Meio Ambiente

Guardiões da Floresta lançam campanha internacional pela Amazônia

Um membro dos Guardiões, Tainaky Guajajara, viajou para Europa com objetivo de reforçar as denúncias contra a exploração comercial de seu território e o aumento da violência sofrida pelos indígenas no Brasil

Agência France-Presse
postado em 06/10/2020 15:17 / atualizado em 06/10/2020 15:20
Árvore no Museu da Amazônia, em Manaus, Amazonas, Brasil. -  (crédito: Sarah Paes/Esp.CB)
Árvore no Museu da Amazônia, em Manaus, Amazonas, Brasil. - (crédito: Sarah Paes/Esp.CB)

O grupo Guardiões da Floresta, nascido na Amazônia brasileira, lançou uma campanha internacional contra a exploração comercial de seu território impulsionada pelo governo de Jair Bolsonaro, abordando o tema como uma emergência.

"O que o presidente fala é muito ruim para o nosso povo em geral, porque é claro que o que ele quer é explorar o ouro, as madeiras, tudo o que é rico, natural. Quer acabar com a floresta para plantar soja", queixou-se Tainaky Guajajara, membro dos Guardiões, em entrevista por telefone do Reino Unido.

"Isso vai ser um genocídio de todos nós, a destruição total", acrescentou.

Guajajara, de 35 anos, viajou à Europa para reforçar as denúncias dos Guardiões, uma frente de indígenas formada em 2012 no estado do Maranhão para tentar impedir a entrada de madeireiros e mineradores ilegais em seu território. Entre o fim de 2019 e o começo de 2020, vários Guardiões foram assassinados.

"Recebemos constantemente ameaças de morte dos madeireiros. Cinco de nós foram assassinados, mas continuamos lá, porque a floresta é a nossa vida. Sem ela, todos morreremos", diz o manifesto da campanha.

Paulino Guajajara, primo de Tainaky, foi assassinado em novembro de 2019, numa emboscada armada por madeireiros na terra indígena Arariboia, localizada a cerca de 500 km de São Luís. Tainaky estava com ele e foi baleado nas costas e no braço.

Autoridades prometeram, na ocasião, levar os responsáveis à Justiça, o que não aconteceu. "O Estado falou que iria resolver, mas, até agora, nada cumprido. Ninguém foi preso pela morte do Paulino", lamentou Guajajara, assinalando que os Guardiões, que reúnem cerca de uma centena de indígenas, chegaram a interromper suas rondas de vigilância a pedido de autoridades, que lhes disseram que esta era uma tarefa das equipes de segurança oficiais.

Recentemente, o grupo voltou a patrulhar os limites de suas terras, segundo Guajajara. "É uma luta que não acabará nunca, não adianta ter medo. Fico triste e com raiva ao mesmo tempo. Eles criam a lei para proteger a vida e não cumprem seu papel. Não respeitam nossa forma de viver, acho que pensam que não temos alma, sentimentos. Deixem nosso povo viver em paz, respeitem os nossos direitos", pediu.

'Tomar tudo'

Os casos de violência contra indígenas brasileiros aumentaram 150% em 2019, passando de 110 a 276, segundo relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

"A intensificação das expropriações de terras indígenas através da invasão, da ocupação ilegal por parte de estranhos à comunidade (...) consolida-se de forma acelerada e agressiva em todo o território nacional, causando uma destruição incalculável", assinala o documento, acrescentando que muitos agressores se sentiram encorajados pela chegada de Bolsonaro ao poder.

Para Guajajara "só haverá mudança se todos os indígenas lutarem por suas terras, porque, se formos esperar por qualquer governo, não adiantará. A intenção deles é tomar tudo, pode ser Bolsonaro ou um novo presidente, a intenção é sempre essa."

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