APAGÃO

Sem energia, Amapá vive dias de caos

Explosão seguida de incêndio inutilizou transformadores e cortou o fornecimento de eletricidade de 14 municípios, inclusive na capital, Macapá. Moradores enfrentam falta de água, insegurança, e veem a comida estragar

Edis Henrique Peres* Natália Bosco*
postado em 07/11/2020 00:55
 (crédito: Gabriel Penha/Estadão Conteúdo)
(crédito: Gabriel Penha/Estadão Conteúdo)

Desde a noite de terça-feira, o Amapá está mergulhado nas trevas. O estado está sem energia elétrica devido a uma explosão seguida de incêndio que avariou transformadores da subestação da concessionária Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), administrada pela empresa espanhola Isolux. No total, 14 municípios sofrem com o apagão, que atinge praticamente 85% da população do estado. Na quinta-feira, o Ministério de Minas e Energia (MME) informou que um dos transformadores seria consertado ontem. Depois de quase 65 horas de apagão, às 17h15min de ontem alguns bairros da capital notificaram a volta da energia elétrica.

Ainda ontem, o Ministério da Defesa informou que aviões da Força Aérea Brasileira partiram para o Amapá transportando 51 toneladas de materiais que serão utilizados emergencialmente para restabelecer o fornecimento de energia elétrica no estado. As aeronaves transportam máquinas de purificação de óleo e geradores para a capital, Macapá.

A subestação de Macapá tem três transformadores, no entanto, um estava em manutenção desde dezembro de 2019 e os outros dois foram avariados pela explosão de terça-feira. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), escreveu nas redes sociais que “a ausência de um sistema de backup e de um plano de contingência para o povo do Amapá foi criminosa”.

O senador protocolou uma ação popular na Justiça Federal para que os governos municipais, estadual e federal garantam o abastecimento de água da população com carros pipas e o fornecimento de cestas básicas e medicamentos. Além disso, solicitou a instauração de inquérito da Polícia Federal para investigar as responsabilidades da empresa Isoluz, do Operador Nacional do Sistema (ONS) e a provável omissão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

População pede socorro
Heluana Quintas, 38 anos, servidora pública, moradora de Macapá, contou que a cidade vive o desespero. “Em todas as casas em Macapá, sem geladeira funcionando, não tem como conservar alimentos e não existe mais gelo à venda na cidade. E apenas uma operadora e uma rádio estão funcionando”, explicou Heluana.

“Água não existe mais nos mercados. As pessoas fazem filas para comprar alimentos que não precisam ser conservados em geladeira e há aglomerações nos poucos lugares que possuem geradores elétricos. O comércio local não está vendendo em cartão porque não tem energia, só se pode pagar em dinheiro, e nem todos os caixas eletrônicos estão funcionando porque muitas farmácias também não possuem geradores”, acrescentou. É o maior caos da história do Amapá, provavelmente”, afirmou.

“Estamos sem energia, sem água, o sinal telefônico oscila, contou a empresária Hannah Tork, 30. “Os supermercados estão superlotados, a água mineral está escassa. Quem tinha estoque de comida para o mês acabou perdendo, porque, com três dias sem energia, os congelados já estragaram.”

Hannah também informou que algumas pessoas conseguiram comprar geradores de energia e, com isso, acabaram superlotando os postos de gasolina para abastecer os gerados com diesel. A falta de segurança à noite é outro problema. “Quando vai escurecendo, já bate o desespero. Estão saqueando restaurantes, lojas, entrando em casas de madrugada, porque está sem segurança nenhuma, tudo no escuro.”

Familiares preocupados
A cosmetóloga Fabrícia Monteiro, 26 anos, tem família em Macapá e contou que ficou dois dias sem conseguir se comunicar com os pais e a avó. “Eles moram no centro da cidade e estão sem água, luz e sinal de internet desde o primeiro dia. Os hospitais estão sem energia. Ontem, um amigo faleceu, pois precisava do respirador. Os mercados já estão sem comida. Os hotéis estão com preços absurdos e superlotação”, disse.

Fabrícia criticou as autoridades: “O prefeito de Macapá demorou três dias para distribuir água potável. O governador diz que está tudo sendo resolvido, mas a situação é caótica. O presidente do Senado (Davi Alcolumbre, DEM), do Amapá, não está fazendo nada. O presidente Jair Bolsonaro também está ignorando (a situação)”.

A maquiadora Daniely Pereira Pinto, 21 anos, não consegue falar com a mãe e outros familiares em Macapá desde a tarde de terça-feira. Daniely mora em Laranjal do Jari, cidade vizinha de Macapá, que não ficou sem energia. “Pelo o que fiquei sabendo, a água mineral, que antes custava R$15 e agora custa R$38. Eu não sei como eles estão fazendo com água.” Ela diz que se preocupa com a mãe, que tem uma filha mais nova, de três anos.

*Estagiários sob a supervisão de Odail Figueiredo

“Quando vai escurecendo, já bate o desespero. Estão saqueando restaurantes, lojas, entrando em casas de madrugada, porque está sem segurança nenhuma, tudo no escuro”
Hannah Tork, empresária

 

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