epilepsia

Brasileira alega acidente e fica impedida de voltar ao Brasil depois de atropelar garota em Londres

A estudante de enfermagem Gardene de Carvalho alega ter sofrido uma crise epilética ao volante do carro, mas a Justiça britânica confiscou os documentos dela até o caso ser esclarecido. Vítima de 13 anos morreu horas depois

Gabriel Ronan/ Estado de Minas
postado em 17/09/2020 16:44
 (crédito: Arquivo Pessoal )
(crédito: Arquivo Pessoal )

Um pesadelo tomou conta da vida da mineira Gardene de Carvalho, de 42 anos, desde 29 de junho. Moradora de Londres há 17 anos, a vida da estudante de enfermagem mudou naquela data. Era por volta das 21h, no horário local, quando ela voltava para casa, empolgada com notícias do namorado, que havia avançado na luta pela conquista da cidadania britânica. No caminho, sem mais nem menos, disse a mulher ao Estado de Minas, ela apagou na direção – após sofrer uma crise de epilepsia, fato inédito em sua vida, apesar do acompanhamento rotineiro de médicos. Quando a belo-horizontina retomou a consciência, viu Victoria Carson, de 13, caída ao solo, ferida gravemente.

A pré-adolescente morreu atropelada pelo Fiat 500 branco conduzido pela mineira na Avenida Longmore, no subúrbio de Barnet, em Londres. Victoria chegou a ser socorrida, mas perdeu a vida ao sofrer graves lesões na cabeça e no peito. Ao lado dela, a irmã Isabella Carson, 15, escapou sem ferimentos. As duas haviam saído para comprar chocolates perto de casa.

Desde então, a vida tranquila vivida na capital inglesa se tornou um inferno para a Gardene de Carvalho. A advogada dela, Támita Rodrigues Tavares, assumiu o caso nos últimos dias. Ela alega que sua cliente teve todos os seus documentos confiscados pela Justiça britânica. “Ela quer voltar ao Brasil, mas hoje pode ser enterrada como indigente em Londres. Ela não tem documento algum. A Gardene ficou 36 horas presa e só foi liberada depois de repassar os documentos”, relata. A detenção aconteceu por “morte causada por direção perigosa”.

Em depoimento à polícia, que o EM teve acesso, Gardene conta que tinha pressão baixa às vezes, mas relata ter muitas dores de cabeça. Ela passou por exames para constatar o uso de drogas e álcool naquela noite de 29 de junho, mas nada foi constatado.

NOTA DA DEFESA

Em nota, os advogados de defesa, Támita Tavares e Alexandre Lima, disseram estar confiantes na inocência da cliente, classificando o caso como fatalidade. “Gardene de Carvalho, cidadã brasileira, atualmente residindo em Londres (Inglaterra), vem a público, informar que as acusações proferidas pela Justiça Inglesa serão plenamente combatidas, assim como as explícitas violações aos direitos humanos da brasileira supracitada, especialmente, por ter tido todos seus documentos de identificação ilegalmente retidos pelo Governo local. Foi uma fatalidade não um crime. Nós acreditamos na sua inocência e comprovaremos ao decorrer do procedimento. Vamos acionar o consulado (do Brasil em Londres) e alegar a inocência dela. Ela nunca se envolveu em um acidente e sempre foi ao médico. Nunca soube que tinha epilepsia. Foi uma fatalidade”, afirmam os advogados.

O caso repercutiu na imprensa britânica. Ao jornal Daily Mail, os pais da pré-adolescente Victoria Carson se posicionaram. "Nossa família está devastada pela perda da nossa linda filha, que nos deu tanta alegria e deleite em nossas vidas. Victoria era amada carinhosamente por muitos de seus amigos, com quem ela compartilhava muitas brincadeiras, especialmente cuidar de gatos e jogar tênis”, escreveram Gary e Roxana Carson.

O veículo Fiat 500 passou por perícia após o fato. Conforme o relatório de acusação ao qual a reportagem teve acesso, não foi constatada irregularidade alguma. Sobre um possível uso do celular no momento da ocorrência, fato que é negado pela mineira, a polícia informa que não havia cabos ou Bluetooth ativados no momento naquela noite.

A reportagem procurou o Ministério das Relações Exteriores para obter posicionamento, mas o Itamaraty não se manifestou até o fechamento desta edição. A pasta, no entanto, informou que apurava o caso para dar seu ponto de vista.

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