Salvação pode vir da Venezuela

Fornecedora do produto para o governo amazonense vinha reforçando estoque de oxigênio, devido ao crescimento exponencial das internações pela covid-19. Mas, agora, precisará buscar nas fábricas que tem no país vizinho

Correio Braziliense
postado em 14/01/2021 23:05
 (crédito: MICHAEL DANTAS)
(crédito: MICHAEL DANTAS)

A White Martins, principal empresa fornecedora de oxigênio do governo do Amazonas, pode trazer oxigênio da Venezuela. Isso porque verificou a disponibilidade do produto em seus estoques no país vizinho e que, “neste momento, está atuando para viabilizar a importação do produto para a região”. A iniciativa visa mitigar a crise vivida por Manaus, cuja rede hospitalar colapsou devido à covid-19 e pacientes com a doença estão morrendo por asfixia devido à falta de oxigênio para a intubação.

De acordo com a empresa, a demanda por oxigênio subiu cinco vezes nos últimos 15 dias. Atualmente, o volume é de 70 mil metros cúbicos diários, com tendência a continuar aumentando –– consumo que é quase o triplo da capacidade de produção da unidade de Manaus da White Martins, de 25 mil m³ por dia.

Para viabilizar a disponibilização do oxigênio, a produtora de gases fez um requerimento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que “autorize a flexibilização temporária, em caráter excepcional, do percentual mínimo de pureza do oxigênio medicinal produzido no estado do Amazonas. Dessa forma, a porcentagem mínima seria alterada para 95%”, informou em nota. Atualmente, o percentual mínimo de pureza exigido é de 99,9%.

Devido à demanda crescente, no início deste ano, a White Martins informou que carretas e tanques de sete estados do país foram desviados para Manaus, aumentando o volume médio de 22 mil m³ por dia. A empresa acrescentou que “colocou à disposição das autoridades o envio de 32 tanques criogênicos móveis que, neste momento, estão em São Paulo e aguardando nova mobilização para serem transportados” para a capital amazonense.

Entre abril e maio, na primeira onda da pandemia da covid-19, o pico de consumo de oxigênio foi de 30 mil m³ por dia.

À noite, o ministro das Relações Exteriores da Vanezuela, Jorge Arreaza, publicou no Twitter que manteve contatos com o governador do Amazonas, Wilson Lima, e garantiu a ajuda do governo venezuelano para mitigar a crise em Manaus.

O Amazonas registrou ontem mais 5.930 mortes, sendo 44 nas últimas 24 horas. Em Manaus, houve 254 internações de quarta para quinta-feira. O total de casos no estado é de 223.360, com 3.816 em 24 horas e, desses, 2.516 apenas na capital,

Pedido ao Rio
No último domingo, Wilson Lima enviou um pedido de ajuda ao governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), devido à “iminência de sofrer desabastecimento” de oxigênio. O documento, datado do último dia 10, salienta a dificuldade em tom dramático.

“Por conta do uso intensivo de oxigênio de uso hospitalar, principalmente no tratamento dos problemas respiratórios relacionados à covid-19, e diante desse quadro já preocupante, o Amazonas está na iminência de sofrer desabastecimento desse produto”, explica o pedido.

Lima ainda admite, na mesma solicitação de ajuda, que há um problema “sem precedentes no sistema de saúde” de Amazonas, apesar de ter revogado decreto — que publicou nos últimos dias de 2020 — que restringia as atividades econômicas no estado às essenciais.

“Vimos, por meio desta, solicitar a disponibilização de estoque de oxigênio de uso hospitalar dessa unidade da Federação para que o Amazonas possa mitigar os efeitos da pandemia e, com isso, salvar vidas”, diz o pedido, em outro trecho. No documento, o governador do Amazonas reconhece, também, que o colapso “resultou a ocupação integral tanto da rede pública quanto da privada”.

Avião dos EUA
Aviões da Força Aérea dos Estados Unidos poderão auxiliar no transporte de cilindros de oxigênio no Amazonas. Segundo o deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM), o governo brasileiro pediu à Embaixada dos Estados Unidos que disponibilize as aeronaves.

“Tem lugar que tem oxigênio, mas não tem uma aeronave que transporte oxigênio em cilindro. O único que tem (capacidade para transportar os cilindros) entrou em pane e está em manutenção”, disse Ramos. “Falei com o ministro (Relações Exteriores) Ernesto Araújo e estamos tentando, junto à Embaixada, a liberação de um avião da Força Aérea norte-americana, um Galaxy, para levar o oxigênio”, afirmou. A Embaixada dos Estados Unidos disse, apenas, que está ciente do pedido e que mantém contato com as autoridades brasileiras para tratar do assunto.


