Coronavírus

R$ 1,9 bi para vacina

Presidente Bolsonaro assina medida provisória para compra de 100 milhões de doses contra a covid-19, desenvolvidas pela Universidade de Oxford. A previsão é de que o primeiro lote de imunizantes produzidos no Brasil deva ficar pronto a partir de janeiro de 2021

AUGUSTO FERNANDES e INGRID SOARES
postado em 07/08/2020 00:57

Considerada uma das vacinas mais promissoras do mundo contra o novo coronavírus, a imunização desenvolvida pela Universidade de Oxford, em Londres, vai passar a ser produzida no Brasil a partir de dezembro deste ano. Por meio de medida provisória (MP) assinada ontem, o presidente Jair Bolsonaro liberou um crédito extraordinário de R$ 1,9 bilhão para a aquisição e fabricação de 100 milhões de doses em solo nacional. O texto precisa da aprovação do Congresso Nacional em até 120 dias.

Trinta milhões de doses estarão disponíveis entre dezembro e janeiro, enquanto os 70 milhões restantes chegarão ao Brasil ao longo dos dois primeiros trimestres de 2021. No momento, a vacina está em estudo clínico com voluntários em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia. Como o produto ainda está na fase de testes, o Executivo assumiu parte dos riscos tecnológicos do desenvolvimento da vacina.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o laboratório farmacêutico AstraZeneca, que realiza as pesquisas da vacina em conjunto com a Universidade de Oxford, já assinaram um documento para que toda a tecnologia de produção seja transferida para o Brasil em caso de comprovação de que o imunobiológico é eficaz e seguro. A partir do sinal verde de que a imunização é capaz de combater a covid, o governo espera lançar uma campanha nacional de vacinação entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. “Talvez em dezembro, janeiro, exista a possibilidade da vacina, e daí esse problema estará vencido poucas semanas depois”, disse Bolsonaro, na cerimônia de assinatura da MP.

Segundo o Ministério da Saúde, serão repassados R$ 522,1 milhões à estrutura de Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz produtora de imunobiológicos. O objetivo da pasta é ampliar a capacidade nacional de produção de vacinas e tecnologia disponível para a proteção da população. Cerca de R$ 1,3 bilhão são despesas referentes a pagamentos previstos no contrato de encomenda tecnológica.

“Considero que esse acordo seja um avanço para o desenvolvimento de uma tecnologia nacional e uma concreta demonstração do esforço do governo federal de encontrar as melhores soluções para a proteção da população brasileira”, destacou o ministro da Saúde interino, Eduardo Pazuello.

Ataques a Doria

Durante o evento, Bolsonaro voltou a defender a utilização da hidroxicloroquina no tratamento do coronavírus, culpou governadores e prefeitos pelas medidas restritivas adotadas em meio à pandemia e desdenhou de outra vacina em teste no Brasil, a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biontech em parceria com o Instituto Butantan e que tem o aval do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O acordo prevê imediata produção da vacina tão logo sua eficácia seja comprovada. Serão, inicialmente, 100 milhões de doses. Destas, 60 milhões ficarão no Brasil. As demais serão enviadas a Pequim.

“O que é mais importante nessa vacina (de Oxford), diferente daquela outra que um governador resolveu acertar com outro país: vem a tecnologia para nós. E junto com os meios que nós temos, nós temos como, realmente, dizer que fizemos o possível e o impossível para salvar vidas, ao contrário daqueles que teimam em continuar na oposição desde 2018 e dizerem o contrário”, criticou.

Mais tarde, em live transmitida nas redes sociais ao lado de Pazuello, Bolsonaro continuou falando sobre a pandemia. O presidente mostrou indiferença diante das quase 100 mil mortes pelo novo coronavírus no país e falou que é necessário “tocar a vida e encontrar uma maneira de se safar desse problema”. “Pós-pandemia do HIV, o HIV continua existindo, alguns ainda são contaminados, a maioria se trata e a vida que segue. Assim que vai ser também com o coronavírus”, comentou o presidente.

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Estudo da USP confirma reinfecção

» BRUNA LIMA
» MARIA EDUARDA CARDIM

No combate à pandemia, o novo coronavírus sai na frente diante das altas taxas de transmissão, agravadas pelo desrespeito ao isolamento e pela divergência nos discursos de autoridades. Como se não bastasse, uma nova problemática entra na equação: a possibilidade de uma pessoa contrair a doença mais de uma vez. Ontem, um estudo baseado no caso de uma enfermeira de 24 anos, realizado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que pertence à Universidade de São Paulo (USP), concluiu que, apesar de raros, a reinfecção e o adoecimento por covid em mais de uma ocasião são eventos possíveis.

Em maio, a profissional de saúde da cidade de Ribeirão Preto foi infectada após ter contato próximo com um colega de trabalho doente. A técnica apresentou mal-estar, sensação febril, leve dor de garganta e congestão nasal. Ela chegou a realizar um teste de RT-PCR, que deu negativo. Como os sintomas persistiram, repetiu o exame dias depois e confirmou a infecção. Após apresentar melhoras dos sintomas, a paciente passou 38 dias assintomática e trabalhou normalmente até que, em 27 de junho, acordou com novos sintomas, que se agravaram e se manifestaram de forma mais severa. Ao refazer o teste, a surpresa: estava novamente infectada pela covid.

Recuperados

Com isso, o estudo conclui que a possibilidade de reinfecção de pacientes é possível e “traz implicações clínicas e epidemiológicas que precisam ser analisadas com cuidado pelas autoridades em saúde”. A recorrência do vírus em cidadãos já infectados é investigada desde o início da pandemia e, mais do que nunca, os mais de dois milhões de brasileiros já recuperados da doença não devem, portanto, baixar a guarda. É o que reforça o pesquisador da Fiocruz, Marcelo Gomes. “A gente tem visto cada vez mais casos de pessoas infectadas em algum momento, que tiveram um primeiro quadro e, depois de ter se recuperado, voltam a apresentar sinais de dificuldade respiratória, sintomas, necessitando de novos atendimentos”, declarou.

Por isso, Gomes frisa a necessidade de pautar as ações pensando no pior cenário, já que o futuro, ao se considerar uma doença nova, é ainda mais incerto. “Na pior das hipóteses, ao antever o pior, a gente tem condições de atendimento com mais preparo, ainda que além do necessário. Na abordagem inversa, o custo desse erro são vidas.”

Brasil rumo aos 3 milhões de casos

O Brasil registrou pelo terceiro dia consecutivo, nesta semana, mais de 50 mil casos e mil mortes pelo novo coronavírus. Ontem, mais 53.139 infecções e 1.237 óbitos foram adicionados ao balanço do Ministério da Saúde, que soma 2.912.212 infectados e 98.493 vidas perdidas. Em segundo lugar no ranking mundial de países com mais confirmações e fatalidades pela covid-19, o Brasil prepara-se para ultrapassar a barreira de 3 milhões de diagnósticos positivos e 100 mil mortos. Quem lidera os números da doença no país é São Paulo, com 24.448 óbitos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 13.941 fatalidades.

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