A morte de um paciente que seguia de Mantena para Governador Valadares, ocorrida no Hospital Municipal na madrugada desta sexta-feira (21), ainda continua envolta em situações que precisam ser esclarecidas. Ernandes Fehlberg, de 43 anos, morador de Mantena, conhecido como Nande, sofria de obesidade mórbida e pesava cerca de 250 quilos.
Ele teve o seu quadro de saúde agravado quando, meses atrás, passou a sentir fortes dores abdominais causadas por uma hérnia nos testículos. Nande precisava ser submetido a uma cirurgia urgente para retirada dessa hérnia.
Até chegar a Governador Valadares, Nande passou por dois hospitais – em Mantena e Barra do São Francisco, ES – sem ser atendido, porque a direção desses hospitais alegou não ter condições de fazer a cirurgia emergencial que ele precisava.
De Mantena até Barra de São Francisco, cerca e 11 quilômetros, Nande foi transportado em um caminhão baú. Uma foto dele sendo levado para São Francisco nesse caminhão causou mal estar às pessoas que viram a situação chocante e inusitada.
O secretário municipal de Saúde de Mantena, Ocimar Rufino, disse que a cena também o chocou, mas ele não poderia colocar uma ambulância do município para levar um paciente a uma cidade de outro estado, e que estava fazendo todos os esforços para resolver a situação. “O paciente já se encontrava inserido no sistema de regulação SUS Fácil há quatro dias, tendo recebido negativas consecutivas.”
De Mantena até Governador Valadares, distantes cerca de 140 quilômetros, Nande foi de ambulância, na tarde dessa quinta-feira (20). “O transporte do paciente foi realizado juntamente com uma equipe de enfermagem, e a ambulância era do tipo de UTI Móvel, sendo o que o município pôde ofertar naquele momento”, afirmou o secretário Rufino.
No trajeto, um enfermeiro fez contato com o Corpo de Bombeiros de Governador Valadares e pediu ajuda para a retirada de Nande da ambulância e ser levado até o segundo andar.
No relatório dos bombeiros, consta que uma equipe foi ao Hospital Municipal naquela tarde, mas retornou ao quartel depois de receber a informação de que Nande seria levado para um hospital de Belo Horizonte.
Por volta de 19h, novamente os Bombeiros foram acionados pela Polícia Militar, para que Nande fosse levado ao segundo andar para receber os primeiros tratamentos médicos. Os bombeiros utilizaram a técnica de arrastamento e conseguiram, com muito esforço, colocá-lo na maca e o levaram ao segundo andar. Mas Nande não resistiu e morreu na madrugada de hoje.
Caso antigo
Em julho de 2016, Nande tinha 39 anos, pesava 213 quilos e fez uma rifa para arrecadar R$ 10 mil como forma de custear uma intervenção cirúrgica, com a colocação de um balão intragástrico, que poderia reduzir seu peso em 60 quilos. Somente depois disso é que seria submetido à cirurgia bariátrica. Com o título “Ajude a salvar uma vida”, a rifa foi vendida a R$ 5 reais.
A campanha foi divulgada no portal Mantena Online, em 9 de julho de 2016, em uma matéria que noticiou o drama de Nande. O portal informou, à época, que Nande havia ganhado a cirurgia bariátrica pelo SUS em Governador Valadares, no Hospital Bom Samaritano, mas tinha sido advertido por um médico do HBS que somente poderia ser operado se perdesse 60 quilos em seu peso, por isso havia tomado a iniciativa de fazer a rifa.
Nota
"A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que o paciente Ernandes Fehlberg, de 43 anos, foi encaminhado pela Secretaria de Saúde do município de Mantena, primeiramente para a cidade de Barra de São Francisco, no Espírito Santo, que negou atendimento, e, só depois, para Governador Valadares.
Durante o transporte do paciente com obesidade mórbida, pesando aproximadamente 250 quilos, ou seja, de alta complexidade e com comorbidades, não teve acompanhamento de médico ou de equipe de enfermagem conforme prevê a lei para casos graves como era o dele.
Chegando em Valadares, já no fim da tarde desta quinta-feira (21), o paciente foi atendido no Hospital Municipal (HM), mas não resistiu e faleceu. Lamentamos o ocorrido e nos solidarizamos com a família.
Importante ressaltar que diante da negativa do SUS FÁCIL – sistema gerido pelo governo do Estado que apontou não ter vaga disponível para este atendimento no Hospital Municipal –, o seu encaminhamento correto deveria ter sido para Belo Horizonte, onde receberia o atendimento especializado para o caso."
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