injustiças sociais e raciais, atravessou fronteiras e passou a ser utilizado também no Brasil, onde ganhou nuances próprias. Nas últimas décadas, houve uma evolução perceptível no modo como diferentes grupos sociais têm sido retratados na mídia, publicidade e produções culturais. A cobrança por inclusão e maior visibilidade de minorias, como pessoas negras, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência e outros grupos historicamente sub-representados, levou empresas, marcas e figuras públicas a buscarem posições mais inclusivas. Mesmo assim, a abrangência e a permanência dessas mudanças nem sempre seguem de forma linear, sendo marcadas por avanços e recuos em diferentes países, incluindo o Brasil.

O que significa ser “woke” e como o conceito chegou ao Brasil?
O movimento “woke” nasceu como uma reação ao racismo estrutural nos Estados Unidos. Assim, ele logo se expandiu para outras causas que envolvem equidade de direitos. O termo, utilizado inicialmente para descrever quem estava atento às injustiças, tornou-se rapidamente parte de uma disputa política. Diante disso, ganhou conotação pejorativa em certos espaços. Especialmente quando associado a uma suposta “lacração”. O termo é usado de forma crítica no Brasil para desacreditar discursos ligados à diversidade.
No contexto brasileiro, a narrativa sobre diversidade passou a ocupar mais espaço a partir dos anos 2010. Instituições e pesquisadores como o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa/UERJ) analisaram o crescimento da participação de pessoas não brancas em campanhas publicitárias. Entretanto, embora os números tenham avançado, a representatividade ainda é tímida se comparada à composição demográfica do país. Portanto, isso indica que o movimento, apesar de ruidoso, está longe de abranger toda a sociedade.
A diversidade está realmente perdendo espaço?
A percepção de retrocesso em relação à representatividade é tema de análise em publicações internacionais e nacionais. Estudos recentes indicam que grandes centros culturais, como Hollywood, vêm diminuindo a atenção às pautas de diversidade após anos de aumento progressivo. Surgem termos e fenômenos como “tradwives” e o resgate de padrões estéticos e comportamentais tradicionais em redes sociais.
A discussão ecoa também no Brasil, apesar do impacto ser menor. Casos como a polêmica na escalação de atrizes cis para papéis de mulheres trans mostram que a indústria audiovisual ainda enfrenta desafios para consolidar uma inclusão genuína. O lançamento de manifestos e debates públicos aponta que, por mais que o movimento contrário à diversidade ganhe visibilidade, ele não se tornou dominante no país. Ainda assim, especialistas alertam para o risco de regressão se não houver atenção constante à importância da pluralidade cultural.
Como o mercado e a cultura respondem às mudanças?
O setor de entretenimento e publicidade mostra que investir em diversidade vai além de discurso. Afinal, trata-se também de estratégia de mercado. Pesquisas como o Rainbow Homes, da Nielsen IQ Brasil, registram o poder de consumo da comunidade LGBTQIAPN+, indicando que campanhas inclusivas podem impactar significativamente os lucros. Marcas e produções audiovisuais ainda experimentam retornos expressivos ao apostarem em histórias e elencos diversos, como ilustram cases recentes de sucesso no cinema brasileiro e internacional.
- Filmes que abordam temas plurais atraem públicos variados e expandem o alcance comercial.
- A pluralidade diante e atrás das câmeras reforça o sentimento de pertencimento, potencializando o engajamento dos consumidores.
- Apesar da cautela de algumas empresas, a tendência é que a pressão social por um ambiente mais diversificado siga influenciando as estratégias do setor cultural.
O cenário, portanto, é de destaques positivos e desafios. Se, por um lado, há exemplos de retrocessos pontuais, por outro, observa-se que obras representativas continuam a obter reconhecimento e resultados expressivos, indicando que a busca por inclusão permanece relevante.

O futuro da diversidade: retrocesso ou reconfiguração?
O debate sobre representatividade e presença de grupos diversos nas artes e na cultura não apresenta sinais claros de encerramento ou reversão total. O que se percebe em 2025 é uma fase de ajuste e reavaliação, com diferentes setores e públicos testando novos limites e balizando estratégias diante das pressões políticas e sociais em curso.
A experiência brasileira indica que, mesmo com resistências e manifestações contrárias, a pluralidade segue sendo valorizada por uma parcela considerável da sociedade. A movimentação do mercado, aliada a pesquisas sobre comportamento do público, mostra que a diversidade tende a se consolidar de maneira mais estratégica e menos dependente de tendências ou pressões de momento, tornando-se parte integrante de processos criativos e decisões comerciais.
Independentemente de ondas conservadoras ou críticas à chamada agenda “woke”, o potencial econômico e simbólico da representatividade continua a atuar como força motriz para a inovação e a construção de novos espaços de expressão cultural. O ambiente atual pode ser de cautela, mas não aponta para o apagamento de conquistas, e sim para novos diálogos sobre como e por que representar a multiplicidade da sociedade contemporânea.









