Em reunião com governadores, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, assinou protocolo de intenção para adquirir 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina chinesa desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan. As doses serão compradas após aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o Palácio dos Bandeirantes — sede do governo de São Paulo, estado onde fica o Butantan —, a expectativa é adquirir o produto até o fim do ano e iniciar a vacinação nacional em janeiro.
A decisão encerra especulações indicando que poderia haver uma resistência do governo federal em comprar as doses da vacina por causa de divergências entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador paulista, João Doria (PSDB).
O potencial imunizante da vacina está em fase final de testes, mas se mostrou seguro nos procedimentos realizados desde o fim de julho.
Somadas, CoronaVac, AstraZeneca e Covax totalizam 186 milhões de doses a serem disponibilizadas pelo governo federal no primeiro semestre do próximo ano. As vacinas desenvolvidas por Butantan-Sinovac e AstraZeneca estão em etapas avançadas de produção, ambas em fase III. Nessa etapa, é comparado o número de pessoas vacinadas com igual quantidade de pessoas que não receberam o imunizante para avaliar se há redução real da doença.
Questionado sobre o tempo que deve levar para a conclusão dessa etapa de testes, o coordenador executivo do Centro de Contingência da Covid-19 do Governo de São Paulo, João Gabbardo dos Reis, explicou, em coletiva de imprensa na segunda-feira, que a etapa de testes na qual se encontra a CoronaVac não tem como ser acelerada, pois é preciso atingir o número mínimo de 61 voluntários infectados no estudo duplo-cego para se obter os resultados.
“O estudo deseja aumentar a velocidade, no entanto, a transmissibilidade da doença entre os trabalhadores da saúde tem diminuído devido às medidas eficazes que foram colocadas. Isso tem de ser entendido por todos, temos de aguardar a transmissibilidade da doença para ter o número mínimo de transmissibilidade”, pontuou.
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, esclareceu que, no momento, os voluntários habilitados a participar são os profissionais de saúde acima de 18 anos que trabalhem em meio à covid-19, em contato direto com pacientes infectados.
Distrito Federal
O vice-governador do Distrito Federal, Paco Britto, participou da reunião representando o Executivo local. Ele parabenizou Pazuello. “Um dia muito importante no calendário de 2020 que reacende a esperança em todo o país e, em especial, nos moradores de Brasília, que esperam, ansiosamente, pela vacina”, afirmou Britto à Agência Brasília.
Também participante da reunião, o secretário de Saúde, Osnei Okumoto frisou: “O mundo todo espera pela vacina. E ela virá como um presente de Natal para o mundo e, em especial, para Brasília. Mas, até lá, vamos continuar enfrentando a pandemia com seriedade e responsabilidade”.
O governador João Doria, por sua vez, se manifestou pelas redes sociais: “Venceu o Brasil”, escreveu. A publicação vem acompanhada de um vídeo, em que Pazuello comenta sobre a aquisição. Em outra postagem, o governador de São Paulo destaca: “Meus cumprimentos ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pela aprovação da compra da vacina do Butantan contra a Covid-19. Um gesto correto para salvar vidas”.
Em vídeo, ele disse, também, que a “aprovação feita foi uma vitória da vida, da solidariedade”. “Parabéns pela atitude, pelo posicionamento. O Brasil precisa disso, de paz, de união, integração e a vacina para salvar os brasileiros”, concluiu.
Na segunda-feira, Bolsonaro criticou Doria sobre a declaração acerca da obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19 no estado. O presidente afirmou que a Constituição não prevê tal medida e que cabe a cada brasileiro decidir. O chefe do Executivo insistiu: “O meu ministro da Saúde já disse que não será obrigatória essa vacina e ponto final”, disparou.
Bolsonaro disse que Doria “está pensando em tudo, menos na saúde e na vida”. Ele acusou o tucano de levar terror à população. Por sua vez, o governador afirmou que “o Brasil precisa de paz, amor e vacina para salvar os brasileiros”. “Entendo que a vacina deve ser aplicada a todos os brasileiros, para salvar a vida de todos”.
