Prevista para ontem, a divulgação dos números oficiais de eficácia da vacina CoronaVac foi adiada por questões contratuais. A informação foi anunciada pelo Instituto Butantan, que esperava divulgar, ainda ontem, os dados primários da fase 3 dos testes clínicos realizados no Brasil. Diante da situação, o instituto paulista informou apenas que a vacina atingiu um índice de eficácia superior ao mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 50%. Para especialistas, a frustração da expectativa construída pelo governo de São Paulo provoca uma perda ainda maior de confiança nas vacinas. Apesar do atraso que o processo pode sofrer, a equipe do governador João Doria, garante que não haverá atraso na vacinação do estado, prevista para 25 de janeiro.
“Atingimos o limiar da eficácia que permite o processo de solicitação de uso emergencial, seja no Brasil ou na China. Temos um contrato com a Sinovac que especifica que o anúncio desse número (de eficácia) precisa ser feito em conjunto no mesmo momento. Ontem (terça), apresentamos esse número para nossa parceira que solicitou que não houvesse a divulgação porque eles precisam analisar cada um dos casos para poder aplicá-los à agência reguladora da China”, explicou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
Ele explicou que é preciso que se faça uma uniformização de dados já que os estudos clínicos da CoronaVac ocorrem em diferentes lugares. “Ela não pode analisar dados da mesma vacina com critérios diferentes. Esse é o motivo principal. Ela não pode ter três eficácias para a mesma vacina”, afirmou. A Sinovac tem até 15 dias para concluir a análise. “Isso está no contrato e nós vamos, a princípio, respeitar essa data, mas acreditamos piamente que essa data será adiantada”.
O secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, afirmou que, com os dados obtidos pelo Instituto, já seria possível dar entrada na solicitação do uso emergencial na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no entanto, a entidade respeitará os trâmites burocráticos. “Fazem parte das tratativas comerciais para que possamos ter de forma conjunta esse resultado igualitário, isonômico entre os vários países”, declarou.
O coordenador executivo do Centro de Contigência da covid-19 de São Paulo, João Gabbardo, disse que a análise feita nos próximos 15 dias pela Sinovac não altera a produção e o programa de imunização estadual. “Continuamos com a previsão do dia 25 de janeiro, uma vez que agora a gente tem certeza que a vacina, com essa fase 3 que nós já temos, se for encaminhada para a Anvisa, atenderá as exigências da agência no aspecto de eficácia”.
Precipitação
Para o infectologista do laboratório Exame, David Urbaez, o contexto político que envolve a corrida por uma vacina levou a uma precipitação. “Isso que ocorreu denota uma improvisação, uma falta de planejamento no que diz respeito ao manejo dos dados. Não foi de ontem para hoje que ocorreu essa nova determinação da Sinovac para terem os dados todos alinhados que, diga-se de passagem, é muito recomendável”, analisou.
Junto com a pressão da pandemia e com um conjunto de circunstâncias desfavoráveis em relação à credibilidade nas vacinas, a ação traz uma perda ainda maior de confiança. “Estamos muito fragilizados por discursos de poder que atacam e sabotam as vacinas o tempo todo. O que aconteceu, hoje (ontem), em São Paulo, não contribui para nos contrapormos a essa tendência que o Brasil está vivenciando”, completou.
Em meio ao vai e vem da aprovação da CoronaVac, o governador João Doria anunciou, ontem, ter cancelado o período de férias que passaria com a esposa durante as festas de fim de ano em Miami. Com isso, retoma as funções de governador que havia passado interinamente ao vice, Rodrigo Garcia. O comunicado foi feito após Garcia ser infectado, segundo informações da Secretaria de Comunicação do estado.
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Distanciamento cada vez menor
O índice de infecção aumenta, assim como o número de mortes no Brasil e no mundo. No entanto, o distanciamento social é cada vez menor no país. A quantidade de pessoas que não tomaram nenhuma medida de restrição para evitar o contágio pelo novo coronavírus cresceu 492 mil, de outubro para novembro, chegando a 10,2 milhões, o que equivale a 4,8% da população. Já o grupo que ficou rigorosamente isolado reduziu para 23,5 milhões de cidadãos, menos 2,8 milhões na comparação com o mês anterior, aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Covid-19), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A maior parte da população (97,9 milhões) afirmou ter reduzido o contato, mas continuou saindo de casa ou recebendo visitas, 9,7 milhões a mais na comparação com outubro. Já quem ficou em casa e só saiu em caso de necessidade somou 79,3 milhões (menos 1,4 milhão que em outubro). O IBGE aponta, ainda, que o número de pessoas com algum sintoma de síndromes gripais, que vinha caindo desde junho, teve leve aumento, de 7,8 milhões em outubro, para 8 milhões em novembro (3,8% da população). O indicador mostra, ainda, que 988 mil (ou 0,5%) tiveram sintomas conjugados de síndrome gripal que podiam estar associados à covid-19. Em outubro, eram 855 mil pessoas (0,4%).
Na análise da médica Eliana Bicudo, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a banalização das medidas de isolamento poderá fazer com que janeiro e fevereiro de 2021 sejam meses dramáticos. “Já estamos vendo alta nas mortes e contaminações, redução do número de leitos de UTI e piora nos indicadores. Além disso, os profissionais de saúde que estão na linha de frente estão cansados. Temos que ter cuidado. Não faz sentido pensarmos que o vírus vai dar um tempo no Natal. Os riscos estão cada dia maiores. Se houver aglomerações, a previsão é de que os leitos fiquem lotados em janeiro e fevereiro”, alerta a infectologista, que atua no Hospital Home, em Brasília.
Apenas emergências
Bianca Ramaiane, estudante de 20 anos, não abre mão dos cuidados. “Na quarentena, não saímos para basicamente nada, apenas emergências e para fazer compras”, revela. A decisão de tomar medidas tão severas é que, onde ela mora, há um paciente de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). “Aqui, tem uma grande circulação de profissionais da saúde. Vêm as enfermeiras, os médicos, fisioterapeutas. Todos eles têm sempre os cuidados necessários para evitar a contaminação”. Bianca conta que, em relação ao início da pandemia, as medidas de isolamento adotadas em sua casa não diminuíram tanto. “Começamos a receber e ver outras pessoas, mas apenas aqueles que confiamos que também respeitam a quarentena e não recebem outras pessoas. Essa foi a aliviada que a gente deu”.
Copacabana “fechada” no Réveillon
A prefeitura do Rio decidiu “fechar” Copacabana somente para moradores na noite de Réveillon. O governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), propôs a restrição ao prefeito em exercício, Jorge Felippe (DEM), que acatou o pedido para evitar aglomerações em meio à pandemia. A partir das 20h do dia 31, portanto, somente moradores poderão ter acesso ao bairro. A festa de Réveillon da praia de Copacabana, que costuma reunir mais de 2 milhões de pessoas, foi cancelada pela Prefeitura em setembro.
Mais 46.696 casos e 961 mortes
Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 46.696 casos de contágio pelo novo coronavírus ontem. Também foram contabilizadas 961 mortes em decorrência da infecção. Ao todo, foram confirmados 7.365.517 infectados pela doença desde o início da pandemia, além de 189.220 vidas perdidas. As regiões que mais acumulam casos da doença são, respectivamente, Sudeste (2.568.085), Nordeste (1.835.291), Sul (1.275.983), Centro-Oeste (849.091) e Norte (837.067).