Qual sua avaliação sobre a busca de soluções rápidas para a covid, como cloroquina e até ozonioterapia? Há risco para paciente?
Sim, com certeza. A gente compreende essa busca no sentido de que é uma nova doença. Não existe um medicamento específico que seja ativo contra o vírus, há uma medicação que chegou um pouco mais próximo disso — o Remdesivir, um antiviral, que não temos no Brasil ainda. Estamos nessa busca muito importante, incessante, da qual que faço parte, de buscar uma medicação que seja efetiva, principalmente naqueles pacientes mais graves. Como essa situação avançou de forma muito rápida e é uma doença grave e facilmente transmissível, a gente precisa de uma resposta rápida. Mas, o conhecimento científico tem um tempo para ser gerado. Neste momento, o que temos de transmitir à população é que temos, sim, medidas realmente eficazes e que podem ser implementadas desde agora.
Quais são essas medidas?
O ponto de partida é o acesso ao serviço de saúde. É muito ruim que uma pessoa tenha uma suspeita ou uma confirmação de uma doença e não consiga fazer uma consulta nem para ser avaliada. O acesso ao serviço de saúde é o primeiro ponto, principalmente para as pessoas que têm comorbidade, que têm alguma doença de base, ou as pessoas mais idosas, que precisam ter um fácil acesso ao médico justamente para avaliar a gravidade e acompanhar de perto. Esse paciente de evolução mais rápida, se lhe for oferecida internação, pode ser monitorado de forma mais próxima. Nesse período a gente pode avaliar se ele tem uma necessidade de oxigênio, por exemplo. Se ele sofre de alguma doença de base, temos tratamentos para compensar a doença pulmonar ou doença cardíaca.
O HUB está gerenciando a pesquisa da vacina proveniente de um laboratório chinês, com os primeiros voluntários no DF. Quais são as expectativas?
Tenho grande esperança nas vacinas, mas a gente precisa estar consciente de que vai demorar um pouco. Estamos começando a terceira fase de testes, com aplicação num número maior de pessoas. Os primeiros escolhidos foram os profissionais de saúde, porque estão em contato muito próximo e diário com o vírus. Então, talvez, a gente observe se ela realmente tem um efeito preventivo de forma mais rápida. Mas gostaria de mencionar que, até haver uma comprovação de que essa vacina realmente funciona e até aplicá-la à população, vai demorar um tempo. Enquanto não chega este dia, temos de nos comprometer e aderir às recomendações vigentes.
Como vê a questão da volta às aulas?
Vejo com preocupação. É uma decisão muito difícil. Estamos acompanhando a situação de outros países e vemos que a volta às aulas é um momento delicado porque, naturalmente, as crianças vão ficar expostas, vão entrar em contato entre si. É um ponto de encontro de muita gente e, depois, todo mundo volta para casa. Se houve a decisão de retornar às aulas, é preciso ter capacidade de identificar muito rápido se estão ocorrendo surtos em determinadas escolas; isolar, proteger os profissionais; proteger as crianças, os pais. Temos funcionários vulneráveis também. Muitas vezes os pais têm opção, eu sei que não são todos (os pais), mas muitos têm uma opção ‘vou mandar’, ‘não vou mandar’. Mas, aquele funcionário da escola não tem essa opção. Como proteger aquele profissional é uma situação delicada.
Estamos preparados para oferecer essa resposta rápida?
A gente terá de contar muito com os núcleos de vigilância epidemiológica. Eles deverão ser extremamente atuantes. Na universidade, estamos nos organizando para montar um núcleo de vigilância epidemiológica na comunidade acadêmica. A gente fala muito das crianças, mas 50 mil pessoas circulam por dia na UnB. A gente também está com essa preocupação.
Os governos consideram muito a ocupação dos leitos para saber se há possibilidade de relaxamento. Como estão o HUB e o DF nessa questão?
Sejamos claros: 90% de ocupação é muito alto e muito preocupante. No HUB, por exemplo, em todas as UTIs, um paciente em estado grave fica, muitas vezes, no mínimo, 15 dias. A preocupação com os leitos é essencial porque é preciso garantir que toda pessoa que adoeça tenha acesso a esse leito. Em Brasília, estamos com uma taxa de ocupação elevada, acho isso preocupante. Mas, a preocupação principal é como estão as transmissões, os números de casos novos. Se a transmissão está aumentando hoje, os pacientes que adoecem hoje chegarão à UTI daqui a 15 dias. Então, eu tenho que fazer isso de uma forma muito profissional, para garantir esse acesso. Nosso objetivo não é garantir a taxa de ocupação, é reduzir a transmissão. Vamos lembrar também de todas as pessoas que têm outros agravos, que não são a covid, e que podem precisar também desses leitos de UTI. Então, a gente precisa desses leitos disponíveis.
É uma questão de responsabilidade coletiva, então?
É muito injusto uma pessoa adoecer porque quem está do lado não seguiu as normas de precaução. Eu atendi uma paciente que estava com trabalho presencial. No local de trabalho dela, reduziram a frequência de higienização das superfícies porque havia menos gente trabalhando. Uma pessoa ao lado dela se recusava a usar máscara. Então, ela se cuidava, mas a pessoa que está do lado e com quem ela era obrigada a conviver não se cuidava. É uma questão para a gente pensar: será que essa é a sociedade que a gente quer?
Hoje, às 13h20, o CB.Agro recebe Joe Valle, ex-presidente da Câmara Legislativa e dono da Malunga, a maior produtora de hortaliças orgânicas do país.
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