Quatro suspeitos de invadir o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), coletar informações sigilosas e divulgá-las no último 15 de novembro, dia do primeiro turno das eleições municipais, tiveram o sigilo dos e-mails derrubados pela Justiça Eleitoral do Distrito Federal. A autorização permite análise dos materiais coletados durante buscas e apreensões, realizadas no último sábado, no âmbito da Operação Exploit, que resultou na prisão de jovem português, de 19 anos, acusado de integrar a associação criminosa.
As informações foram confirmadas por fontes ao Correio e a ação teve como alvo três brasileiros e o hacker europeu, preso pela Polícia Federal com a colaboração das autoridades portuguesas. “Zambrius”, como é conhecido o português, foi preso no último sábado pela Polícia Judiciária daquele país. Segundo as investigações, o hacker tentou invadir o TSE em ao menos duas ocasiões: em 15 de novembro e no último dia 19. Os agentes da PF cumpriram, no Brasil, três mandados de busca e apreensão e três medidas cautelares de proibição de contato entre investigados em São Paulo e Minas Gerais.
Com a quebra de sigilo, os investigadores poderão aprofundar as apurações, buscando rastrear as comunicações entre os envolvidos. Além disso, saberão se os invasores da rede do TSE estavam de posse de outras informações sigilosas que ainda não tinham sido vazadas, como ocorreu com dados internos de funcionários da Corte no último dia 15.
Até agora, a quebra de sigilo permitiu que a PF avançasse nas investigações, com o levantamento da hipótese de o suspeito português ter enviado aos outros três brasileiros o link utilizado para testar fragilidades no sistema do TSE, a fim de invadi-lo. Já se sabe que outros grupos de hackers são mencionados nas conversas entre os investigados e, agora, os agentes querem saber se existe coautoria de outros movimentos na invasão de sistemas.
Descrédito
As apurações apontam, também, que o grupo conseguiu acessar as informações ainda em setembro, mas esperou o momento para divulgá-las, a fim de desacreditar a integridade do sistema eleitoral brasileiro. Os hackers teriam, ainda, tentado derrubar o sistema do TSE durante o primeiro turno, com um ataque visando a sobrecarrega no acesso a informações –– o que provoca o travamento do servidor. Este último movimento foi neutralizado pela equipe técnica do tribunal, mas houve dificuldades de os eleitores acessarem o e-título para baixá-lo.
Não foram identificados indícios de que as ações criminosas tenham comprometido a votação do primeiro turno, bem como a integridade dos resultados. Mas, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, foi enfático ao atribuir “motivação política” aos ataques –– tanto que classificou a investida dos piratas como um ato de “milícias digitais”.
Mas, diferentemente do primeiro turno, quando mais de 400 conexões tentaram derrubar as conexões do TSE, as votações do último domingo não tiveram qualquer interferência. Apesar de os movimentos não estarem, supostamente, ligados a influir nos resultados das urnas, as ações têm como objetivo colocar o sistema do tribunal como alvo de questionamentos. Para atentar ainda mais contra a inviolabilidade do sistema de votação eletrônica, o presidente Jair Bolsonaro tem defendido o voto impresso e já chegou a dizer que foi “roubado” nas eleições de 2018, tendo sido eleito no primeiro turno –– porém, jamais apresentou provas disso.
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Ataque à aula de ministro
Um ataque hacker interrompeu a aula por videoconferência, ontem, realizada pelo ministro Ricardo Lewandowski, na Faculdade de Direito da USP. A invasão inseriu vídeos do grupo Carreta Furacão durante a chamada e referências nazistas nos comentários dos participantes, como citações de Adolf Hitler e o símbolo da suástica.
O ataque ocorreu quando o ministro começaria uma palestra chamada “Releitura dos clássicos de teoria geral do Estado”. Quando a aula se tornou inviável, os participantes deixaram a sala virtual e aguardaram a coordenação enviar um novo link para a retomada da palestra. A paralisação durou cerca de 10 minutos
A invasão da aula de Lewandowski não é caso isolado. Na última terça, um webinário sobre “Acesso à Justiça e Racismo Estrutural” sofreu o mesmo tipo de ataque, quando participantes que obtiveram o link do encontro inseriram vídeos pornográficos e outras referências ao nazismo durante o encontro. Fontes relataram que casos semelhantes se tornaram frequentes nas últimas semanas.
O ataque se soma às invasões recentes aos sistemas dos principais tribunais do país. Na última sexta-feira, invasores atacaram o Tribunal Regional Federal da 1ª Região e alegaram ter obtido acesso a arquivos em mais de 40 bases de dados da Corte, que concentra processos de 13 estados e do Distrito Federal.