Dúvidas e expectativa pela vacina

Apesar de questionamentos quanto à segurança dos imunizantes desenvolvidos contra a covid-19, a maioria das pessoas quer se proteger

Fernanda Strickland* Natália Bosco*
postado em 19/12/2020 23:41
 (crédito: Jack Guez/ AFP)
(crédito: Jack Guez/ AFP)

Apesar de todas as polêmicas em torno das vacinas contra a covid-19, a maioria dos brasilienses pretende se imunizar para evitar a doença. Uma pesquisa informal feita pelo Correio verificou que, entre 162 pessoas que se submeteram a um questionário, 77,8% disseram confiar nos imunizantes que vêm sendo produzidos por diferentes laboratórios. Dos 36 que afirmaram não confiar nos medicamentos, 20 garantiram não terem a intenção de se vacinarem contra o vírus. A pesquisa foi feita por meios digitais e manteve o anonimato dos participantes. Fatores como gênero, idade e classe social não foram levados em consideração.

Muitos dos entrevistados, porém, têm questionamentos sobre os imunizantes. Perguntas como durabilidade da proteção, quantidade de doses necessárias, efeitos colaterais e quando a vacina estará disponível foram algumas das dúvidas manifestadas pelas pessoas ouvidas pelo Correio.

Médica infectologista do Centro de Infusão, Infectologia e Vacinas (Clidip), Eliana Bicudo explica que ainda não se sabe ao certo o período de validade do imunizante no corpo humano, já que os testes são recentes. “Os estudos mostram que todas as vacinas mantiveram os anticorpos por, pelo menos, 90 dias. Esse é o tempo de avaliação das vacinas até agora. Até o fim de dezembro, vamos ter a resposta se serão quatro meses”, diz.

Eliana observou que, na maioria dos casos, serão necessárias as duas doses para a imunização completa. “Agora, se vai saber se será necessário repique a cada seis meses. Essa informação a gente ainda não tem”, esclarece. Tampouco se conhece qual será o cronograma de vacinação no país, que ainda não foi definido pelo governo. “O que se sabe é quais serão os primeiros grupos prioritários, como idosos e profissionais de saúde”, ressalta.

O autônomo Vinicius Cavalcanti de Assis, 28 anos, é um dos que veem a vacina com reservas. Ele afirma que pretende esperar pelo menos um ano para se imunizar, “por questão de segurança pessoal”. “Elas (vacinas) estão sendo feitas muito rapidamente para um estudo de uma doença. O momento pede essa agilidade, mas eu não confio em algo que está sendo feito muito rápido. Então, eu vou esperar pelo menos a primeira leva passar”, diz. A preocupação é mesma da contadora Patrícia Assad, 35.

Para Eliana Bicudo, a rapidez no desenvolvimento dos imunizantes não é algo que preocupa. “Temos conhecimento sobre produção de vacinas há muitos anos”, observa. Ela explica que a maioria segue o mesmo princípio: inocula o vírus enfraquecido para que a pessoa produza anticorpos e fique imunizada. Outras, caso da americana Pfizer, usam a técnica do RNA mensageiro, que reúne informações genéticas do vírus para produzir o mesmo efeito. Segundo Eliana, as chances de o organismo produzir anticorpos são grandes, “acima de 95% com algumas vacinas”.

Efeitos
A estudante de medicina Clara Furtado Nunes, 19, diz que se sente insegura com relação aos possíveis efeitos colaterais dos imunizantes ainda em fase de testes. Além disso, afirma que a corrida política pela vacina pode atrapalhar no processo de estudo científico. “Não sabemos todas as causas do vírus, e não tivemos tempo hábil para testes. O tempo da ciência não é o mesmo da política”, afirma a estudante.

Eliana Bicudo explica que, até o momento, os possíveis efeitos colaterais observados são os comuns de toda vacina: dor no corpo, febre moderada, dor de cabeça, reação local (ou seja, vermelhidão onde a vacina foi aplicada), todos sintomas passageiros. “Não temos muita informação sobre outros possíveis efeitos colaterais, pois só quando aumentam os números de vacinação é que os casos acontecem.”

A infectologista, porém, é enfática: “A vacina, hoje, é o único instrumento que, de fato, tem a possibilidade de controlar a disseminação do vírus. Ela vai diminuir a mortalidade, porque, com menos pessoas adoecendo, haverá mais disponibilidade de leitos. Assim, será possível cuidar melhor dos infectados e, também, de outras doenças que estão ocorrendo devido à falta de assistência”, afirma. “Essas vacinas que estão sendo liberadas, atingiram um nível científico satisfatório, para que possa ser usada na população em geral. Então, elas não vão matar ninguém.”

*Estagiárias sob a supervisão de Odail Figueiredo

 

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Mortos passam de 186 mil

O Brasil registrou mais 706 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, chegando a 186.356 vítimas pela doença durante a pandemia do novo coronavírus, conforme dados divulgados, ontem, pelo Ministério da Saúde, com base em informações coletadas com as secretarias estaduais de Saúde. Já são mais de 7,2 milhões de casos confirmados da doença, sendo que, nas últimas 24 horas, foram computadas mais 50.177 pessoas contaminadas.

O número de óbitos e de casos tem aumentado nos últimos dias. Os dados divulgados foram mais elevados que os do sábado da semana passada, quando houve 43,9 mil novas infecções e 686 mortes registradas em 24 horas.

São Paulo é o estado com a maior quantidade de casos: são 1,384 milhão de contaminações registradas e 45 mil óbitos. Em seguida, vêm Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Rio de Janeiro aparece em sexto quando se observam os casos, mas, em segundo lugar em número de óbitos, com 24,4 mil.

O mundo ultrapassou 76 milhões de casos de covid-19. O Brasil está na terceira posição no ranking, segundo levantamento feito pela plataforma da Universidade Johns Hopkins (EUA). Antes, vêm os Estados Unidos, com 17,6 milhões de registros, e, em seguida, a Índia, com 10 milhões.

Já em relação aos óbitos, é 1,682 milhão em todo o mundo, sendo a maior quantidade de registros nos EUA (315,3 mil) e no Brasil. A Índia, neste caso, está em terceiro, com 145,1 mil óbitos pela doença.

Bolsonaro: "Pressa não se justifica"

O presidente Jair Bolsonaro defendeu, ontem cautela e “paciência” em relação à vacina contra a covid-19, negando que esteja politizando o assunto. Segundo o chefe do Executivo nacional, a pandemia “está chegando ao fim”. As afirmações foram feitas em entrevista concedida ao próprio filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e divulgada no canal do You Tube do parlamentar.

“A pandemia realmente está chegando ao fim, os números têm mostrado isso aí. Estamos com uma pequena ascensão agora, mas pressa da vacina não se justifica, porque você mexe com a vida das pessoas. Vai inocular algo em você, o seu sistema imunológico pode reagir ainda de forma imprevista”, afirmou.

Segundo o presidente, isso não pode acontecer sem passar pela certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Você não pode, sem que passe pela Anvisa, sem que tenha certificação da Anvisa, botam a vacina no mercado, isso é uma irresponsabilidade”, afirmou. Nenhuma vacina pode ser liberada, no Brasil, sem antes passar pela Anvisa.

Nesta semana, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou governadores e prefeitos de todo o país a adquirirem vacina contra covid-19 sem o aval da Anvisa desde que esteja registrada em, ao menos, uma das principais autoridades sanitárias estrangeiras e liberadas para distribuição comercial nos respectivos países, e apenas se a agência não expedir autorização competente no prazo de 72 horas. (ST)

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