Desmatamento

Mourão: ataque ao país é "questão ideológica"

Para vice-presidente, críticas internacionais feitas a Bolsonaro são mais motivadas por "choque ideológico", do que "pelo que está ocorrendo efetivamente". Ele afirmou que pretende continuar com operações na Amazônia até 2022

Correio Braziliense
postado em 06/10/2020 01:03
 (crédito: ROMERIO CUNHA)
(crédito: ROMERIO CUNHA)

Ao falar sobre as críticas internacionais que o Brasil tem recebido devido ao aumento da degradação ambiental, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse, ontem, que há uma situação de choque ideológico no mundo. “Na minha visão, existe muito mais um ataque ao país na pessoa do presidente Jair Bolsonaro, pelas questões ideológicas, do que pelo que está ocorrendo efetivamente (na área ambiental)”, defendeu.

Mourão afirmou que entre 2000 e 2018, o desmatamento na Amazônia foi alto — uma média de 15 mil quilômetros quadrados por ano, segundo dados do IBGE —, “e todo mundo ficou em silêncio". “Não tinha ninguém reclamando. Porque só estão reclamando agora? Agora está pior? Não. O desmatamento continua, evidentemente, não é nada que a gente possa dizer que está uma maravilha, mas está abaixo deste número de 15 mil km²”, disse, em entrevista à Rádio Eldorado.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada no mês passado apontou que a Amazônia perdeu, de fato, 265.113 km², o que dá quase 15 mil km² por ano. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), contudo, indicam uma tendência de aumento no desmatamento. Em 2018, foram desmatados na Amazônia 7,5 km². Já em 2019, o número saltou para 10,1 km².

Como presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, o vice-presidente assumiu o debate sobre o bioma — mais que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Na semana passada, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), presidido por Salles, revogou resoluções que protegiam as áreas de manguezais e de restingas. A validade da votação foi suspensa 24 horas depois pela Justiça Federal do Rio de Janeiro, e, no último sábado, voltou a ter validade, com a decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, atendendo ao pedido da Advocacia-Geral da União (AGU).

Diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar afirma que as críticas internacionais ao Brasil são fruto das ações do governo brasileiro. “Não dá para mentir sobre os dados de desmatamento e fogo. A represália que o governo Bolsonaro está recebendo do governo internacional é uma represália aos próprios atos dele”, justificou.

Teto de gastos
Mourão disse ainda, durante a entrevista, que uma eventual doação de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 112,7 bilhões) para o orçamento brasileiro, com o objetivo de ser aplicado na preservação ambiental, não adiantará nada enquanto houver teto de gastos. “(US$ 20 bilhões) É um número excelente, mas, se for entrar direto no nosso orçamento, enquanto tiver o teto, ele não adianta nada”, pontuou.

A afirmação do vice-presidente é relativa ao debate presidencial dos Estados Unidos, na semana passada, que gerou grande alvoroço no Brasil após o candidato Joe Biden se comprometer a angariar, ao lado de outros países, US$ 20 bilhões e repassar ao país para investimento na preservação ambiental. O oponente do presidente Donald Trump também ameaçou represálias econômicas à nação se não houver redução da degradação.

Mourão frisou que é preciso que os investidores do setor privado invistam de forma direta em ações de preservação da Amazônia, para evitar a inclusão no orçamento e problemas com o teto. “Temos de trabalhar junto ao setor privado para que o setor privado invista diretamente, sem intermediação, quando muito, usando projetos dos estados da Amazônia Legal, porque esses não são impactados pelo teto de gastos”, insistiu. O teto de gastos é uma regra que impede o crescimento das despesas do governo acima da inflação.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro


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