Uso emergencial: sinal verde pode vir domingo

Diretoria colegiada da Anvisa se reúne para decidir sobre a liberação para que as vacinas da Fiocruz e do Butantan possam ser aplicadas em grupos específicos da população, dando início à campanha de imunização. E a CoronaVac apresenta 50,4% de eficácia global

MARIA EDUARDA CARDIM SARAH TEÓFILO
postado em 12/01/2021 22:49
 (crédito: Nelson Almeida/AFP)
(crédito: Nelson Almeida/AFP)

A diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se reúne, no próximo domingo, para decidir sobre os pedidos de autorização para uso emergencial das vacinas CoronaVac, do Instituto Butantan com a farmacêutica Sinovac, e do imunizante da Universidade de Oxford e da AstraZeneca, que será replicada no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A expectativa é de que seja anunciada a liberação dos dois medicamentos faltando um dia para o fim do prazo, de 10 dias, previsto em lei para que a agência analise a autorize os imunizantes.

A Anvisa ressaltou, em comunicado divulgado ontem, que os documentos que faltam ser entregues pelas duas instituições de pesquisa precisam ser enviadas para análise, pois, do contrário, pode haver atrasos no anúncio da liberação para uso emergencial. Até ontem à tarde, segundo o painel de controle da Anvisa, 14,4% da documentação da Fiocruz estavam pendente de complemento.

Já o Butantan ainda precisava entregar 5,5% da documentação, e complementar outros 37,6%. O diretor do instituto, Dimas Covas, frisou, ontem, que demandas por parte da Anvisa extras são esperadas.

Eficácia da vacina
Após questionamentos sobre o percentual de cobertura da CoronaVac, anunciada na última semana, o Butantan e o governo de São Paulo divulgaram ontem que a eficácia global do imunizante contra a covid-19 é de 50,38%. Na semana passada, havia sido anunciada uma abrangência de 78% para casos leves e de 100% para graves, mas estes números são recortes do estudo do medicamento. Observando toda a amostra, chega-se à eficácia geral, que é o principal indicador da pesquisa e cujo número é menor.

Assim, os números mostram que a vacina protege pouco mais da metade das pessoas contra o vírus. O índice atende à cobertura mínima recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 50%, percentual que também é adotado pela Anvisa. Conforme estudo, dos voluntários vacinados com a CoronaVac que contraíram o vírus, 77,96% não manifestaram nem sintomas leves da doença.

Apesar de o governo de São Paulo ter indicado que a eficácia da vacina em casos graves e moderados é de 100%, o diretor-médico de pesquisa do Butantan, Ricardo Palácios, disse que o significado estatístico desse número não é válido, porque o número de infectados que precisaram de hospitalização no total é pequeno: não houve nenhum caso grave de covid-19 no grupo que recebeu a vacina, em comparação com o grupo que recebeu placebo, com sete casos graves.

Na entrevista do Butantan, foram convidados diversos especialistas para comentarem os estudos. Sérgio Cimerman, médico infectologista do Hospital Emílio Ribas, destacou que “os dados (da coberturea global da CoronaVac) podem saltar aos olhos da população e de outras pessoas como baixo, mas não é”.

Já Natália Pasternak, bióloga e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), frisou que não é preciso dizer “que essa é a melhor vacina do mundo”. “A gente tem que dizer que essa é a nossa vacina, uma vacina possível, uma boa vacina”, ressaltou.


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Saúde força uso da cloroquina

Por meio de um ofício enviado à secretaria de Saúde de Manaus, Shadia Hussami Hauache Fraxe, no último dia 7, o Ministério da Saúde pressionou a gestão municipal a utilizar medicamentos antivirais sem qualquer comprovação científica. O documento é assinado pela secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Isabel Correia Pinheiro, e diz ser “inadmissível” a não adoção da referida orientação.

O ministério tem prescrito a utilização da ivermectina e da cloroquina. Mas, em documento com orientações do MS, “para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da covid-19” (nota informativa nº17/2020), de agosto do ano passado, a pasta orienta o uso de cloroquina e azitromicina para o tratamento de paciente com sintomas leves da covid-19.

Na nota, a pasta justifica que considera “a larga experiência do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de outras doenças infecciosas e de doenças crônicas no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde), e a inexistência, até o momento, de outro tratamento eficaz disponível para covid-19”. Durante o evento em Manaus, ao falar sobre recursos executados no estado do Amazonas, Mayra afirmou que foram distribuídos e entregues em janeiro “120 mil comprimidos de hidroxicloroquina para o tratamento precoce da doença e mais de nove mil unidades de medicamentos para uso durante a intubação”.

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro falou sobre o assunto, dizendo que precisou intervir em Manaus porque a cidade não estava fazendo “tratamento precoce” na população diagnosticada com covid-19, e que, por isso, houve aumento de mortes. Ele voltou a defender o uso dos medicamentos.

Ao Correio, o ministério afirmou que o tratamento precoce aumenta as chances de recuperação dos infectados. “Reforçamos que o protocolo está a critério dos profissionais de saúde, em acordo com a vontade dos pacientes, e que cabe ao ministério orientar as medidas preventivas e de atendimento precoce contra a covid-19”, explicou em nota. (MEC e ST)

Enem não será adiado

A Justiça Federal negou o pedido de adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e manteve as provas para o próximo domingo (17) e o seguinte (24). O pedido havia sido feito pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Defensoria Pública da União (DPU), que vai recorrer da decisão.

Na decisão, a juíza Marisa Cucio, da 12ª Vara Cível Federal de São Paulo, afirmou entender que as medidas adotadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo exame, “são adequadas para viabilizar a realização das provas nas datas previstas, sem deixar de confiar na responsabilidade do cuidado individual de cada participante e nas autoridades sanitárias locais que definirão a necessidade de restrição de circulação de pessoas, caso necessário”.

Inicialmente marcado para novembro, o Enem foi adiado para janeiro por causa da pandemia. Na época, o Ministério da Educação (MEC) fez uma enquete com os estudantes, que indicaram preferência pelo adiamento para o mês de maio de 2021. Apesar dessa preferência, a prova foi marcada para janeiro sob o argumento de não atrasar o calendário das universidades.

Entidades estudantis fazem pressão pela alteração na data das provas, que ocorrem em meio à segunda onda da pandemia no Brasil. Mas, ontem, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que uma “minoria barulhenta” quer um novo adiamento do exame. A declaração ocorreu no dia seguinte à morte do general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza, chefe da diretoria do Inep e responsável pela elaboração do Enem. “Não vamos adiar o Enem”, disse o ministro.

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