País investiga 20 casos de reinfecção

Hospital das Clínicas e Fiocruz acompanham de perto pacientes que contraíram covid-19 após serem considerados curados. Na avaliação de cientistas, ainda é cedo para definir se reinfecção vai interferir na busca por vacina

BRUNA LIMA MARIA EDUARDA CARDIM
postado em 26/08/2020 00:48 / atualizado em 26/08/2020 01:44
 (crédito: Silvio Avila/AFP)
(crédito: Silvio Avila/AFP)

Após a confirmação do primeiro caso de reinfecção pelo novo coronavírus documentado em uma publicação científica, foi aceso um sinal de alerta no mundo, com a possibilidade de mudar o entendimento da covid-19. Somente no Brasil, que completa seis meses de pandemia, há 20 suspeitas de novas infecções após os pacientes terem sido considerados curados da doença. Cientistas e pesquisadores brasileiros correm contra o tempo para responder a perguntas sobre a conclusão e como ela pode interferir na busca pela vacina.

Os casos brasileiros são investigados pelo Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sendo 16 suspeitas em São Paulo e outras quatro, no Rio de Janeiro. A primeira apuração teve início em agosto, quando um estudo baseado no caso de uma enfermeira de 24 anos, feito pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), concluiu que, apesar de raros, os casos de reinfecção trazem “implicações clínicas e epidemiológicas que precisam ser analisadas com cuidado pelas autoridades em saúde.”

O caso de Hong Kong foi o primeiro a ser publicado em uma revista científica, na segunda, registrando a ocorrência de uma reinfecção por diferentes tipos de linhagem pela covid-19. Ontem, casos semelhantes começaram a aparecer em outros países.

Amostra descartada
No caso da técnica de enfermagem brasileira, “não tivemos a oportunidade de fazer o mapeamento genético no primeiro teste positivo porque a amostra foi descartada. Isso nos impediu de comparar as cepas”, explica o professor da USP que anunciou o estudo nacional, Fernando Bellissimo. A partir da confirmação de reinfecção pelo mundo, a ciência tentará explicar se são casos motivados por uma mutação do vírus que engana o sistema imune das pessoas que já contraíram a doença ou se a reinfecção ocorre porque a imunidade produzida pelo novo coronavírus não dura muito tempo e o mesmo vírus pode infectar a mesma pessoa mais de uma vez. “Possivelmente, as duas coisas estão acontecendo, mas essa é uma pergunta importante que precisa ser respondida nos próximos meses”, ressalta Fernando.

Para o professor da USP, a possibilidade de reinfecção, seja por uma imunidade passageira adquirida pelos pacientes já infectados ou por uma mudança no vírus, é uma ameaça à vacina. “Se o vírus estiver sofrendo mutações pode ser que uma vacina aplicada hoje não seja efetiva daqui a seis meses. Por outro lado, se a imunidade produzida pela infecção natural não for duradoura, possivelmente, a imunidade produzida pela vacina também não vai ser”, analisa, reforçando a necessidade de testagens dos imunizantes a longo prazo.

Imunização
Na avaliação do diretor-adjunto do departamento de Emergências de Saúde da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Sylvain Aldighieri, ainda é cedo para avaliar as consequências da reinfecção nas pesquisas em busca de uma imunização. “Não sabemos que impacto (a reinfecção) poderia ter nos planos de vacina”, afirmou, ontem, em coletiva da organização. Vice-diretor da Opas, o epidemiologista Jarbas Barbosa destacou que “temos mais de 33 milhões de casos da covid-19 e dois ou três casos de reinfecção. É preciso entender o que aconteceu e se é uma mudança no vírus ou no sistema imunológico dessas pessoas”.

O infectologista do Laboratório Exame David Urbaez, por outro lado, defendeu que a reinfecção não é um comportamento surpreendente, já que o mundo está acostumado a lidar com outros coronavírus com caráter endêmico. “É algo que poderia acontecer com qualquer doença viral nova. A reinfecção pode ser precoce, tardia, e são essas características que precisam ser explicadas. Isso traz para vigilância epidemiológica a necessidade de avaliar as reinfecções e caracterizá-las: como é a clínica, o quadro, se a reinfecção tem capacidade de transmissão. Terá de ser montada, então, toda uma máquina de epidemiologia, com dados e capacidade de sequenciamento viral.”

Apesar de as reinfecções aparentemente se manifestarem em uma incidência pequena, abre-se uma nova demanda para os pesquisadores. Em nota, a Fiocruz afirmou estar desenvolvendo pesquisas referentes à reinfecção por covid-19, “ainda em andamento e sem dados conclusivos. Assim que os resultados forem obtidos e publicados, de forma segura, a instituição irá divulgar os dados”.


Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Mais 1,2 mil mortes em 24h

Desde maio, o Brasil perde, semanalmente, entre seis e sete mil vidas para o novo coronavírus. Seguindo o ritmo de altos patamares, ontem, o país registrou mais 1.271 mortes, totalizando 116.580 óbitos pela doença. Ainda que mostre sinais de queda no número de casos confirmados em 24 horas, o país registrou mais 47.134 infectados, totalizando 3.669.995. Desses, 2.848.395 (77,6%) correspondem aos que se recuperaram da covid-19 e 705.020 (19,2%) estão em acompanhamento.

Na 34ª semana epidemiológica, concluída no sábado, foi observada uma alta no número de mortes, em relação à 33ª, com acumulado na casa das sete mil fatalidades (7.018, precisamente). Na anterior, foram registrados 6.755 óbitos. Por outro lado, o número de infecções caiu para a faixa dos 265 mil, após passar quatro semanas na casa dos 300 mil.

Balanço
Dentro do Brasil, a maioria dos estados já acumula mais de mil mortes pela covid-19. Das 27 unidades federativas, 22 integram a lista. Quem lidera o ranking negativo é São Paulo, com 28.912 óbitos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 15.560. Em seguida estão: Ceará (8.339), Pernambuco (7.425), Pará (6.078), Bahia (5.051), Minas Gerais (4.847), Amazonas (3.588), Maranhão (3.377), Rio Grande do Sul (3.161), Espírito Santo (3.068), Paraná (3.062), Goiás (2.839), Mato Grosso (2.591), Paraíba (2.350), Distrito Federal (2.344), Rio Grande do Norte (2.192), Santa Catarina (2.116), Alagoas (1.836), Sergipe (1.808), Piauí (1.741) e Rondônia (1.087). (BL e MEC)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação