Com o início da vacinação contra covid-19 esperado para 25 de janeiro, o governo de São Paulo anunciou hoje que o imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan com a farmacêutica chinesa Sinovac tem nível de eficácia suficiente para um pedido de uso emergencial.
Não foram divulgados, entretanto, os dados sobre a pesquisa.
Segundo o Butantan, a CoronaVac está "dentro do limiar" necessário para aprovação — o que significa que ela teve um índice acima de 50%, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já disse ser suficiente para uma aprovação e útil no combate à pandemia.
O percentual de fato não foi informado. O diretor do Butantan, Dimas Covas, explicou que a Sinovac pediu que ele não seja divulgado neste momento.
A empresa solicitou o envio dos dados do estudo realizado pelo Butantan e um prazo de 15 dias para analisá-los.
O objetivo seria uniformizar os resultados dos testes de fase 3, que investigam se a CoronaVac realmente protege contra a covid-19, que estão sendo feitos em outros países, como China, Turquia, Indonésia e, mais recentemente, no Chile.
A eficácia verificada no Brasil foi diferente da obtida em outros países e "merece uma reavaliação", esclareceu o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn.
Apesar do adiamento, o governo de São Paulo manteve o calendário de vacinação previsto. Segundo João Gabbardo, coordenador-executivo do centro de contingência da covid-19 do Estado, mesmo que a Sinovac leve 15 dias para devolver os dados do estudo e contabilizando o prazo de dez dias que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem para analisar um pedido de uso emergencial, haveria tempo hábil para começar a imunizar no dia 25.
A Anvisa já afirmou que concederá o registro para um imunizante que tenha no mínimo 50% de eficácia, ou seja, que proteja 50 das 100 pessoas que a tomarem.
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O Butantan começou a produzir a vacina em 9 de dezembro. Desde então, adotou um regime de trabalho intensivo para ter prontas em janeiro 40 milhões das 46 milhões de doses que o governo paulista espera ter em mãos até o fim de janeiro. Outras 6 milhões são importadas da China, das quais 2,12 milhões já estão no Brasil.
A Sinovac também anunciou um reforço de sua estrutura de produção da vacina. A companhia tem atualmente capacidade de produzir 300 milhões de doses por ano, mas espera dobrar esse valor com a conclusão de uma segunda fábrica até o final de 2020.
A farmacêutica disse que receberá um investimento de R$ 500 milhões (R$ 2,56 bilhões) para impulsionar o desenvolvimento e produção da vacina. O dinheiro virá do conglomerado chinês Sino Biopharmaceutical Limited, que adquiriu 15% da Sinovac Life Sciences, uma subsidária da Sinovac.
O acordo foi fechado tendo em vista as negociações para o fornecimento da vacina não só ao Brasil, mas com outros países. Entenda, a seguir, onde a vacina da Sinovac já está sendo usada ou pode vir a ser aplicada em breve.
China
A vacina da Sinovac ainda não foi oficialmente registrada da China, mas já está sendo aplicada, em regime de uso emergencial.
Estão sendo imunizados funcionários do governo chinês, como profissionais de saúde e equipes que trabalham nas fronteiras.
A CoronaVac é uma das três vacinas que estão sendo usadas para este fim.
O programa de uso emergencial foi aprovado por autoridades chinesas em julho e anunciado oficialmente no mês seguinte.
Em novembro, uma das fabricantes dos imunizantes usados, a Sinopharm, disse que sua empresa já havia vacinado 1 milhão de pessoas sem relatos de efeitos adversos graves, como noticiou a revista Nature.
Isso gerou preocupações em especialistas em vacinas, o que foi seguido por uma série de reportagens em veículos estatais reforçando que se tratava de um esforço concentrado em pequenos grupos da população que estão mais expostos ao vírus.
Mas há crescentes evidências que as vacinas estão disponíveis para quem possa pagar, como mostrou a BBC, que flagrou centenas de pessoas em uma fila do lado de fora de um hospital na cidade de Yiwu à espera de serem imunizadas por US$ 60 (R$ 308).
A reportagem não conseguiu identificar qual era a vacina oferecida ao público naquele momento.
A China é o país onde a pandemia começou. Os primeiros sinais do coronavírus foram detectados no final do ano passado.
Mas o país conteve sua propagação com medidas bastante restritivas de isolamento social, que impediram dezenas de milhões de pessoas de sair às ruas.
