Pandemia

Tecnologia RNA sai na frente na corrida pela vacina contra a covid-19

Utilizada nos imunizantes desenvolvidos pelas farmacêuticas Pfizer e Moderna, entenda como funciona tecnologia que pode revolucionar vacinação. Viabilidade no Brasil, contudo, é um desafio, já que as doses precisam ficar armazenadas a temperaturas abaixo de 70ºC

Bruna Lima
Maria Eduarda Cardim
postado em 13/12/2020 07:00
 (crédito: Andrew Lichtenstein/ AFP )
(crédito: Andrew Lichtenstein/ AFP )

Se, por um lado, a pandemia freou a circulação de pessoas, dinamizou e acelerou o desenvolvimento tecnológico das vacinas. São mais de 270 em estado de pesquisa, sendo que mais de 50 estão na fase clínica de desenvolvimento. Na corrida por uma solução, imunizantes com a tecnologia RNA estão na linha de chegada. Por se tratar de um tipo novo de vacina, ainda enfrenta barreiras como a necessidade de armazenamento em baixíssimas temperaturas, o que pode dificultar sua incorporação em boa parte do mundo. Desenvolvedoras trabalham para um aperfeiçoamento que permita mais acessibilidade.


As vacinas que fazem uso dessa tecnologia estão ficando prontas primeiro por serem compostas de material genético. “Os laboratórios, as indústrias, já estavam trabalhando com esses compostos genéticos para outros tipos de vírus, como ebola e HIV. Então, quando surgiu essa necessidade de ter uma vacina em um prazo muito curto, uma das maneiras mais rápidas era investir em uma (vacina) de RNA ou DNA, as chamadas vacinas de ácidos nucleicos”, explica Ricardo Agostinho Canteras, especialista em logística de cadeia fria e diretor-comercial da Temp Log.


Para a covid-19, especificamente, elas funcionam da seguinte forma: um composto genético é alterado para conter os traços genéticos do Sars-CoV-2, o que faz com que as células do nosso corpo desenvolvam imunidade. As vacinas de RNA estão saindo primeiro, basicamente, por terem um desenvolvimento muito mais rápido, demandando menos tempo de ensaio pré-clínico, e por serem compostos químicos sintéticos, não vírus. Portanto, acrescenta Canteras, “essas vacinas de RNA, apesar da dificuldade logística, podem ser armas poderosas contra essa e outras pandemias, principalmente pela velocidade de produção. É possível verificar que, das vacinas que já se encontram na última fase de testes, todas estão trabalhando com RNA, vetor viral ou proteínas. As vacinas de vírus ficam por último por conta da demora na fase pré-clínica. É um estudo mais longo do que o necessário para vacinas produzidas sinteticamente em laboratório”.


No Brasil, o governo federal negocia a compra de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer, desenvolvida com base na tecnologia RNA. “Os termos já estão bem avançados e devem ser finalizados ainda no início desta semana com a assinatura do memorando de intenção”, diz nota do Ministério da Saúde. Apesar de ser uma das alternativas mais promissoras do mundo, com anúncio de eficácia de 95%, a viabilidade da vacina, na realidade brasileira, é um desafio, já que, por ser uma tecnologia, as doses precisam ficar armazenadas a temperaturas abaixo de 70ºC.


Outra movimentação que torna a aquisição mais próxima é o investimento liberado para equipar a rede de frios dos centros e salas de vacinação de todo o país. Uma portaria do Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial dias antes do avanço nas negociações com a Pfizer, destina quase R$ 60 milhões a estados e ao Distrito Federal para compra de câmeras refrigeradas, ares-condicionados e computadores. Em caráter excepcional no âmbito do enfrentamento à covid-19, a destinação tem como finalidade fortalecer o Programa Nacional de Imunizações (PNI).


A pasta já havia adiantado interesse, comentando que a Pfizer seria uma possível candidata do Brasil pelo consórcio Covax Facility, que reúne um portfólio de 10 vacinas. “O Brasil aderiu a esse consórcio desde o desenvolvimento de todas as 10 vacinas, já com a opção de compra e recebimento de 42 milhões de doses que poderão ser de uma das 10 fabricantes que estão dentro do consórcio. Inclusive, a própria AstraZeneca e a Pfizer, por exemplo, estão no consórcio”, disse o general Eduardo Pazuello.

Exforço extra


O planejamento é que as compras das doses da Pfizer sejam capazes “para imunizar milhões de brasileiros já no 1º semestre” de 2021, como comunicou a Pfizer na semana passada. A farmacêutica já negociou doses com mais de 30 nações e, no Reino Unido, a imunização começou nessa semana.
Ainda com os avanços, fazer esta vacina chegar na ponta demandará um esforço extra. Na opinião de Canteras, as vacinas com outras tecnologias chegarão antes no Brasil. “Imunizantes de RNA estão chegando, provavelmente serão os primeiros a ser liberados mundialmente, mas para poder aplicar em toda a população, com certeza, serão utilizadas, também, vacinas de grupos de origens de vírus, como a CoronaVac, e outras que já estão em produção. São vacinas que demandam uma temperatura de 2º a 8ºC, com menos complexidade”. Para a vacinação de toda a população, destaca o especialista em logística de cadeia fria, “a gente não deve ficar tão preocupado com essas vacinas de baixíssima temperatura, porque, para atingir a todos, outros tipos de imunizantes serão utilizados, com uma logística bem menos complexa”.

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