Estudo da Enap aponta que jovens e recém-nascidos vão sofrer os impactos da pandemia

O estudo aponta, por exemplo, que no caso de jovens que estão ingressando no mercado de trabalho, a tendência é de que tenham uma trajetória laboral menos promissora, com menores rendimentos futuros

Vera Batista
postado em 12/08/2020 00:34 / atualizado em 12/08/2020 10:47
 (crédito: Cris Faga)
(crédito: Cris Faga)

A pandemia da covid-19 afetará em cheio os jovens que estão entrando no mercado de trabalho e os recém-nascidos. Os impactos podem durar anos ou décadas, com fortes prejuízos até mesmo para as próximas gerações. Estudo exclusivo da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), produzido pelo Evidência Express (EvEx), destaca que a crise sanitária tem efeitos imediatos não apenas no setor de saúde, mas também em segmentos importantes como mercado de trabalho, educação, aumento da desigualdade social e da violência doméstica.

O relatório “Covid-19: mitigação dos efeitos de longo prazo”, apresentado pela Enap, tem o propósito de identificar as consequências para a população sempre que o mundo se depara com desastres e pandemias. Busca, também, fundamentar decisões de políticas públicas de governos nas três esferas. A pesquisa compila mecanismos de soluções bem-sucedidos, nessas ocasiões, que podem atenuar esses efeitos de médio e longo prazos.

No total, o relatório apresenta 44 problemas comuns após choques e 26 estratégias de mitigação em cinco grandes áreas: saúde; educação; trabalho e rendimento; pobreza e desigualdade; e violência doméstica. O levantamento foi feito com base nas principais pesquisas em diversas partes do mundo — inclusive no Brasil — após situações inesperadas como gripe espanhola, ebola, terremotos, enchentes e furacões nos últimos 20 anos.

O economista Daniel Lopes, chefe do EvEx, lembra que no início da pandemia os governos ampliaram o número de leitos e respiradores, programas de renda e fecharam as escolas. “Mas algumas áreas não receberam a devida atenção”, aponta Lopes. Como exemplo cita que, nos últimos 20 anos, pela escassez de recursos, as mulheres grávidas, em meio à crise, foram as principais vítimas.

A falta de assistência a esse público causou aumento da taxa de mortalidade, deficiência física das mães e dos bebês, possibilidade de essas crianças, filhas de pandemias, manifestarem diversas doenças e até diminuição da altura. Para os idosos, o chamado grupo de risco, por outro lado, um dos efeitos foi a internação e a mortalidade antecipada. Para reduzir esses efeitos, principalmente na população mais pobre, o estudo indica duas linhas de atuação: a inserção de jovens no mercado de trabalho e os investimentos em programas para mulheres durante o período pré-natal.

“Dado o fundamental papel de mulheres grávidas e o impacto em indivíduos in-utero durante a pandemia, o foco deve recair em programas voltados para essa população. O programa Bolsa Família deve destinar mais recursos para essas mulheres. Os custos dessas intervenções são menores do que os impactos futuros ao longo da vida do bebê exposto à pandemia no período pré-natal”, destaca o economista.

Menor rendimento


O estudo aponta, por exemplo, que no caso de jovens que estão ingressando no mercado de trabalho, a tendência é de que tenham uma trajetória laboral menos promissora, com menores rendimentos futuros. Esse efeito pode ser atenuado não apenas por programas de transferência de renda, como por medidas que incentivem a capacitação e, assim, melhorem as oportunidades de trabalho.

Os responsáveis pelo levantamento não explicam exatamente como, mas indicam que a iniciativa para ampliar as oportunidades não deve se restringir ao setor público. Deve partir, também, do setor privado, empregando essas pessoas com menor qualificação.

Hé também implicações, nessas crises, sobre a pobreza e a desigualdade. Com menos recursos disponíveis, aumenta a vulnerabilidade social: os mais necessitados diminuem os gastos essenciais em alimentação ou há substituição de outros gastos, como saúde e educação. Com isso, fica mais difícil se recuperar aos níveis de bem-estar pré-pandemia.


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