RECIFE

Protesto contra aborto de menina

A menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada por um tio, no Espírito Santo, recebeu a autorização do Tribunal de Justiça local para interromper a gestação, mas terá de concluir o aborto em Pernambuco após médicos do estado natal da criança se recusarem a realizar o procedimento, que começou ontem à noite.

O hospital de Vitória para onde a menina foi encaminhada primeiramente disse que, apesar da decisão judicial, não tinha condições para realizar o procedimento, argumentando que o tempo da gestação da menina está muito avançado — a criança está grávida há, pelo menos, 22 semanas, pouco mais de cinco meses.

Diante da recusa da unidade de saúde, a Promotoria da Infância e da Juventude de São Mateus e a Secretaria de Saúde do Espírito Santo decidiram, então, pela transferência da paciente para Pernambuco, onde há uma equipe disposta e preparada para realizar o aborto.

Por nota, a Secretaria de Saúde de Pernambuco informou que “segue a legislação vigente em relação à interrupção da gravidez (quando não há outro meio de salvar a vida da mulher, quando é resultado de estupro e nos diagnósticos de anencefalia), além dos protocolos do Ministério da Saúde para a realização do procedimento, oferecendo à vítima assistência emergencial, integral e multidisciplinar”. “Frisa-se que todos os parâmetros legais estão sendo rigidamente seguidos para este caso”, reforçou a pasta. A unidade de saúde, no entanto, não informou sobre o estado de saúde da menina e detalhes sobre a conclusão do procedimento.

Confusão
Logo após a confirmação de que a menina seria levada para o Pernambuco, pessoas que são contra a realização do aborto fizeram um protesto na noite de ontem em frente ao Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), onde será feito o procedimento para interromper a gravidez da criança. Eles chegaram a fazer orações em frente ao centro médico e a xingar a menina estuprada e o médico identificado como o responsável por realizar o aborto. Os integrantes do grupo, em sua maioria parlamentares católicos e fundamentalistas religiosos, ainda tentaram invadir o hospital, mas foram barrados pela Polícia Militar.

O caso mobilizou mais discussões nas redes sociais. A ativista de extrema direita Sara Giromini, mais conhecida por Sara Winter, se posicionou contra o aborto. Ela ainda divulgou o que seria o primeiro nome da criança vítima da violência sexual, criticou o médico que se dispôs a realizar o aborto e ainda forneceu o endereço do hospital.