ENSINO SUPERIOR

Número de formandos diminui

Censo divulgado pelo MEC mostra que, em 2019, número de alunos matriculados cresceu abaixo da média e que aumentou a quantidade de estudantes que desistem da formação. Dados mostram ainda avanço do ensino a distância

Ana Lídia Araújo* Ana Paula Lisboa Mateus Salomão*
postado em 24/10/2020 01:10

O número de alunos no curso superior cresceu 1,8% entre 2018 e 2019, abaixo da média dos anos anteriores. E mesmo assim, a alta foi impulsionada pelo ensino a distância, que teve elevação de 15% nos ingressos, enquanto o formato presencial apresentou queda de 1,5% na quantidade de novos estudantes no ano passado. Dos 8,6 milhões de estudantes de nível superior do país, 2,4 milhões fazem a graduação de forma não presencial. O número representa 28,5% do total.

Os dados são do Censo da Educação Superior 2019, divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Ao comparar os últimos 10 anos, o ingresso em cursos não presenciais cresceu mais de 378,9%, enquanto a variação do formato presencial foi de 17,8%. O crescimento do ensino on-line é relevante, mas os números de 2019 poderiam ser ainda maiores, pois menos de um quinto das novas vagas ofertadas a distância foi preenchido.

O censo mostra ainda que o número de formandos nas instituições de ensino superior caiu em 2019, o que revela aumento da quantidade de pessoas que desistem do curso. O total de concluintes, no ano passado, continuou na casa de 1,2 milhão, porém, cerca de 14 mil pessoas a menos terminaram a graduação. Com relação a 2018, o montante sofreu uma queda de 3,7%, mas mostrou um avanço da educação nos últimos 10 anos, uma vez que em 2009, o Brasil não passava dos 960 mil formandos.

A alta taxa de desistência na graduação torna-se um problema cada vez mais preocupante. Anna Júlia Duarte, 20 anos, está entre os estudantes que não concluíram a formação. Em 2019, ela estudava ciências sociais na Universidade de Brasília (UnB), mas desistiu do curso por não se imaginar atuando na área.

Anna ressalta que não foi uma decisão tranquila, pois ainda receia não conseguir voltar para a UnB em outro curso, uma vez que a universidade é muito concorrida. “Eu estava estudando para o vestibular, mas, além da pandemia, outras questões bagunçaram minha vida. Estou usando este momento para descobrir o que eu sei fazer e o que eu gosto de fazer”, admite. “Vou tentar prestar o vestibular no ano que vem, caso não seja cancelado novamente”, planeja.

O censo traz, ainda, informações sobre Indicadores de Trajetória da Educação Superior com base em alunos que ingressaram no curso em 2010. Em 2019, 40% deles tinham concluído o curso e 59% desistiram, o que inclui abandono e transferência. Além disso, 1% permanece na graduação.

Os dados do Inep ressaltam que 52% dos alunos que ingressaram em uma instituição federal de ensino no país em 2010, em algum momento da graduação, desistiram do curso. O número é bem maior na rede particular, pois chega a 62% de alunos desistentes. A rede estadual fica por último, pois concentra 44% dos que abandonaram a formação.

Outro recorte apresentado nos indicadores diz respeito à modalidade de ensino. Dos alunos que ingressaram na educação a distância em 2010, 63% não tinham concluído a graduação em 2019. No modo presencial, o número é um pouco menor, uma vez que 59% não concluíram. Os alunos do sexo masculino foram responsáveis por 64% das desistências, e as alunas, por 56%.

*Estagiários sob a supervisão de Ana Paula Lisboa

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Direito e pedagogia lideram

Entre 2009 e 2019, o Brasil mudou o perfil de dominação completa do curso de administração entre os estudantes universitários, com mais de 800 mil matrículas anuais. Ao longo da década, o curso cedeu espaço para o de direito. Segundo dados do Censo da Educação Superior 2019, o cenário deve mudar em breve, tendo pedagogia como a queridinha do ensino superior brasileiro.

Os dados revelam que, desde 2016, pedagogia lidera o ranking de novas matrículas de alunos ingressantes e, em 2019, ano de que trata a nova edição do censo, passou a liderar também o número de matrículas nos anos de conclusão do curso — com 47% de retenção, ao comparar os 124 mil formandos de 2019, frente os 263 mil ingressantes de 2016.

Ao longo das diferenças anuais, é possível ver cursos como psicologia e engenharia civil tiveram crescimento expressivo ao longo desta década, o “boom” de engenharia de produção e como, após um hiato entre os cursos mais procurados, educação física se destaca entre as licenciaturas.

