Familiares das meninas Rebecca Beatriz Rodrigues Santos, 7 anos, e Emilly Victoria da Silva Moreira Santos, 4 anos, mortas por tiros de fuzil enquanto brincavam na frente de casa, na última sexta-feira, em Duque de Caxias (RJ) prestaram depoimento por três horas ontem na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, em Belford Roxo. Eles também se reuniram com o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, e com integrantes da Defensoria Púbica para cobrar soluções.
Familiares e testemunhas afirmam que os tiros partiram de uma viatura policial que passava pelo local. Contudo, a polícia nega que tenha realizado qualquer disparo. Segundo Gabriela Dantas, porta-voz da Polícia Militar, os agentes estiveram na região apenas depois das crianças serem baleadas.
Rebecca e Emily, que foram sepultadas no sábado, entraram para uma triste estatística de crianças mortas em tiroteios na região metropolitana do Rio nos últimos meses. A doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em Antropologia Social pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, Silvia Nadim, no Boletim Segurança e Cidadania publicado em outubro de 2020, questiona se a letalidade policial seria um problema ou um projeto. “É inegável que o extermínio da população negra e pobre no Brasil não pode ser visto apenas como falha ou problema de gestão na área de segurança pública”, diz a especialista.
Para Nadim, a redução ou o aumento das mortes causadas pela polícia ocorrem de acordo com a variação na política de segurança, o que evidencia uma postura mais institucionalista e normalmente defende a ideia de que a letalidade policial pode ser controlada. “Quando há um direcionamento político claro nesse sentido, a violência policial pode ser se não controlada, ao menos atenuada”, explica.
Para o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análises da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV/UERJ), é preciso modificar o pensamento das ações policiais. “A única forma de salvar a vida das pessoas que morrem nessas ações da polícia é mudar o conceito de polícia de guerra, de agentes que promovem o confronto e de governadores que pedem para a polícia matar mais”, pontua. (EHP)
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