Após a polêmica causada pelos vídeos da audiência do caso de estupro da jovem catarinense Mariana Ferrer, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) anunciou, ontem, que pedirá a quebra do sigilo do vídeo de audiência de instrução e julgamento para esclarecer as informações, caracterizadas como “inverídicas” pelo órgão. Segundo o MPSC, o vídeo que circula nos meios de comunicação e nas redes sociais “não condiz com a realidade”.
Por meio de nota, o órgão afirmou que o material “foi editado” de forma a ocultar as intervenções feitas pelo promotor e pelo juiz em favor de Mariana para interferir nos excessos praticados pelo advogado de defesa Cláudio Gastão da Rosa Filho. Dessa forma, o ministério alega que, para que órgãos de controle possam avaliar adequadamente a postura adotada pelo promotor e pelo juiz na audiência, o promotor Thiago Carriço de Oliveira requereu ao Poder Judiciário o levantamento do sigilo do vídeo da instrução criminal.
O vídeo em questão foi trazido à tona em reportagem do The Intercept Brasil, que denunciou a condução do caso ao ter acesso aos registros do julgamento, e mostra trechos da audiência. Em um momento, o advogado Cláudio Gastão afirma que “graças a Deus” não tem uma filha do “nível” da modelo. “E também peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher como você”, continua. Em outro momento, ele se dirige à vítima: “Não adianta vir com teu choro dissimulado, falso e essa lágrima de crocodilo”.
Logo após a fala, o juiz diz que pode suspender a audiência para que Mariana se recomponha. No entanto, ela responde que apenas gostaria de ser respeitada. “Excelentíssimo, eu estou implorando por respeito, nem os acusados de assassinato são tratados do jeito que estou sendo tratada, pelo amor de Deus. O que é isso?”
Respeito
O MP de Santa Catarina alega que a audiência teve duração de cerca de três horas e foi realizada em dois dias distintos. “No primeiro momento em que o advogado de defesa adotou atitude desrespeitosa em relação à Mariana, o promotor de Justiça interveio para que ela não fosse exposta a situação de constrangimento”, defende. O órgão também assegura que a íntegra do vídeo mostra que os promotores de justiça adotaram o respeito e a sensibilidade exigidos pela questão ao longo de todo o processo.
Ainda por meio da nota divulgada nessa quarta-feira, o MPSC reiterou o repúdio à atitude do advogado. E lamentou que argumentos como “aspectos pessoais da vida de vítimas de crimes sexuais” ainda sejam usados por defensores, destacando que posturas como essa são “amplamente combatidas pelo Ministério Público de Santa Catarina, inclusive por meio de programas institucionais de apoio especializado às vítimas de violência”.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.