O país tem até hoje 93,6 mil casos confirmados e 4.746 mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins
Indonésia
O país recebeu no último domingo (06/11) o primeiro lote da CoronaVac, com 1,2 milhão de doses. A vacina foi testada no país.
O governo indonésio espera outra remessa, com mais 1,8 milhão, no início de janeiro, informou a agência Bloomberg.
A vacinação começará em dezembro, de forma gratuita, e serão priorizados os profissionais que estão na linha de frente do combate à pandemia, como profissionais de saúde, policiais, militares e funcionários públicos.
Depois, serão imunizados os cidadãos com idades entre 18 e 59 anos, o que exigiria um total de 246 milhões de doses.
O acordo com a Sinovac prevê o envio de matéria-prima para a produção local da vacina. A farmacêutica estatal PT Bio Farma se encarregará de fabricar 45 milhões de doses.
O governo indonésio tem acordos com ao menos outros três fornecedores de vacinas contras a covid-19, entre eles a AstraZeneca/Oxford, que fechou um acordo com o governo brasileiro.
A Indonésia é até o momento o 20º país em número de casos no mundo, com mais de 580 mil, e o mais afetado no Sudeste Asiático.
Em óbitos, é o 17º, com 17.867 mortes confirmadas até agora, de acordo com a Johns Hopkins.
Turquia
O governo truco anunciou planos de começar a aplicar a CoronaVac em seus cidadãos no final do mês, segundo a agência Associated Press.
O ministério da Saúde local fechou um acordo com a Sinovac para o fornecimento de 50 milhões de doses. A Turquia tem 83 milhões de habitantes.
A vacina ainda não foi oficialmente aprovada no país, mas, segundo o governo turco, será concedida uma autorização de uso antecipada se os laboratórios do país confirmarem que a CoronaVac é segura.
Também serão revisados os resultados preliminares dos testes da CoronaVac que estão sendo feitos no país.
O ministro da Saúde Fahrettin Koca disse esperar que sejam entregues entre 10 a 20 milhões de doses neste mês. O primeiro carregamento deve chegar ao país na próxima sexta-feira (11/12).
Outras 20 milhões são esperadas em janeiro e mais 10 milhões em fevereiro.
A imunização deve ocorrer em quatro etapas. A primeira prevê a imunização de profissionais de saúde e idosos.
Depois, profissionais essenciais e pessoas com mais de 50 anos com ao menos uma doença crônica.
A terceira etapa será para pessoas com menos de 50 anos que têm ao menos uma doença crônica, jovens adultos e outros trabalhadores. A última fase cobrirá o restante da população.
A CoronaVac será oferecida gratuitamente, disse o presidente Recep Erdogan, mas outras vacinas contra a covid-19 serão vendidas em farmácia.
A Turquia tem hoje o 16º maior número de casos do mundo, com 860,4 mil, e o 20º em mortes, com 15.103, de acordo com a Johns Hopkins
Chile
O governo chileno anunciou no fim de setembro ter aprovado a realização de estudos no país da CoronaVac, com a participação de 3 mil voluntários.
As vacinas desenvolvidas pela farmacêutica Jansen, a divisão de medicamentos da Johnson & Johnson, e pela AstraZeneca/Oxford também estão sendo testadas no Chile.
O governo do país fechou ainda um acordo com a Sinovac para o fornecimento de 20 milhões de doses da vacina chinesa. O Chile tem 19 milhões de habitantes.
"O uso de uma vacina requer a aprovação de um órgão qualificado, como o Instituto de Saúde Pública do Chile ou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil. Esperamos que a Anvisa aprove em breve a vacina para que possamos também fazer e começar a usá-la no Chile", disse o governo chileno em um comunicado.
Atualmente, o Instituto de Saúde Pública, equivalente chileno à Anvisa, já avalia um pedido de uso emergencial da vacina da Pfizer, com quem o governo chileno fechou um acordo para o fornecimento de 10 milhões de doses.
A expectativa é que o primeiro lote chegue ao país no primeiro trimestre de 2021. Neste mesmo período, o governo pretende dar início à imunização de 15,2 milhões de pessoas.
Os profissionais de saúde, os trabalhadores do setor de transportes e os integrantes das Forças Armadas e forças de segurança serão priorizados em uma primeira etapa, informou o ministério da Saúde.
O Chile é um dos mais afetados na América do Sul pela pandemia. O país teve até o momento 15.663 mortes e 562,1 mil casos, segundo a Johns Hopkins.
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