Com o país tendo ultrapassado a barreira de 100 mil mortes por covid-19, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, evitou o tom agressivo do Palácio do Planalto e procurou mostrar que a pasta está empenhada em enfrentar a pandemia. Diferentemente do presidente Jair Bolsonaro, crítico contumaz de governdores e prefeitos, o general declarou apoio ao isolamento social e outras ações realizadas por estados e municípios. E ressaltou a necessidade do diagnóstico precoce da doença para evitar novas mortes.
“Medidas preventivas e afastamento social são medidas de gestão dos municípios e estados, e nós apoiamos todas elas porque quem sabe que é o necessário naquele momento precisa de apoio”, afirmou Pazuello, durante a cerimônia de início das operações da Unidade de Apoio ao Diagnóstico da covid-19, localizada na sede da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. O ministro interino, que completará três meses na gestão da pasta no próximo domingo, disse que não é o momento de politizar sobre a pandemia.
“Não existe neste momento diferenças partidárias ou ideológicas. Nós somos todos brasileiros, combatendo dia a dia da melhor forma, nos dedicando para que não haja mais mortos no nosso país”, declarou. Segundo ele, o Ministério da Saúde revê os protocolos de enfrentamento à covid-19 para procurar as melhores alternativas e alterar aquilo que não está dando certo. Uma das principais mudanças ressaltadaS por Pazuello é o diagnóstico precoce da covid.
Além de adotar um discurso oposto ao de Bolsonaro, Pazuello insistiu em uma nova diretriz para o tratamento da covid-19: a importância do diagnóstico precoce. “Não está correto ficar em casa doente com sintomas até passar mal com falta de ar. Isso não funciona, não funcionou e deu no que deu. Nós há dois meses já mudamos esse protocolo”, reforçou o ministro, que indica a procura por unidades de saúde quando o primeiro sintoma for notado pelo paciente. Pazuello afirmou, ainda, que esse diagnóstico pode ser feito de diversas maneiras e não somente pelo testes laboratoriais.
“Qualquer sintoma procure imediatamente um médico e esse médico tem todo o poder soberano de diagnosticar, de forma clínica, clínica-epidemiológica, laboratorial, com exames de imagens e testes”, ressaltou.
Ranking do Planalto
O discurso com viés técnico de Pazuello contrasta com a ação do Palácio do Planalto. Após o Brasil ultrapassar as 100 mil mortes pela covid-19, no sábado, o governo enviou a parlamentares relatório em que cita governadores e prefeitos de locais com o maior número de novos óbitos e novos casos da doença. Ao tentar se eximir das críticas pela condução do enfrentamento do coronavírus, o presidente tem atribuído a responsabilidade do avanço da pandemia a gestores de estados e municípios.
O documento é assinado pela Secretaria Especial de Assuntos Federativos, subordinada ao ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e usa dados do Ministério da Saúde. O relatório interno cita os cinco governadores de estados com mais mortes e novos casos. A lista de prefeitos é feita com base apenas no número de diagnósticos da doença.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aparece no topo das listas de números de casos e de óbitos. O estado ultrapassou 600 mil infectados e 25 mil mortes. Doria é adversário político de Bolsonaro e, durante a pandemia, os dois intensificaram a troca de ataques.
Outros quatro governadores são mencionados: Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul; Rui Costa (PT), da Bahia; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Carlos Moisés (PSL), de Santa Catarina. Na relação de mais mortes por covid, após Doria, aparecem Zema, Leite, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e Costa. O Distrito Federal é citado, mas o nome do governador Ibaneis Rocha (MDB) não é destacado.
Na lista de municípios com mais casos são citados os prefeitos de São Paulo, Bruno Covas (PSDB); do Rio, Marcelo Crivella (PRB); de Salvador, ACM Neto (DEM); e de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT).
Em nota, a Secretaria Especial de Assuntos Federativos disse que o documento tem “o objetivo de monitorar a disseminação da covid-19 nos entes federativos para auxiliar na articulação do governo federal”. Mas não esclareceu por que foram mencionados nomes de governadores e prefeitos.
O Brasil registrou, ontem, mais de 703 óbitos pela covid-19 e 22.048 novas infecções. Segunda nação com mais infectados e vítimas da covid-19 no mundo, o país soma 101.752 mortes e 3.057.470 casos. Apesar do número alto de casos diários de infecções e mortes, houve queda de casos e óbitos ao comparar a última semana epidemiológica encerrada, a 32ª, com a anterior, a 31ª.
Testagem
A Unidade de Apoio ao Diagnóstico da covid-19 é uma iniciativa para dar suporte aos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen). De acordo com a Fiocruz, a unidade pode processar diariamente até 15 mil testes moleculares, conhecidos como RT-PCR, o padrão ouro para diagnosticar a covid-19. A estrutura e equipamentos foram financiados pelo programa Todos Pela Saúde, do Itaú Unibanco, e o Ministério da Saúde custeará a operação. “Sabemos que entre as estratégias para o enfrentamento a esta pandemia a política e a capacidade de testagem são fundamentais hoje e em todas as etapas”, destacou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.