A humanidade aprende a lidar com o novo normal imposto pela pandemia da covid-19, mas os impactos estão longe de ter fim. A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia o surgimento de uma nova onda da doença, que começa a gerar ainda mais repercussões com a chegada de um novo semestre no enfrentamento ao coronavírus. Trata-se das consequências para a saúde mental das pessoas. Com o início do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, triste realidade que ceifa mais de 800 mil vidas no mundo por ano e é colocada em evidência, em especial entre crianças e adolescentes, que vivem a primeira grande crise global já em meio a tantas mudanças naturais das fases.
As alterações características da juventude ganharam traços ainda mais abruptos no contexto da pandemia. “A avaliação que a gente faz é de que esse é um momento de incerteza, de instabilidade, um momento diferente, atípico. Todas essas condições são propícias para promover o adoecimento, a ausência da saúde mental", explica Marisa Helena Alves, conselheira do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e coordenadora a Comissão Intersetorial de Saúde Mental do Conselho Nacional de Saúde (CNS). De acordo com a especialista, é importante saber que cada caso será um. “O isolamento por si só agrava a saúde mental de todas as idades, não existe um grupo específico. Toda mudança brusca e por um longo período pode afetar de alguma forma, não é uma coisa geral, mas algumas pessoas podem sofrer mais que outras”.
Marisa pondera que entre os fatores que podem levar as crianças a terem dificuldades de lidar com o momento está a falta de rotina e de convívio social. “A criança é movida pela rotina. Isso acabou. Ela não está indo para escola, não está encontrando com os coleguinhas, não está tendo uma rede de convívio. A mesma coisa acontece com os adolescentes, que querem manter a vida social, porém isso coloca em risco a saúde deles e de outras pessoas”, pontua. “Para algumas famílias tem sido uma tormenta ficar em casa com as crianças; para outras está sendo uma maravilha. Então, não é um raciocínio matemático. Dependendo do que a pessoa já traz, a qualidade de vida, o olhar que ela tem sobre o mundo e si mesma, ela vai olhar para essa pandemia e tirar aí lições boas ou extremamente ruins”, analisa.
Apatia, perda de interesse por atividades e pessoas que anteriormente satisfaziam a criança e o adolescente, além da recusa em participar do contexto familiar, são alguns sinais de que as coisas não estão bem, alerta a psicóloga infantil Luciana Delella. “É importante observar a baixa autoestima, uma tristeza profunda que possa vir a caracterizar o quadro de depressão, já que nós sabemos que esta é uma das principais doenças que desencadeia o suicídio”, completa a profissional, que, reconhece a importância da Campanha do Setembro Amarelo, mas avalia que é necessário ir além.
“Precisamos falar mais sobre suicídio dentro das nossas casas, falar mais sobre esse tema nas escolas. É importante instrumentalizar os pais para que possam conversar com seus filhos, professores, coordenadores, educadores para que também possam abordar esses assunto tão importante dentro das escolas”, afirma Delella.
Coordenadora de ações para fortalecimento de jovens do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Joana Fontana destaca o papel das instituições não governamentais no fortalecimento da saúde mental com foco na infância e adolescência. “Do atendimento psicossocial à prevenção da morte por suicídio de adolescentes, precisamos pensar em como fortalecer as políticas públicas existentes de uma forma ampla para apoiar governos e garantir que sejam implementadas”, frisa. A análise foi feita durante participação do simpósio promovido pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade sem fins lucrativos de prevenção do suicídio e apoio emocional.
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