Vacina

Fiocruz tem expectativa de começar a vacinação contra a covid-19 até março

Com novo esquema vacinal apresentado pelo laboratório AstraZeneca e pela Universidade de Oxford para o imunizante que desenvolvem contra a covid-19, Fiocruz espera imunizar 136,5 milhões de pessoas em 2021. No primeiro semestre, seriam 65 milhões

Maria Eduarda Cardim
postado em 24/11/2020 06:00
 (crédito: John Cairns/ AFP)
(crédito: John Cairns/ AFP)

Resultados preliminares dos estudos clínicos da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca aumentam as esperanças mundiais no enfrentamento da covid-19. O imunizante, que está na fase 3, mostrou eficácia de 90% com a administração de meia dose, numa primeira etapa, e de uma dose completa, na segunda. Ou seja, pelo levantamento, não são necessárias duas doses completas para cada indivíduo, como se avaliava inicialmente. Isso significa que um maior número de pessoas poderá ser vacinada com uma quantidade menor do imunizante. A descoberta fez a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que produzirá as doses no Brasil, prever a vacinação de 136,5 milhões de pessoas em 2021. Ainda falta a liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas a intenção é de que as doses comecem a ser aplicadas até março.


A estimativa é 30% maior do que a prevista anteriormente pela Fiocruz. “No primeiro semestre, teríamos 100,4 milhões de doses para oferecer a 50,2 milhões de brasileiros. No entanto, com esse protocolo anunciado, as mesmas 100,4 milhões de doses poderão ser utilizadas na vacinação de cerca de 65 milhões de pessoas”, indicou o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger. “No segundo semestre, com a produção 100% nacional na Fiocruz e mais 110 milhões de doses, poderemos vacinar mais 71,5 milhões de pessoas. Isso coloca o país numa posição privilegiada entre as nações que terão um grande número de doses para as suas populações.”


A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, comemorou a mudança prevista no esquema vacinal que beneficiará mais pessoas. “Essa vacina deixa de ser uma candidata promissora para ser uma vacina que será produzida pela Fiocruz e uma resposta à saúde pública brasileira”, destacou.


A Fiocruz assinou um acordo de transferência total de tecnologia com a Universidade de Oxford e com a AstraZeneca para produção do imunizante no Brasil, que será feita pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz).


O processo de transferência tecnológica da vacina deve ocorrer em duas etapas. No primeiro momento, o ingrediente farmacêutico ativo (IFA), que é a matéria-prima da vacina, será enviado pela AstraZeneca ao Brasil para que as primeiras doses do imunizante sejam preparadas e comecem a ser distribuídas, em março. Num segundo momento, a partir do meio do ano, após ter a incorporação tecnológica concluída, o Bio-Manguinhos será capaz de produzir o IFA de maneira independente.


Segundo o diretor do Bio-Manguinhos, Mauricio Zuma, o preço da vacina de Oxford é uma das vantagens. “Estamos trabalhando dentro do cronograma previsto, com uma expectativa de produção de 210,4 milhões de doses em 2021, com um valor por dose extremamente acessível, entre US$ 3 e US$ 4 (cerca de R$ 16 a R$ 22) e uma vacina que pode ser armazenada e transportada na temperatura de 2°C e 8°C, podendo ser distribuída e armazenada utilizando toda a logística já existente no Programa Nacional de Imunizações (PNI)”, enfatizou. Numa comparação, a vacina da Pfizer, por exemplo, precisa ficar a uma temperatura de -70°C, o que seria um problema para o Brasil, que não tem esse tipo de logística de armazenamento.

Balanço


Enquanto a população ainda não tem acesso à solução contra a covid-19, o Brasil sofre diante da possibilidade de uma segunda onda da doença. A atualização do balanço de casos do novo coronavírus feita pelo Ministério da Saúde, ontem, confirmou mais 16.207 diagnósticos positivos e 302 óbitos, em 24 horas. Com isso, o Brasil soma 6.087.608 de confirmações e 169.485 vidas perdidas.


Segundo o Portal Covid-19 Brasil, iniciativa formada por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP), o país deve atingir, hoje, a marca de 170 mil vítimas da covid.


Com os novos números, as médias móveis de casos e mortes oscilam. De acordo com análise do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), por dia, morrem 496 pessoas e há acréscimo diário de 30.163 casos.

Em dezembro, parecer da CoronaVac

Além da vacina da AstraZeneca, outro imunizante contra a covid-19 que avança na corrida é a CoronaVac, produzida pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan. Ontem, o governo do estado de São Paulo anunciou, com o laboratório, que o estudo clínico da vacina chegou à fase final, ao atingir o número mínimo de 61 voluntários infectados pelo novo coronavírus, necessário para avaliar a eficácia do produto. Os resultados dessa análise devem sair na primeira semana de dezembro, segundo o Executivo estadual.


Até o momento, 74 casos de covid-19 foram identificados entre os voluntários que receberam ou a dose da vacina ou o placebo. Isso permite que sejam feitas a abertura do estudo clínico e a análise da eficácia do imunizante. “A análise dos casos já se iniciou e, portanto, rapidamente, na primeira semana de dezembro, teremos o resultado dessas análises”, afirmou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, em coletiva de imprensa, ontem.


Dos 13 mil voluntários que participam dos testes da CoronaVac no Brasil, mais de 10 mil já foram vacinados. Uma metade recebeu placebo e a outra, a vacina. “Nesse conjunto de pessoas, apareceram 74 casos da covid-19 e, agora, o que as equipes realizam é a identificação dos casos para ver se eles surgiram em quem recebeu placebo ou vacina. Se todos os casos apareceram em quem recebeu o placebo, isso significaria que a eficácia é de 100%”, explicou Covas.


Após a análise, os resultados serão enviados para o Comitê Internacional Independente para validação e produção de um relatório a ser encaminhado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “A expectativa é que, já no mês de janeiro, a Anvisa tenha aprovado a CoronaVac e que, com os 46 milhões de doses disponíveis, o Instituto Butantan tenha a possibilidade de vacinar brasileiros de todo o país”, ressaltou o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn.


O Ministério da Saúde chegou a formalizar a intenção de compra da CoronaVac por meio de um ofício enviado ao diretor do Butantan, em outubro, mas o presidente Jair Bolsonaro cancelou o documento. Em novembro, o chefe do Planalto recuou e disse que pode comprar a vacina. No entanto, ainda não há nada oficialmente decidido. (MEC)

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