As fronteiras fechadas para brasileiros entrarem nos Estados Unidos são apenas uma das barreiras enfrentadas por estudantes que necessitam sair do Brasil para voltar às aulas nas universidades americanas. O impasse é para aqueles que precisam renovar ou tirar os vistos estudantis, atividade que está paralisada desde março, devido à pandemia, e sem previsão de retorno. Mas, ao contrário dos serviços prestados pelo consulado americano, a rotina escolar já foi retomada nos EUA e, com isso, vários atletas bolsistas correm o risco de perder o auxílio e ter o sonho interrompido por uma questão burocrática.
Com as aulas paralisadas devido à covid-19, as gêmeas Beatriz e Mariana Volponi de Giordan, 21 anos, ambas bolsistas por jogar vôlei em nome das universidades, voltaram para o Brasil em março para ficar com a família até a normalização das atividades. Mariana, que chegou a mudar de faculdade, já tinha renovado o visto em 2018, mas essa era uma das pendências que Beatriz teria que resolver na volta para casa, uma vez que o documento tinha prazo de validade até julho passado.
“O consulado não está funcionando. Já fiz vários agendamentos e todos foram cancelados. Não respondem nossas ligações ou e-mail. É tudo automático e não tem previsão de nada. Estão tratando com a maior indiferença porque não dão prioridade nenhuma aos estudantes, diferentemente de consulados de outros países que estão atentos, olhando para a gente e organizando esquemas especiais para ajudar nessa situação”, relatou Beatriz.
Resultado: Mariana conseguiu voltar para os EUA, submetendo-se à quarentena de 14 dias no México antes de entrar em território norte-americano, já que a fronteira está fechada aos brasileiros. Enquanto isso, sua irmã gêmea espera, angustiada, se irá ser atendida a tempo de não perder mais um semestre e conseguir manter a bolsa, bem como o reconhecimento para competir pela University of West Alabama, onde estuda.
Também atleta de vôlei, a carioca Carolina Rodrigues de Barbosa, 23 anos, teria conseguido se formar antes de precisar renovar o visto se não fosse ter ficado em estado grave no hospital. Em janeiro, ela contraiu malária e chegou a ser internada sete dias numa UTI. Sem saber quando conseguiria voltar aos estudos, a técnica de vôlei e diretores da University of Arkansas at Little Rock, onde Carolina cursa ciências ambientais, decidiram trancar as matérias por um semestre, mas mantiveram a bolsa.
Carolina só retornaria às aulas em agosto de 2020 e, por isso, resolveu passar uma temporada no Brasil. Até porque também precisaria atualizar o visto.
Agora, enfrenta o problema de ter as entrevistas desmarcadas pelo consulado e a dificuldade em conseguir agendar um novo horário, ainda sem a garantia de que dará resultado. “Precisei marcar em São Paulo, porque já não tinha mais agenda no Rio. Só falta um semestre e eu preciso muito voltar. Tenho me esforçado muito, desde o início, para manter minhas notas e a rotina de atleta. É muito difícil: treinos de três horas, aula o dia todo, musculação, jogos aos finais de semana. Fazer tudo isso por três anos e meio e não conseguir me formar é demais”.
O problema não está sendo diferente para o soteropolitano Leonardo Gama, 20 anos. Estudante de finanças na Palm Beach Atlantic University, está há quatro anos morando nos Estados Unidos, onde se formou no ensino médio e engatou no superior. “Estou tentando, desde junho, renovar o visto que venceu no meio do ano. O consulado cancela todo mês e minha próxima data, agora, é para início de dezembro, o que me deixa preocupado de não conseguir retornar para os EUA”, explicou.
Motivado pela oportunidade de conciliar os estudos com o esporte, Leonardo escolheu tentar a sorte em solo norte-americano para investir em ambos sonhos. Ele é bolsista e joga futebol, cuja temporada começa em janeiro.
O Correio conversou com outros quatro atletas que enfrentam as mesmas dificuldades e que estão à mercê de respostas para continuar a rotina escolar e esportiva. E questionou a Embaixada americana sobre quantas pessoas têm entrevistas marcadas para resolver as pendências com o visto estudantil, mas não obtiveram resposta.
“A Embaixada e consulados dos EUA no Brasil estão levando muito a sério a situação de estudantes brasileiros e estamos procurando maneiras de garantir que estudantes (tanto os novos quanto os que retornarão aos seus estudos) tenham atenção prioritária quando as entrevistas de visto forem retomadas”, justificou-se, em nota.
Procurado pelo Correio para saber o que tem feito em favor dos estudantes, a fim de diminuir o problema, o Ministério das Relações Exteriores não respondeu até o fechamento desta reportagem.
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