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Imunização tem dia e hora

O “dia D e hora H” citado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, como início da campanha de vacinação contra a covid-19, finalmente parece ter data e momento para começar. Ontem, durante reunião com a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), o Ministério da Saúde definiu para a próxima quarta-feira (20), às 10h, o início da imunização dos brasileiros. A previsão informada aos prefeitos, entretanto, ainda depende da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o uso emergencial das vacinas que seriam utilizadas.

Mas ainda pairam dúvidas. Após o encontro, o presidente da FNP, Jonas Donizette, afirmou que a data poderia ser postergada para 21 de janeiro, se houvesse atraso na chegada nos dois milhões doses da vacina de Oxford-AstraZeneca vindas da Índia. “Pode ser que fique para o dia 21. Porque é uma condicionante: era voo e a questão da Anvisa”, explicou. O planejamento é para que ambas as vacinas (a outra é a CoronaVac/Sinovac) avaliadas pela agência estejam nos postos de vacinação para o primeiro dia de campanha, com aplicação prioritária em idosos e funcionários da Saúde.

No caso da CoronaVac, são previstas seis milhões de doses, o que totalizaria oito milhões para o início da vacinação. Na reunião, foi dada aos prefeitos a previsão de 30 milhões de doses de vacina até o mês de fevereiro e 80 milhões de aplicações até abril. Para este início, o governo federal planeja uma cerimônia, dia 19, data em que está marcada uma reunião com governadores em Brasília. O evento seria o lançamento oficial da campanha, com apresentação do cronograma de distribuição e imunização por estados e grupos.

Segundo Donizette, as oito milhões de doses previstas serão distribuídas a cinco milhões de brasileiros. Conforme disse, a vacina de Oxford/Astrazeneca será aplicada uma vez, com um intervalo de três meses para a dose final. Já no caso da CoronaVac, o intervalo é menor, de 21 dias, e serão enviadas aos municípios as duas etapas a serem aplicadas.

“Serão dois milhões de pessoas imunizadas pela AstraZeneca, e três milhões pela CoronaVac”, garantiu. Pazuello vinha falando sobre a possibilidade de aplicar apenas uma dose, inicialmente, para alcançar mais pessoas.

Documentação
Como o início da vacinação depende do aval da Anvisa para os imunizantes que serão usados, a agência cobrou, ontem, documentos que precisam ser complementados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que no Brasil produz a vacina Oxford-AstraZeneca, e pelo Instituto Butantan, que replica a CoronaVac. Os imunizantes a serem usados neste início, entretanto, foram importados prontos da Índia e da China, respectivamente. Segundo a Anvisa, as instituições precisam complementar dados para que a análise do uso emergencial seja concluída.

Apesar de estar na iminência de ver a vacina que replica no Brasil ser aprovada para uso emergencial, a Fiocruz decidiu adiar, para a próxima semana, o pedido de registro definitivo da sua vacina, etapa que havia sido anunciado para hoje. Atualmente, 32,6% dos dados relacionados ao pedido foram analisados. Porém, outros 36,11% continuam em avaliação e mais 31,29% precisam ser complementados.

Já o presidente do Fundo Russo de Investimentos Diretos, Kirill Dmitriev, anunciou que a Rússia fornecerá ao Brasil, ao longo deste ano, 150 milhões de doses da Sputnik V. A farmacêutica União Química, que replicará o fármaco, deve submeter à Anvisa a documentação para homologação definitiva do imunizante na próxima semana. (BL, MEC e ST)

Aplicativo recomenda remédios sem eficácia


Em meio à pandemia do novo coronavírus, que, de acordo com números oficiais, matou até ontem 207.095 pessoas (1.131 em apenas 24 horas), o Ministério da Saúde lançou um aplicativo que visa incentivar o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19. Chamado de “TrateCOV”, o aplicativo ajuda a diagnosticar a doença, depois de o médico cadastrar sintomas do paciente e comorbidades, como diabetes. Em seguida, a plataforma sugere a prescrição de medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina, o kit-covid –– que não é recomendado pela Organização Mundial de Saúde por não haver evidências de que esses medicamentos são eficazes contra a doença.

