Debate

Especialistas contam como a tecnologia melhora as políticas públicas

Em evento promovido pela Escola Nacional de Administração Pública, painelistas contam como big data e crowdsourcing podem auxiliar governos a atender aos cidadãos. Eles citaram, por exemplo, a política de combate ao consumo de opioides nos EUA

Natália Bosco *
postado em 16/11/2020 20:10
Tiago Peixoto, Jane Wiseman e Tanja Aitamurto participaram do evento -  (crédito: Reprodução de vídeo)
Tiago Peixoto, Jane Wiseman e Tanja Aitamurto participaram do evento - (crédito: Reprodução de vídeo)

Governo com Foco no Cidadão foi o tema do segundo painel do primeiro dia da Semana da Inovação, promovido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap). O painel contou com a apresentação de três especialistas. A fellow em Inovações Governamentais da Universidade de Harvard Jane Wiseman falou sobre big data e como o sistema de dados e pesquisa de dados pode ser usado para melhorar questões públicas.

Segunda participante do encontro, a professora do Departamento de Comunicação da Universidade de Illinois Tanja Aitamurto discursou sobre a elaboração de políticas de crowdsourcing.

Por fim, o especialista sênior do Setor Público no Banco Mundial Tiago Peixoto falou como cientista político sobre o uso da inteligência coletiva para resolver problemas públicos.

Jane Wiseman iniciou a palestra ao explicar a importância de dados para a gestão pública e formação de opinião. Jane mostrou como a análise de big data auxiliou governos estaduais dos Estados Unidos a melhorar, por exemplo, o serviço de saúde e educação.

Pesquisa com opioides

A especialista usou como exemplo a análise feita pelo governo estadunidense da morte de pessoas pelo uso de opioides. Segundo Jane, a pesquisa constou na verificação dos relatórios de óbitos para perceber se, em vida, o cidadão teve alguma interação com o governo e, assim, poder ajudar pessoas usuárias de opioides.

“Um em cinco (dessas pessoas) foram para a prisão, metade deles estiveram na prisão. E a outra metade morreu sem ter nenhum acesso ao serviço de saúde. Então, há todos esses pontos para serem tocados para que nós consigamos mudar essa realidade e ajudar essa população”, pontuou. Segundo ela, pesquisas assim ajudam a apontar problemas a serem corrigidos pelo governo.

Tanja Aitamurto, por sua vez, utilizou seu tempo para falar sobre crowdsourcing ou, como ela mesma disse “fazer política de forma compartilhada”. Tanja debateu sobre os processos, valores e motivos do crowdsourcing.

A professora lembrou do exemplo da Finlândia. O país utilizou o crowdsourcing para reformular algumas leis com a participação ativa da população local. Ela explicou, porém, que há um longo processo para isso. É necessário envolver a população de maneira responsável, convidar especialistas para analisar o processo, formular a lei e, então, iniciar uma nova etapa de feedback da população.

“Não é apenas uma opinião pública, não é apenas escolher entre opções a, b, c ou d. O crowdsourcing não é apenas a formulação da junção de diferentes opiniões. Mas precisamos saber a opinião da população para criar políticas. Quando pensamos no valor democrático que isso cria, existe mais transparência nesse tipo de formulação de política”, argumentou Tanja. A professora também disse que esse tipo de formulação de políticas cria um sentimento de responsabilidade maior na sociedade.

Inteligência coletiva

Tiago Peixoto fechou o papel com o tema “Uso de Inteligência Coletiva na Resolução de Problemas Públicos”. Como exemplo, ele cita o uso de assembleias cidadãs, constituídas por cidadãos ordinários escolhidos por meio de sorteio, utilizadas por países como França e Irlanda, para a resolução de problemas dos governos.

O especialista explicou que “a inteligência de um grupo é proporcional à sua diversidade”. “Júris populares produzem melhores julgamentos que juízes profissionais, e julgamentos mais eficientes aumentam com a diversidade”, pontuou.

Para criar um processo deliberativo, Tiago contou que é preciso, primeiro, criar um pequeno grupo representativo que reflita a diversidade social. Depois, considerar argumentos e perspectivas diferentes. A terceira etapa consiste em criar pontos de consenso e/ou entendimentos. Por fim, ele afirmou que é necessário levar a questão debatida para as autoridades públicas, que concluirão o processo.

*Estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza 

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