PANDEMIA

Corrida politizada por vacina contra covid

Bruna Lima Renata Rios
postado em 17/10/2020 00:52
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Enquanto o mundo anseia por uma vacina contra a covid-19, o cenário brasileiro de combate à pandemia continua demonstrando traços politizados, com a troca de farpas entre o Governo de São Paulo e o presidente Jair Bolsonaro. O motivo mais recente tem no centro da discussão a não inclusão da vacina chinesa Coronavac no cronograma de vacinação contra o novo coronavírus apresentado pelo Ministério da Saúde esta semana. A decisão provocou insatisfação entre os membros do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Apesar do recuo da pasta, o governador de São Paulo, João Doria, aproveitou a polêmica para enfatizar a defesa da candidata chinesa, negando, contudo, qualquer motivo eleitoreiro por trás da corrida por um imunizante. E declarou, ainda, a obrigatoriedade da vacina no estado.

O Ministério da Saúde descreveu como um mal-entendido a suposta exclusão da Coronavac, da farmacêutica Sindovac com parceria do Instituto Butantan. Diante da mudança no cronograma de vacinação, São Paulo prevê anúncios otimistas, sobretudo pela longa parceria firmada com o Instituto Butantan. “Será que agora deixou de ser o Instituto Butantan que foi ao longo de três décadas? Será que agora que tem a vacina, o governo federal vai negá-la aos brasileiros que precisam dela para ter suas vidas preservadas? Não. O que depender do Governo de São Paulo, não”, provocou Doria, ontem, dizendo esperar uma visão “republicana, científica e técnica” dos representantes do Executivo Federal na tomada de decisões contra a pandemia.

Questionado sobre o uso da vacina como um mecanismo político, o político rebateu: “Por parte do governo de São Paulo, não há e não haverá nenhuma politização quanto ao tema da vacina. Como não houve, também, na questão da pandemia”, afirmou Doria, dizendo esperar o mesmo do governo. “A cada dia sem vacina no Brasil, mais 700 pessoas perdem a vida (veja ao lado). Não é razoável imaginar que o governo vá politizar o tema da vacina ou colocar ideologia, visão partidária ou eleitoral em cima daquilo que salva vidas”, disse.

Doria aproveitou a confusão, contudo, para atacar o presidente. “São Paulo não é negacionista, compreende a dimensão e o perigo do coronavírus desde o início”, pontuou, ressaltando que “(São Paulo) foi o primeiro estado a tornar obrigatório o uso de máscara, com multa, sobre críticas do presidente. Foi o estado que determinou que não se utilizaria a cloroquina, como recomendação feita pelo presidente Jair Bolsonaro como forma de preservar vidas, porque não preserva”.

Insegurança
David Urbaez, infectologista do Laboratório Exame, pontua que a ideologização da vacina é extremamente prejudicial, pois gera um cenário confuso e deixa as pessoas inseguras. “Começa a se ter ali, nessa briga de poder pela ideologia de um, pela ideologia de outro, um vácuo em uma situação tão delicada e tão tensa como é a esperança que se tem na vacina, que já é, por si só, uma esperança superestimada”, avalia o médico. “Num primeiro momento, nós não vamos ter um impacto gigantesco de vermos, primeiro, todo mundo vacinado e, segundo, no dia seguinte, a queda ou o desaparecimento do vírus”.

O especialista ressalta, também, a importância de evitar que disputas como essa prejudiquem a população. O infectologista relembra que a vacina de Oxford não teve os estudos retomados nos Estados Unidos, “pois o FDA não aceitou, ainda, todos os dados que a AstraZeneca forneceu e está esperando, então, novos dados para recomeçar o ensaio”. Segundo ele, “é muito difícil que, se a vacina ainda não teve essa liberação para o andamento do seu ensaio, nós tenhamos resultados antes, aqui, no Brasil”.

Mais de 5,2 milhões de infectados
O Brasil ultrapassou, ontem, a triste marca dos 5,2 milhões de infectados. Em apenas 24 horas foram registrados 30.914 casos da doença e 754 mortes. Ao todo, o número de óbitos no país chega a 153.214. No momento, 427.526 pessoas estão em acompanhamento e 2.323 em investigação. As unidades federativas com mais de mil mortes são: São Paulo (37.870), Rio de Janeiro (19.654) Ceará (9.199), Pernambuco (8.469), Minas Gerais (8.345), Bahia (7.267), Pará (6.67o), Goiás (5.348), Rio Grande do Sul (5.312), Paraná (4.913), Amazonas (4.305), Maranhão (3.914), Espírito Santo (3.704), Mato Grosso (3.649), Distrito Federal (3.526), Paraíba (2.977), Santa Catarina (2.962), Rio Grande do Norte (2.547), Piauí (2.269), Alagoas (2.167), Sergipe (2.124), Mato Grosso do Sul (1.478), Rondônia (1.421), Tocantins (1.035). Apenas três estados registram menos de mil vidas perdidas pela covid-19 cada: Acre (679), Amapá (730) e Roraima (680).

 

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