Agência Estado
postado em 02/10/2020 20:25
O novo diretor do Inpe, o especialista em geofísica espacial Clezio Marcos De Nardin, convidou o presidente Jair Bolsonaro a visitar o instituto com o intuito de convencê-lo da qualidade de sua pesquisa e dos dados produzidos.
"Tenho certeza que se o presidente vier aqui ao Inpe, se tivermos oportunidade de explicar a jóia rara que temos aqui? Tenho certeza que essa percepção muda. Tenho convicção de que consigo mostrar para o presidente a qualidade do Inpe. E estou convencido que o Inpe é uma das melhores instituições do mundo", disse Nardin em sua primeira entrevista coletiva, concedida na tarde desta sexta-feira, 2.
A declaração foi feita após ser questionado sobre como pretende lidar com as críticas seguidas que o instituto vem sofrendo por parte do governo federal. Nardin, que foi nomeado nesta sexta-feira, 2, ao cargo pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, defendeu que falta fazer uma boa propaganda sobre o que o Inpe faz como forma de conter críticas e até mesmo evitar perda de orçamento.
A escolha dele encerra um período de mais de um ano em que o militar Darcton Damião esteve à frente do órgão de modo interino, após a exoneração do físico Ricardo Galvão.
Desde o ano passado, o Inpe já foi acusado pelo governo de apresentar "dados mentirosos", de ter "oposicionistas" lá dentro, de não fornecer dados na qualidade ou velocidade que seriam necessárias para conter o desmatamento. Ao mesmo tempo em que surgem propostas de compra de novos satélites ou a criação de uma nova agência para assumir funções que hoje são do Inpe.
Nardin repetiu diversas vezes na coletiva algo que já tinha dito mais cedo ao Estadão: que sua função é técnica, científica, e não política. E que será desse modo que ele pretende responder a eventuais questionamentos.
Ele buscou adotar um tom ponderado em relação a iniciativas anunciadas ao longo deste ano que indicavam uma desvalorização do Inpe, como o projeto do Ministério da Defesa de contratar um novo satélite ao custo de R$ 145 milhões; e a proposta do vice-presidente, Hamilton Mourão, de criar uma nova agência para centralizar o monitoramento por satélite no Brasil.
"Todo o meu respeito ao Mourão. Ele está no papel dele, pode fazer o que quiser. Se ele fizer uma agência para cuidar da Amazônia, o Inpe não tem problemas com isso e não sai enfraquecido, porque o corpo técnico? Quem formou boa parte das pessoas que trabalhariam nessa eventual agência serão ex-alunos do Inpe ou ex-funcionários do Inpe. Nós temos a tecnologia", disse.
"O governo tem o direito de tomar a posição política que achar mais adequada. O meu papel é cumprir a missão institucional do Inpe. E entre essa missão está fazer pesquisa no ambiente espacial, que envolve olhar para a Terra e fazer pesquisa que envolve o monitoramento da Amazônia. Temos o que há de melhor do País nessa instituição. Com todo o respeito, se o vice-presidente general Mourão quiser fazer, terá todo o nosso apoio. Ajudaremos a fazer a agência que ele propõe. Mas as pesquisas serão feitas nas universidades ou no Inpe."
Sobre o satélite, ele também repetiu que se trata de um direito do Ministério da Defesa. "Se a Defesa entende que precisa ter satélite para ela, deve ter justificativa, tenho certeza que tem. Mas vamos nos aproximar, explicar o papel que o Inpe faz. Convido todos a virem aqui. Estamos abertos. Venham ver o que a gente faz. Se não atende os interesses da Defesa, podemos ajudar a especificar, podemos participar. Me coloco à disposição. Não confronto, mas me coloco como parceiro, no que for preciso."
Ainda sobre as críticas, complementou: "Se alguém acha que não está bom, é sinal de que não nos comunicamos adequadamente, mea culpa. Convido todos que venham conhecer nosso modelo."
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