EDUCAÇÃO

Ensino básico avança, mostra Ideb, mas a passos muito lentos

Índice passa de 3,8 para 4,2, após várias edições parado ou com melhorias pífias. Ainda assim, ficou longe da meta, que era 5. Resultado mostra evolução do ensino médio, mas desaceleração nos anos finais do fundamental

Sarah Teófilo
Renata Rios
postado em 16/09/2020 06:00 / atualizado em 16/09/2020 06:06
 (crédito: Pixabay/Reprodução)
(crédito: Pixabay/Reprodução)

O ensino médio do país teve o maior crescimento da história no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019, passando de 3,8 para 4,2, após várias edições estagnado ou com avanço de 0,1. Mas, mesmo assim, ficou longe da meta, que era 5 para este ano. Já o desempenho das crianças de 1º ao 5º ano do ensino fundamental desacelerou e aumentou só 0,1, o menor avanço desde 2005, quando houve a primeira medição.

O Ideb é o principal índice que mede a qualidade do ensino no país. É calculado a cada dois anos e reúne os denominadores de dois conceitos: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O índice varia de 0 a 10 e mede o desempenho do sistema educacional a partir do resultado dos alunos nas avaliações de língua portuguesa e matemática no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e da taxa de aprovação escolar. A avaliação é feita ao final do 5º e do 9º anos do ensino fundamental, e do 3º ano do médio.

Todos os estados melhoraram as notas de português e matemática no ensino médio. Porém, as únicas unidades da Federação que bateram as metas foram Pernambuco e Goiás. Coordenador do Núcleo de Inteligência da organização Todos pela Educação, Caio Sato observa que os estados que se destacaram no avanço nesta faixa são, em sua maioria, aqueles que vinham apresentando bons resultados em etapas anteriores — ele cita Ceará, Paraná, São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal, que não atingiram meta, mas tiveram melhorias.

Para Caio Sato, apesar das diferenças de estado para estado, um traço comum é que focaram suas políticas na aprendizagem, tentando dar alguma prioridade na profissionalização dos docentes e na gestão escolar. Apesar do avanço no nível médio, ele destaca que o patamar ainda é crítico e distante da meta esperada para 2020.

Sobre Goiás e Pernambuco, ele afirma que o segundo tem sido um caso de sucesso importante pelo modelo de ensino médio em tempo integral. No caso goiano, há consistência nas políticas públicas, como uma boa política de reposição de aulas. “Várias pequenas ações ajudam o estado a ter destaque”, afirma.

Aulas noturnas


Outro ponto que chama a atenção é a quantidade de alunos no ensino médio que buscam aulas noturnas. São 1,3 milhão de estudantes, num total de 7,5 milhões de alunos no ensino médio. Para o diretor de Estatísticas Educacionais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Carlos Moreno, um dos motivos que leva a esta situação é a trajetória irregular que faz com que o aluno chegue numa idade mais avançada ainda neste estágio educacional.

Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), Catarina de Almeida avalia que muitos estudantes, quando chegam no ensino médio, começam a trabalhar. Para ela, os índices das séries iniciais são melhores porque é quando o professor trabalha todo o processo. “Quando vai mais para frente, esse processo vai se fragmentando, e os resultados vão piorando”, observou.

Já as escolas particulares não bateram a meta em qualquer das etapas de ensino, e também avançaram menos que as públicas. Nos anos iniciais e finais do ensino fundamental, por exemplo, o índice das instituições privadas ficou parado, ao passo que nas estaduais, municipais e públicas houve aumento.

Crescimento pequeno


No caso do ensino fundamental, os anos iniciais (1º a 5º) conseguiram atingir a meta estipulada pelo Ideb, marcando 5,9, mas o crescimento foi pequeno em relação a 2017, quando foi 5,8. Esse é o menor crescimento registrado desde 2005. Já no caso dos anos finais (6º ao 9º), a meta não foi alcançada — seguindo tendência que vem desde 2013. Além disso, o indicador de rendimento caiu de 2017 para 2019, de 0,97 para 0,90.

Carlos Moreno ponderou que há uma melhora nos anos iniciais do ensino fundamental em relação aos anos anteriores, mas há uma diminuição no avanço, comparado ao que o país vinha apresentando. Já Caio Sato avalia que este crescimento pequeno dos anos iniciais é um sinal de alerta. “É um ponto de atenção, que o ritmo que a gente vinha traçando nas últimas edições acabou arrefecendo um pouco”, ressaltou.

Os resultados mais baixos ficaram com a região Norte. Tanto o Pará quanto o Amapá obtiveram 4,9 no Ideb em relação aos primeiros anos do ensino fundamental. Apesar do desempenho, o Pará conseguiu ficar acima da meta estipulada para o estado.

Em relação aos anos finais, que teve índice abaixo da meta, o resultado foi de crescimento em 22 das 27 nas unidades da Federação. Só sete atingiram a meta: Amazonas, Piauí, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Paraná e Goiás. Carlos Moreno explicou que os objetivos para cada estado são diferentes, a depender do estágio educacional em que cada rede estava em 2005. O DF e o Rio Grande do Sul, por exemplo, mesmo com resultados representativos e acima da média nacional, nos anos iniciais do ensino fundamental não conseguiram atingir as próprias metas.

Ministro reafirma alinhamento

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse ontem ter sido escolhido para o cargo por estar de acordo com “valores” e “princípios” propostos pela gestão Jair Bolsonaro, mas afirmou estar aberto ao diálogo com secretários estaduais e municipais. A declaração foi na coletiva de divulgação dos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2019, que mostram avanço inédito do ensino médio, mas desaceleração do crescimento nos anos finais do fundamental. No evento, o MEC informou que ainda estuda como avaliar impactos da pandemia na aprendizagem dos alunos do Brasil, mas ainda não há plano traçado para fazer um diagnóstico. Segundo educadores, o período prolongado de fechamento das escolas deve aumentar a defasagem de aprendizagem de grande parte dos alunos, especialmente os mais vulneráveis, e também eleva o risco de evasão.

Números denunciam abismo entre estados


Apesar das melhoras, há um abismo educacional no país. Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) apontam que o Amazonas tem as piores notas de matemática (251,7) e língua portuguesa (258,62), enquanto o Espírito Santo tem as melhores –– 298,49 na primeira e 293,14 na segunda.

Na escala de língua portuguesa, por exemplo, os capixabas estão no nível 3, um nível acima dos amazonenses. Na de matemática, a mesma situação: estão um nível acima dos do Norte do país.

Avaliando os anos iniciais do ensino fundamental (1º a 5º), o Amapá tem o pior desempenho em matemática (202,83) e São Paulo tem o melhor (245,83). Enquanto o primeiro está no nível 4, o segundo está no 5.

Na nota de língua portuguesa, o pior desempenho é do Maranhão (191,77), enquanto o Distrito Federal teve o melhor (230,26). Significa que os alunos do DF conseguem diferenciar opinião de fato em reportagens, enquanto os estudantes do Maranhão, não.

No caso dos anos finais (5º ao 9º ano), o Amapá também tem a pior nota de matemática (238,87), enquanto Santa Catarina tem o melhor desempenho nesta disciplina (275,57). Neste caso, os alunos catarinenses estão no nível 4, enquanto os amapaenses estão no nível 2. (RR e ST)

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