O lançamento foi em Manaus, que colapsou por falta de oxigênio nos hospitais. O ministro Eduardo Pazuello e equipe estiveram na capital amazonense até a última quarta-feira (14). O ministério disse que as sugestões do aplicativo são de “opções terapêuticas disponíveis na literatura científica atualizada”, e ressalta que o objetivo é aprimorar e agilizar os diagnósticos da covid-19.

Em publicação no site da prefeitura, a secretária municipal de Saúde, Shádia Fraxe, disse que reforça “a importância do tratamento precoce para evitar que o quadro clínico se agrave”. “Se, clinicamente, o paciente apresentar sintomas que sugiram covid-19, já recebe tratamento e seu quadro de saúde será monitorado por pessoal capacitado para isso”, disse.

Entre os agentes defensores do tratamento precoce estão o sindicato dos médicos e o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM). O presidente sindicalista Mário Vianna afirmou que “o Ministério da Saúde tem mais de 150 trabalhos científicos com resultados positivíssimos com tratamento precoce”. Indagado sobre a procedência desses estudos, Vianna disse que “não tem em mãos, mas os documentos estão nas redes sociais”, sem dar detalhes. A prefeitura também foi questionada sobre quais evidências científicas subsidiam o uso desses remédios, mas também não respondeu.

Outra capital que adotou esses medicamentos foi a ade Porto Alegre. Desde a campanha, o novo prefeito, Sebastião Melo (MDB), dizia ser contrário a medidas de restrição para conter a transmissão da covid-19. Tão logo assumiu o governo, Melo cumpriu a promessa, e editou um decreto flexibilizando as restrições.

Além da mudança em relação ao funcionamento do comércio, Melo também decidiu adotar o chamado “tratamento precoce”. Os medicamentos que o governo municipal pretende distribuir na rede pública foram entregues pelo ministério sem custos aos cofres municipais. (BL, MEC e ST)

Índia põe em dúvida vinda de fármaco

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Anurag Srivastava, afirmou, ontem, que “é muito cedo” para dar respostas sobre exportações das vacinas, já que a campanha de imunização no país está no começo. A afirmação foi feita em função de questionamentos sobre a entrega, ao Brasil, de dois milhões de doses do medicamento da Oxford-AstraZeneca, replicada pelo Instituto Serum. Ficou, porém, a dúvida se a restrição pode valer para o lote a ser trazido pelo cargueiro da Azul, que segue hoje para Mumbai. O governo brasileiro conta com essas doses para dar início à campanha de vacinação, na próxima semana.

Aliás, a operação do Ministério da Saúde para buscar as doses na Índia foi adiada por 24 horas. A aeronave só segue viagem às 23h e isso pode atrasar, em um dia, o começo da campanha contra a covid-19. A pasta prevê para dar o pontapé inicial na próxima terça-feira.

A Azul alegou que o adiamento ocorreu devido a questões de logística no preparo da carga. Segundo a assessoria de imprensa da companhia aérea, o avião só sairá do Brasil quando a carga de vacinas estiver 100% pronta. Ontem, a aeronave foi adesivada com uma imagem do Zé Gotinha e com o slogan da campanha do governo federal: “Brasil imunizado: somos uma só nação”. O adesivamento atrasou a ida do avião do Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP) para o aeroporto dos Guararapes, em Recife. No entanto, a Azul disse que o atraso não afetaria o cronograma caso o avião seguisse ainda ontem para a Índia.

Já em Recife, o cargueiro agora aguarda a partida para a cidade indiana de Mumbai. A viagem de 12 mil km deve durar cerca de 15 horas. O Airbus A330neo é o maior da frota da companhia e foi equipado com contêineres especiais para garantir o controle de temperatura das doses da vacina. A carga é estimada em 15 toneladas. O pouso está previsto para ocorrer no Aeroporto Internacional do Tom Jobim/Galeão (RJ). Segundo a nota emitida pelo Ministério da Saúde, a vacina poderá ser distribuída aos estados em até cinco dias após a aprovação do uso emergencial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) –– cuja diretoria colegiada se reúne neste domingo para tomar uma decisão. Com isso, a chegada dos imunizantes no Brasil, que estava prevista para acontecer amanhã, deve ocorrer também no domingo.

Na última quarta-feira, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) autorizou as empresas aéreas a transportarem vacinas refrigeradas com gelo seco na cabine de passageiros dos aviões. O transporte só ocorrerá, entretanto, se não houver passageiros durante o voo. (BL, MEC e ST)

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