Racismo

Funcionária do Carrefour diz ter se sentido "intimidada" por João Alberto

Vídeo mostra momento em que Beto se aproxima da mulher e, em seguida, é encaminhado pelos dois seguranças que o agrediram e são suspeitos do homicídio. Polícia investiga se houve outras discussões com a vítima no supermercado

Sarah Teófilo
Carinne Souza*
postado em 23/11/2020 22:51 / atualizado em 24/11/2020 15:07
 (crédito: Câmera de Segurança)
(crédito: Câmera de Segurança)

Uma fiscal de caixa da unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre, onde o soldador João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi assassinado por dois seguranças brancos, disse em depoimento à Polícia Civil que a vítima a teria intimidado com um "olhar agressivo". A discussão entre Beto, como era conhecido, e a funcionária antecedeu o momento em que ele foi encaminhado para o estacionamento do mercado. Na saída do supermercado, João Alberto desferiu um soco na direção de um deles. Então, as agressões começaram.

O Correio teve acesso a imagens de câmeras internas que mostram o momento em que a vítima está no caixa passando as compras com sua esposa, Milena Borges. Segundos depois, ele se dirige ao corredor e acena para uma funcionária do local, que estava em pé próximo ao caixa onde o casal era atendido. Logo em seguida, ele anda na direção dessa mesma mulher, que se afasta.

Um dos seguranças já aparece na cena, mas nada faz. Beto fica parado, observando a companheira, e segundo depois aparece o segundo segurança, que é policial militar temporário. Os dois, então, encaminham Beto para a saída. Outras imagens mostram os três na esteira do mercado, em direção ao estacionamento. 

Ainda em depoimento, a funcionária diz que estava em frente ao caixa onde Beto concluía as compras com a esposa e que conversava com um dos seguranças. De acordo com ela, a vítima teria começado a encará-los e, passado alguns instantes, se aproximou, mas ela não entendeu o que ele dizia e se afastou. João, então, se aproximou novamente e fez um gesto que a funcionária não soube explicar qual era.

Questionada se o homem havia feito gestos ou proferido palavras ofensivas, ela negou, dizendo não ter compreendido. A funcionária também esclarece que os gestos do rapaz não pareciam uma brincadeira, mas também não foram ofensivos.

Atitude suspeita

A fiscal afirmou que em seguida, uma funcionária, que aparece em imagens no momento da agressão e tentando impedir que o caso fosse filmado por pessoas no local, se aproxima do segurança que está no local. De acordo com ela, a mulher foi "ao local porque teria se aproximado duas vezes da depoente em situação suspeita e, portanto, fora alertada pela central de monitoramento". 

Ainda à Polícia Civil, a fiscal disse ter ouvido de colegas que o homem teria ido na semana anterior ao mercado e importunado outros clientes.

A delegada do caso, Roberta Bertoldo, afirmou ao Correio que a polícia está buscando conteúdo probatório. "Porque é uma alegação. Não que isso vá ter alguma influência, mas qualquer alegação a gente precisa comprovar”, disse, explicando que as investigações tentam identificar se há algum fato pretérito que possa ter sido levado em consideração no momento para a agressão.

*Estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza 


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