SAÚDE

Redução de exames de retinopatia diabética aumenta riscos de cegueira

De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, os procedimentos para detectar a doença causada por excesso de glicose no sangue diminuíram em 36% de janeiro a agosto, se comparados com o mesmo período do ano passado

O número de exames para diagnosticar retinopatia diabética diminuiu em 36% durante a pandemia do novo coronavírus, o que pode contribuir para um aumento de casos de cegueira no Brasil, como alerta o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). A doença, que é uma das principais causas de cegueira, ocorre quando os vasos dentro da retina são danificados por complicação causada pelo excesso de glicose no sangue.

“Num primeiro momento, os serviços de saúde suspenderam a realização dos procedimentos como medida de segurança. Depois, a população, por medo de contaminação pelo vírus, passou a evitar as consultas, mesmo com a retomada dos atendimentos. Esse é mais um triste legado deixado por essa pandemia”, analisa o residente da CBO José Beniz Neto.

De acordo com o levantamento, mulheres e pessoas com idades de 44 a 80 anos são os que mais deixaram de fazer as avaliações oftalmológicas na comparação entre períodos. Até agosto de 2020, foram realizados 3,3 milhões de exames, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), capazes de avaliar a presença da retinopatia diabética. Em 2019, entre janeiro e agosto, o volume de procedimentos chegou a 5,1 milhões. Os dados foram coletados com as secretarias de saúde dos estados, disponíveis pelo Sistema de Informações Ambulatoriais.

Estados

Ao considerar as diminuições por estado, o Acre teve o pior desempenho nos oito primeiros meses do ano, com menos 72% de exames realizados. A lista das dez unidades com maiores quedas percentuais inclui ainda Roraima e Piauí (-68%, cada), Amapá (-67%), Amazonas (-66%), Paraíba (-63%), Mato Grosso do Sul (-61%), Mato Grosso (-57%), Mato Maranhão (-53%) e Ceará (-50%).

Se o ritmo dos atendimentos não for alterado, pelas projeções, o Brasil pode chegar a um dos piores desempenhos desde 2014, com realização de apenas 4,9 milhões de exames para detectar a doença.

Complicações

Sem o diagnóstico precoce da retinopatia diabética, as chances de comprometimento parcial ou total da visão aumentam.

Pacientes com diabetes do tipo 1 e 2 são potenciais vítimas da doença nos olhos, de forma que um a cada três pessoas com diabetes desenvolve algum grau de retinopatia. Por pertencerem ao grupo de risco da covid-19, para esses pacientes, a questão de ir ao médico e se consultar ficou ainda mais sensível durante a pandemia.

“As consequências desse problema serão percebidas em médio e longo prazos. O paciente, ao retardar o seu diagnóstico e início de tratamento, perde a chance de efetivamente reduzir os efeitos de uma doença degenerativa que, no limite, pode implicar na perda total da visão. Temos que pensar em estratégias para reduzir essa lacuna”, alerta o vice-presidente do CBO, Cristiano Caixeta Umbelino. Dos casos diagnosticados da doença, 20% podem desenvolver a forma mais grave, que leva à cegueira.

Serviço

A fim de conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia promove, em 21 de novembro, uma maratona de atividades, de modo virtual, com foco na prevenção. O conteúdo ficará disponível na página da entidade.

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