Um artigo publicado no International Journal of Infectious Diseases, que tem por base uma pesquisa sobre a cobertura vacinal no Brasil, alerta que o brasileiro está abandonando a imunização e ficando sujeito a doenças graves há muito erradicadas. Para piorar, segundo levantamento, é entre as crianças que os piores números de exposição à falta de proteção se manifesta. Os principais motivos para essa diminuição da cobertura são a desinformação e as notícias falsas –– como as que dizem que as vacinas fazem mal e que o melhor seria a imunização natural, como defendem os divulgadores dos movimentos anti-vacina que se espalham pelo mundo.
“Estamos num momento em que a informação é importante. Se não tiver o esclarecimento, os números (da imunização) podem cair mais. Assim, imunizamos pouco e podemos ter o retorno de doenças erradicadas, como a paralisia infantil, que é algo que não existe há mais de 20 anos. Eu acredito que esse alerta é muito importante”, explica Kiyoshi Fukutani, pesquisador e pós-doutorando do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), que liderou a pesquisa que deu origem ao artigo publicado no veículo científico. “O que a gente aponta neste estudo é, talvez, a falta de popularidade das vacinas”, lamenta.
No Brasil, o calendário de vacinação é estabelecido pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), que foi criado em 1973. Sete anos depois da criação, o PNI organizava a primeira Campanha Nacional de Vacinação contra a poliomielite. De acordo com a pesquisa liderada por Fukutani, apesar da ampla cobertura promovida pelo PNI, que distribui imunizadores gratuitamente e tem cobertura nacional de mais de 90%, a cobertura vacinal cai desde 2013 no Brasil. Além disso, o nível de rejeição à vacina também aumentou nos últimos anos –– por conta de ausência de campanhas e falácias, como a que ligava a vacinação ao autismo.
Os dados coletados na pesquisa, e compilados no artigo acadêmico, indicam que a quantidade de vacinas que o PNI oferece passou de 11, em 1994, para 36, em 2019. “O exame dos perfis de cada vacina específica, oferecida em 2019, revelou que 44,44% apresentaram uma diminuição no número de doses aplicadas, enquanto 22,22% apresentaram aumentos no número de doses, em comparação nos últimos dois anos (2017 e 2018)”, informa o artigo.
Conforme os dados publicados, em 1994 foram mais de 19 milhões de doses de vacinas aplicadas. Em 2014, o número chegou a mais de 125 milhões e foi o maior observado. Porém, os dois anos seguintes tiveram queda e, em 2019, a quantidade de aplicações desceu a cerca de 102 milhões. “Toda vacina é uma doença evitada. Quando há uma quebra na vacinação, pode-se diminuir a possibilidade de essas pessoas serem protegidas. No Norte, temos a reintrodução de algumas doenças que tínhamos erradicado há muitos anos”, aponta Fukutani.
Saúde x Obscurantismo
Segundo o Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde Fiocruz, sete vacinas voltadas para as crianças vêm deixando de ser requeridas pelos pais, em todo o país. Veja quais são os imunizantes e de quanto foi a queda na procura:
Oral de Rotavírus Humano (VORH) — 10%
É dada em duas doses, uma aos dois e outra aos quatro meses de idade. Protege contra as formas graves de infecção causadas pelo rotavírus, que se caracterizam por diarreia muito intensa, vômitos e, muitas vezes, febre. Pode levar à desidratação.
Pneumocócica 10 valente — 7,5%
Aplicada no serviço público de saúde. O pneumococo localiza-se na nasofaringe e pode causar muitas doenças, da otite à sinusite, até formas graves de meningite e pneumonia. A vacina seleciona os dez tipos de pneumococos, chamados de sorotipos, que mais causam infecções graves. Aplicada aos três e aos cinco meses de idade. Uma dose de reforço é dada aos 12 meses de idade.
Hepatite B — 55%
Ministrada com a Pentavalente ou aplicada uma primeira dose isoladamente no nascimento.
BCG — 18%
Tomada em dose única e protege contra as formas graves de tuberculose. Disponível na rede pública e é dada sozinha no nascimento. O imunizante deixa uma cicatriz característica no braço, com cerca de um centímetro de diâmetro.
EsqSeq VIP/VO — 58%
Protege contra a poliomielite e é ministrada sequencialmente: as três primeiras doses (aos dois, quatro e seis meses de idade) é da poliomielite inativada ou VIP; aos 15 meses e aos 4 anos, duas doses da poliomielite oral (gotinha).
Tríplice Bacteriana (DTP) — 29%
Protege contra difteria, tétano e coqueluche. Dada aos dois, quatro e seis meses de idade e reforçada aos 15 meses de idade. Depois, é aplicada na rede pública aos quatro anos de idade (segundo reforço).
Pentavalente (DTP/HB/Hib) — 18%
Oferecida no serviço de saúde pública e contém componentes da tríplice bacteriana. Agrega a vacina Hepatite B e a que protege contra as infecções causadas pelos hemófilos –– que causam formas graves de meningite, pneumonia e infecções da corrente sanguínea.
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