Queimadas

Retardante usado para combater fogo não é autorizado pelo governo de Goiás

Após o uso do produto, há risco de consumo da água por aproximadamente 40 dias

O retardante usado pelo governo federal para controlar o fogo na Chapada dos Veadeiros não é autorizado na região, informou nesta terça-feira (13/10) o governo de Goiás.

O produto foi usado pelo governo federal para combater o incêndio que atingiu a região da Área de Proteção Ambiental do Pouso Alto, que fica ao redor do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, e é gerida pelo estado de Goiás.

O ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles, informou, em vídeo, o uso do retardante ma região. Segundo ele, o produto foi misturado a água e despejado por aviões. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) disse, porém, que não ficou sabendo da utilização do produto.

"O Governo de Goiás, por meio de Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), informa que não há nenhuma regulamentação sobre o referido produto químico em Goiás; que não foi consultado sobre sua utilização; e que não é autorizado o uso do mesmo dentro da Área de Proteção Ambiental do Pouso Alto, de gestão sob responsabilidade do governo goiano", afirmou em nota.

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não há nenhuma legislação que proíba o uso dos retardantes. "Frente às perdas potenciais da biodiversidade que o fogo oferece em ecossistemas complexos e sensíveis, prescindir do uso de produtos retardantes de chama que são pouco tóxicos e pouco persistentes no ambiente seria ignorar a preponderância dos ganhos versus os riscos avaliados, restando claro que os ganhos, no caso concreto, superam em muito os riscos", diz em nota

O Ibama também elaborou um contrato em regime de urgência para comprar 20 mil litros de retardante para usar em áreas de queimadas em Mato Grosso. 

Um parecer da instituição, porém, afirma que o retardante usado em Goiás pode ter efeitos tóxicos. "Em caso de aplicação do produto em terras indígenas ou próximo a locais populosos, informar à população da área sobre os possíveis riscos do consumo de água e alimentos provenientes do local nos 40 dias seguintes à aplicação do retardante de chamas", afirma o documento de 2018 da Coordenação de Avaliação Ambiental de Substâncias e Produtos Perigosos do Ibama.

Nesta terça-feira, Salles voltou a defender o uso do produto. Na comissão do Pantanal no Senado, o ministro disse que o uso do produto na Chapada foi um sucesso. “Nós tivemos durante muito tempo uma discussão inócua sobre, ah, se deveria considerar ou não o retardante do fogo, quanto todos os países, Estados Unidos, Canadá, Europa, Japão, todos eles se utilizam dessa tecnologia para melhorar o combate às queimadas”, afirmou. 

Fogo na Chapada

O incêndio destruiu uma área de 75 mil hectares na Chapada dos Veadeiros. O fogo, que teve início em 25 de setembro, acabou no domingo (11/10). Segundo o Ministério do Meio Ambiente, cerca de 17 mil hectares atingidos pelas chamas foram no interior do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, o equivalente a cerca de 7% da área protegida. Outros 50 mil hectares queimados estão dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pouso Alto, o que corresponde a 5,7% do território.