Explorar a busca por determinados cursos ajuda a explicar o sistema de ensino e também o momento do Brasil. Os 10 cursos mais procurados passaram de concentrar 2,8 milhões para 4,1 milhões de universitários, um crescimento de 44%. Com a flexibilização e a abertura de novos centros universitários voltados ao ensino da medicina, por exemplo, o curso voltou ao top 10 em 2018, após sete anos ausente.

Outro importante retrato trazido pelo censo é a consolidação do ensino a distância, o que influencia fortemente, em especial, os cursos de licenciatura. Em 2019, houve mais matrículas (53,3%) nesse formato do que no tradicional. Os interesses pela linha de formação também são indicativos da força que certas disciplinas têm ou não têm no ensino de base.

Com exceção de matemática, a preferência pelas especializações de áreas humanas é facilmente perceptível — há três vezes mais matriculados em história do que em física e química. A barreira da língua estrangeira se apresenta na mesma dimensão, com apenas o inglês aparecendo no curso de letras, mas em ordem três vezes inferior ao curso voltado apenas ao português.

Cursos rápidos
O Censo revela ainda que cursos superiores mais rápidos, de dois anos, os chamados tecnológicos, estão em alta. A modalidade cresce tanto entre os formandos quanto entre os calouros. Dos 1,25 milhões concluintes de 2019, 61,8% cursavam bacharelado; 20,3% eram alunos de licenciatura; e 17,9% estudavam para se tornarem tecnólogos.
Em 2019, o número de estudantes que se formaram no ensino superior sofreu queda de 3,7%, com relação ao ano anterior. No entanto, a quantidade de novos tecnólogos cresceu no Brasil. São mais de 223 mil novos formados em cursos de tecnologia, representando uma alta de 5,4% em comparação com 2018.

Entre 2009 e 2019, o grau tecnológico foi o que mais registrou o aumento na quantidade de concluintes (61,7%). No mesmo período, os cursos de graduação de bacharelado aumentaram 42% e os de licenciatura, 5,2%.

O grau acadêmico predominante dos cursos de graduação do país é o bacharelado (60,4%), que concentra 57,1% dos ingressantes. Dos 40 mil cursos, 23 mil são de bacharelado, 6.424 são tecnológicos e 6.391 são de licenciatura.

Maioria em particulares

 (crédito: Ed Alves/CB/D.A PressEd Alves/CB/D.A Press)
crédito: Ed Alves/CB/D.A PressEd Alves/CB/D.A Press

A maioria dos alunos da graduação no Brasil estuda em instituições particulares de ensino. Dos 8,6 milhões de estudantes registrados pelo Censo da Educação Superior de 2019, mais de 6,5 milhões estão no ensino privado. “A rede particular tem uma participação preponderante na educação brasileira. O Estado não seria capaz de cumprir a missão constitucional se não fosse a parceria e a atuação da educação particular”, disse o ministro da Educação, Milton Ribeiro, durante o anúncio dos resultados.

Ao todo, 2.608 instituições oferecem cursos superiores no país, sendo que apenas 302 são públicas. Em 2019, mais 3,6 milhões de pessoas começaram a faculdade, das quais cerca de 3 milhões entraram pela rede particular.

Durante a coletiva, o ministro citou o Plano Nacional de Educação (PNE), caracterizando-o como sonho no qual o MEC está “envolvido de corpo e alma”. O ministro também defendeu que o investimento na educação superior é imperativo para o desenvolvimento científico, para a propulsão da inovação e também para a empregabilidade dos jovens.

“Novamente, o Inep nos permite conhecer as evidências necessárias para a construção de políticas públicas educacionais mais assertivas. Nós temos um foco e queremos andar no sentido da qualidade da nossa educação”, garantiu Ribeiro.

No ano passado, foram ofertadas 16,4 milhões de vagas, das quais quase 95% eram do sistema particular. Nas públicas, foram oferecidas 837.809 mil oportunidades, mas pouco mais de 556.778 mil estudantes ingressaram.

Nas instituições particulares, o número da oferta em cursos a distância (EaD) cresceu. Das 15,5 milhões de vagas na rede, 66% eram de EaD. A expectativa é de que o número continue crescendo.

Financiamento
Mais 45% dos alunos da educação particular recebem algum tipo de bolsa ou financiamento estudantil. A maior alta está entre programas de acesso das próprias faculdades, que incentiva a permanência de mais de 1,8 milhões de alunos. Em 2018, esse tipo de oferta era de 1,6 milhões.

No ano passado, o Censo da Educação Superior registrou que 615 mil estudantes eram participantes do Programa Universidade para Todos (ProUni), cerca de 40 mil a mais do que em 2018. O número de beneficiados pelo Financiamento Estudantil (Fies), porém, caiu. Em 2019, 571 mil estudantes estavam ativos no programa, enquanto no ano anterior eram 821 mil. (ALA)


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