A vacina CoronaVac voltou ao centro da disputa entre o governo federal e o de São Paulo. O governador João Doria e os integrantes do comitê contra a covid-19 no estado garantiram, ontem, que o imunizante produzido pela Sinovac e pelo Instituto Butantan estará em condições de ser oferecido à população em janeiro. Já o governo federal se limitou a dizer que vai esperar o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para, só então, passar a contar com as 46 milhões de doses do medicamento esperadas até o próximo mês.
O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, não descartou a incorporação do medicamento e justificou que a pasta não se reuniu com os representantes da CoronaVac, nas últimas semanas, porque já tinha realizado encontros anteriores.
“De maneira clara e objetiva: este ministério está interessado, sim, em uma vacina que seja registrada pela Anvisa, que seja eficaz e segura e que passe por todos os processos para que possa, efetivamente, ser incorporada ao PNI (Plano Nacional de Imunização)”, disse. Os representantes da pasta, no entanto, não responderam às perguntas sobre a possibilidade de adiantar o cronograma vacinal, a partir da incorporação da CoronaVac.
Já Doria criticou a suposta demora do ministério, que só programa começar a distribuir o imunizante em março, quando seria possível antecipar a campanha em, pelo menos, dois meses. “Por que iniciar uma imunização em março se podemos fazer isso já no mês de janeiro, como os outros países, que já começam a fazer agora, em dezembro? Vamos perder mais 60 mil vidas? Deixar que mais 60 mil brasileiros morram para, daí, iniciar imunização?”, questionou.
Estoques
Ele aproveitou para atacar o governo federal e anunciar que, em janeiro, começa a vacinação no estado. “Nós vamos iniciar a imunização dos brasileiros de São Paulo em janeiro. Não vamos aguardar março nem vamos enterrar mais brasileiros”, cobrou.
Até a primeira quinzena do próximo mês, São Paulo deverá ter, em mãos, 46 milhões de doses da CoronaVac para iniciar as aplicações. Com a remessa de insumos para 1 milhão de doses, que chegou ontem, o estado conseguirá ter 1,12 milhão em estoque, aguardando liberação para uso. Com a transferência tecnológica, o Butantan, que replicará o imunizante, conseguirá ofertar mais vacinas ao longo do ano de 2021, que podem ser distribuídas a todos os estados.
“Se o Ministério da Saúde tiver juízo, competência e a visão de que a vacina deve ser para todos os brasileiros, poderá oferecer, também, a CoronaVac para imunizar brasileiros de todos os estados”, reforçou o governador. Mas, caso a vacina não seja incorporada pelo governo federal ao seu acervo, caberá ao estado arcar com os curstos e restringir o uso somente aos habitantes de São Paulo.
Homologação
Mas, para ser distribuída a toda a população, ainda é necessário aval da Anvisa. Ontem, o diretor do Butantan, Dimas Covas, afirmou que protocolará o dossiê completo com os resultados dos estudos de fase três da CoronaVac até 15 de dezembro. Isso é o que garante a abertura oficial do pedido de homologação do medicamento. Somente depois da análise da agência, e da liberação, é que a produção pode constar numa campanha de imunização em massa.
“Teremos até o dia 15 a apresentação dos resultados de eficácia do estudo clínico que Butantan patrocina. Estamos cumprindo com o nosso compromisso de trazer a vacina o mais rapidamente possível”, disse Covas.
Mesmo entrando com pedido de registro daqui a duas semanas, a Anvisa, pela regra estabelecida já em caráter emergencial, teria 60 dias para aprovar o dossiê. O diretor do Butantan, porém, salienta que a submissão contínua, procedimento que permite envio parcelado de informações, facilitará a análise.