Pantanal registra pior cenário de queimadas, mostra série histórica do Inpe

Dados do Inpe mostram que de janeiro a junho deste ano, bioma teve maior área queimada e maior quantidade de focos de incêndio. No Mato Grosso, um incêndio já consumiu 195 mil hectares

Sarah Teófilo
Maíra Nunes
postado em 14/08/2020 06:00
 (crédito: Rogerio Florentino/AFP)
(crédito: Rogerio Florentino/AFP)

O Pantanal vive o pior cenário de queimadas observando a série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). De janeiro a julho deste ano, foram 4,2 mil focos de incêndios, o maior número da série histórica, que é desde 1998. No caso de área queimada, foram 846,7 mil hectares consumidos pelo fogo - maior quantidade desde 2002, quando sistema passou a mapear. Isso equivale a cerca de 1,1 milhão de campos de futebol.

Há mais de 15 dias, um incêndio no Pantanal que ainda não foi controlado consumiu, só em dois municípios do Mato Grosso, cerca de 195 mil hectares. No Mato Grosso do Sul, Ladário e Corumbá estão em estado de emergência desde 24 de julho. O cenário é grave, tendo em vista que em 16 de julho o governo federal publicou um decreto que proíbe queimadas no Pantanal e na Amazônia por 120 dias. A ação foi uma tentativa de resposta da União a empresários e investidores do Brasil e do exterior que passaram a cobrar de forma mais enfática uma ação por parte do governo para frear o desmatamento e as queimadas no país, em especial na Amazônia Legal (que engloba nove estados).

Especialistas apontam que a redução do volume de chuvas colaborou com o cenário: sem a cheia tradicional do começo do ano no Pantanal, a vegetação ficou bem mais seca, favorecendo as queimadas. Coordenador técnico do MapBiomas, que trabalha em parceria com a ONG SOS Pantanal, Marcos Rosa pondera que existem ciclos climáticos naturais com secas ou chuvas maiores. "A maior preocupação é que a seca que ocorreu neste ano seja o começo de um novo padrão", diz.

Para evitar novas queimadas de grandes proporções, há ações em três níveis que podem ser adotadas, segundo ele. A primeira é manter o uso tradicional da pastagem natural. "Ação que conserva tanto a vegetação, quanto a cultura do pantaneiro", pontua Rosa. A segunda é a preservação das matas dos rios que desaguam no Pantanal. Elas funcionam como um filtro dos sedimentos. Sem elas, os rios do bioma ficam mais rasos, inundando áreas que antes ficavam secas. A terceira é a preservação da Amazônia, pois regula o regime hídrico -- incluindo de chuvas -- de todo o caminho até o Sudeste.

Porta-voz do Greenpeace, Rômulo Batista afirma que o que está acontecendo no Pantanal é uma “catástrofe ambiental”. Ele relata que, de fato, houve menos chuva no bioma, fazendo com que áreas que costumam alagar ficasse mais suscetíveis ao fogo, sem terem alagado. “Mas isso não tira a responsabilidade do governo. Isso já era sabido, tinha que ter investido em um plano de prevenção às queimadas”, ressalta.

Secretária de estado de Meio Ambiente (Sema) do Mato Grosso, Mauren Lazzaretti justifica que duas situações convergiram para o cenário: além da falta de chuva, ela cita o fato de que no Pantanal não havia tido incêndios representativos há mais de 10 anos - ou seja, havia muita biomassa acumulada. Conforme Mauren, o incêndio de grande porte, que já consumiu cerca de 195 mil hectares, começou em uma área indígena, local onde não há restrição de queimada pelo decreto federal. A permissão se deve a uma questão cultural de povos indígenas, para a sua subsistência, como pontuou a secretária.

Questionada, a secretária afirmou que no estado não há ações de fiscalização para observar a construção de aceiros em propriedades particulares, para evitar que o fogo se alastre, como aconteceu agora. De acordo com ela, há orientação aos proprietários rurais, tendo tido recentemente uma transmissão ao vivo realizada pela secretaria com o objetivo de orientá-los. Antes do período de queimadas, a pasta também autorizou a realização de queimadas controladas.

Mauren sustenta que com aceiros (com distância mínima de três metros), o fogo dos últimos dias ainda assim teria se alastrado. De acordo com ela, o vento é tão forte que carrega fagulhas para longe. “Por isso é tão difícil o combate. O fogo pulou cursos d’água”, afirma. A secretária diz ainda que a pasta tem um comitê que acompanha as queimadas, dando o apoio aos órgãos de combate, como o Corpo de Bombeiros.

De acordo com ela, uma verdadeira força-tarefa foi montada, com servidores da secretaria, militares e até servidores do Mato Grosso do Sul, para combater o incêndio que dura mais de 15 dias. Cinco maquinários apreendidos em operações contra o desmatamento neste ano estão sendo usados no combate. A pasta, segundo Mauren, faz um acompanhamento diário via satélite dos alertas de incêndio.

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