Doria desembarcará em Brasília, hoje. Ele deve ir ao Congresso, acompanhado do secretário de Estado de Saúde, Jean Gorinchteyn; do secretário especial do Governo de São Paulo em Brasília, Antonio Imbassahy; e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. Anvisa e Supremo Tribunal Federal também estão na lista de visitas.
*Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa
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661 mortes em 24 horas
O Brasil registrou 661 novas mortes por covid-19 em 24 horas. Com isso, chega a 154.837 o número de óbitos pela doença no país, segundo dados divulgados, ontem, pelo Ministério da Saúde. De segunda-feira para ontem, foram contabilizados 23.227 casos do novo coronavírus, elevando o total de registros no país para 5.273 954. Desses, 4.721.593 (89,5%) correspondem aos já recuperados da doença, e 397.524 (7,5%) aos ainda em acompanhamento. Segundo o ministério, existem 2.419 mortes em investigação.
Pazuello sob suspeita de ter covid-19
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, está sob suspeita de ter covid-19, mas “passa bem”. A informação foi confirmada ao Correio pela assessoria da pasta. De acordo com relatos, ele sentiu-se indisposto no começo da semana, persistindo o sintoma. A Saúde não informou se ele fez ou fará o exame. Caso confirmado, Pazuello será o 12º ministro do alto escalão a contrair a doença. A ausência dela foi sentida na cerimônia de anúncio do resultado de um estudo clínico sobre o novo coronavírus no Planalto, ocorrida na segunda-feira. Na data, o presidente Jair Bolsonaro, sem dar detalhes, disse que o titular da Saúdo estava com uma “indisposição” e dirigiu-se ao hospital. No fim da noite, no entanto, já estava em casa. “Talvez, pela sua silhueta... Ele teve uma pequena indisposição e foi para o hospital. Mas já tenho notícia, está tudo bem, tudo tranquilo”, ressaltou. Ontem, Pazuello cancelou a agenda que contava com reuniões com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e os deputados Laércio Oliveira (PP-SE), Dr. Zacharias Calil (DEM-GO) e Filipe Barros (PSL-PR). O general manteve apenas o compromisso de reunião com governadores, em que anunciou a compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac.
Cautela sobre nitazoxanida
Em coletiva de imprensa na segunda-feira, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) afirmou que o medicamento nitazoxanida, um vermífugo, é eficaz no tratamento da covid-19, no entanto, não apresentou dados do estudo. A comunidade científica, porém, mostra-se receosa e espera pela publicação dos dados, que deve ocorrer apenas no próximo mês. Para a doutora em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), Natalia Pasternak, o estudo poderia ter optado pela publicação do preprint, ou seja, a pré-publicação das informações. “Devido à pandemia, o preprint tem sido encorajado para que a comunidade científica conheça os dados das pesquisas”, afirmou ela.
A médica infectologista Joana D’Arc Gonçalves também se mostrou cautelosa. “Esse antiparasitário é similar a vários outros que têm sido testados nessa linha e que demonstraram uma ação in vitro muito boa, mas, quando partimos para a análise in vivo, os resultados nem sempre são bons”, explicou.
A especialista esclareceu que as análises no caso da Sars-CoV-2 requerem cuidado. “Algumas metodologias de análises no caso da covid são complexas, porque, por exemplo, se eu falo que o remédio diminuiu a carga viral da pessoa, os métodos que temos para poder mensurar isso são controversos”, frisou. “O exame PCR tem uma sensibilidade que vai variar com o tempo e com a técnica, ou seja, existem vários fatores que podem confundir os resultados. Por isso, é interessante aguardar os dados oficiais para vermos qual será a utilidade desse tratamento.”
Eliana Bicuda, assessora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e médica infectologista, apontou problemas nas informações prestadas, pois não direcionam para a real eficácia do estudo do MCTI. “Reduzir carga viral sem impacto na melhora clínica não adianta. O estudo mostrou que o medicamento pode reduzir a carga viral, mas ele não apontou a melhora clínica e o impacto na mortalidade”, argumentou. (EHP*)