Criminosos fortemente armados arrombaram uma agência e caixas eletrônicos do Banco do Brasil, além de trocarem tiros com a força policial e fazerem reféns na cidade de Criciúma (SC) durante a madrugada de terça-feira. Segundo a Polícia Militar (PM), os criminosos incendiaram o túnel, na cidade de Tubarão (SC), que dá acesso a Criciúma, para impedir que a polícia chegasse ao local.
O assalto contou com, pelo menos, 30 criminosos, 10 automóveis e armamento de uso exclusivo das Forças Armadas. Uma das armas identificadas é de calibre .50, capaz de perfurar blindados e também utilizada como arma antiaérea.
Em vídeo publicado no Twitter durante a madrugada, o prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro, fez um alerta à população da cidade. Ele ressaltou que os bandidos estavam muito bem preparados e pediu que as pessoas ficassem em casa. “Vamos deixar a polícia fazer o papel de polícia. Vamos confiar na polícia de Santa Catarina”, afirmou.
Após a fuga dos criminosos parte do dinheiro ficou espalhado nas ruas. Além disso, os criminosos deixaram cerca de 200 quilos de explosivos para trás. O grupo provocou diversos incêndios e bloqueou ruas de acesso à cidade. Alguns reféns foram utilizados como escudos humanos, para dificultar o trabalho da polícia. Ao todo, a ação, que começou por volta da meia-noite, durou cerca de 1 hora e 45 minutos.
O assalto foi considerado o maior já registrado em santa Catarina. A Polícia Militar do estado tem apoio de outras forças de segurança na busca aos criminosos. Policiais do Rio Grande do Sul e do Paraná foram chamados para reforçar a ação.
Novo cangaço
De acordo com o tenente-coronel Cristian Dimitri Andrade, do 9ª Batalhão da Polícia Militar (9º BPM), o assalto foi feito por uma quadrilha de crime organizado, especializada em assaltos a bancos. “A gente chama de modalidade novo cangaço. Eles fazem assaltos simultâneos, atacam quartéis, como atacaram no batalhão também”, afirmou o tenente. Outro ponto é que esse tipo de quadrilha é, geralmente, errante, ou seja, não é da cidade em que o crime ocorre.
O caso lembra o roubo ocorrido no Aeroporto de Blumenau, no Vale do Itajaí, em 14 de março de 2019. Na ocasião, os criminosos entraram no aeródromo por um hangar e anunciaram o roubo da carga de um avião usado para transporte de valores. Os bandidos estavam armados com fuzis AK-47, uma arma de assalto de fabricação russa e, presas aos veículos, havia metralhadoras capazes de derrubar helicópteros. Em janeiro deste ano, a polícia civil informou que cinco pessoas envolvidas no crime foram presas. Segundo investigadores, o crime teve, no mínimo, seis meses de planejamento e o dinheiro— cerca de R$ 9,8 milhões — foi levado em um caminhão de lixo.
O especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna esclarece que esse tipo de assalto não é comum, pois exige altos investimentos no preparo. “Além disso, é preciso um longo planejamento, feito por pessoas com conhecimento de diversas áreas que se conectem ao roubo. E as armas, munições e demais materiais para realizar o crime são difíceis de serem adquiridos”.
Para Sant’Anna, a desaceleração da economia é o maior sintoma de que o crime organizado tem campo para atuação. “Esse é um sinal visto em diversos pontos do mundo. E será a realidade nacional nos próximos cinco anos, segundo projeções de especialistas em economia. Resta saber se a segurança pública e privada vai acolher essa prospecção e ressignificar suas ações”, considerou.
O especialista ressaltou a necessidade de reforço das condições de segurança bancária, alteração de concentração de moeda em espécie e parcerias entre órgãos públicos e entidades financeiras privadas de segurança. “Essas são as prioridades para minimizar esses eventos críticos”, finalizou.
Investigação
O presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo, explicou que é essencial uma investigação acurada, incluindo exames de DNA. “É preciso verificar a dinâmica do crime para entender como o assalto foi realizado e, assim, encontrar os responsáveis. Investigar os vestígios deixados no local, assim como exames de DNA, análise de circuitos fechados de balística, investigação nos veículos usados. Tudo isso serve para ampliar o leque de possibilidades. É aumentando o número de informações que se afunila a investigação”, afirmou.
*Estagiários sob a supervisão de Odail Figueiredo
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