SAÚDE

Força Nacional do SUS fez alerta para a falta de oxigênio no Amazonas

Por conta de todos os alertas que, eventualmente, poderiam ter evitado o desastre, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tem 15 dias para explicar à Procuradoria-Geral da República (PGR) por que, mesmo ciente da gravidade da situação, demorou a tomar decisões

Fernanda Strickland
Edis Henrique Peres*
Bruna Pauxis*
postado em 20/01/2021 06:00
 (crédito: Raphael Alves/Divulgação)
(crédito: Raphael Alves/Divulgação)

Nos dias anteriores ao caos provocado pela falta de oxigênio em Manaus, a equipe da Força Nacional do Sistema Única de Saúde alertou ao Ministério da Saúde que o colapso na rede da capital amazonense era iminente. Documentos dos dias 8, 9, 11, 12 e 13 de janeiro detalharam a situação nos hospitais e até apresentaram uma previsão exata de quando o sistema entraria em convulsão.

Por conta de todos os alertas que, eventualmente, poderiam ter evitado o desastre, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tem 15 dias para explicar à Procuradoria-Geral da República (PGR) por que, mesmo ciente da gravidade da situação, demorou a tomar decisões. Agora, sabe-se que ele foi alertado, com quase uma semana de antecedência, da possibilidade de descalabro pelo governo do Amazonas, pela empresa fornecedora de oxigênio, a White Martins, e até por uma cunhada que reside em Manaus.

Os relatórios da Força do SUS são completos e enumeram: 1) o momento em que o oxigênio caiu a níveis críticos nos hospitais; 2) a incapacidade de abertura de novos leitos no hospital universitário federal devido à falta de insumos e; 3) e quando as equipes médicas passaram a não medir a saturação de pacientes, para que não se detectasse a necessidade de suprimento de oxigênio. Mesmo assim, e para piorar, a quantidade de cilindros de oxigênio enviada pelo ministério a Manaus foi bastante inferior ao necessário para conter a crise, quando vários pacientes começaram a morrer por asfixia.

Em 9 de janeiro, em uma visita ao Hospital 28 de Agosto, a Força Nacional do SUS anotou: “Eles (as equipes médicas) preferem não medir a saturação dos pacientes na sala rosa 1, pois, ao avaliar quantos pacientes precisarão de oxigênio, não precisam suprir a demanda.” No documento do dia 11, o colapso foi registrado. “Exaustão nos hospitais, alas clínicas com superlotação e fornecimento do oxigênio em reserva em todos os hospitais da rede”, traz o documento, o que levou a Força propôr a criação de usinas de oxigênio com urgência.

Já a White Martins alertou para a impossibilidade local de aumentar o fornecimento. “Necessidade de transporte de balas de oxigênio por via aérea, terrestre e fluvial”, sugeriu à Força do SUS no dia 11. Em 12 de janeiro, o governo passou a discutir como seria possível fazer chegar mais O² à capital do Amazonas –– uma opção seria por balsa de Belém a Manaus, algo que levaria seis dias.
E, no dia 13, véspera do colapso, o relatório da Força registrou a necessidade de 70 mil m³ de oxigênio por dia. “O colapso vai acontecer na madrugada de hoje. Não existe O² para relatório durante a madrugada”, cravou.

Mortes no Pará

E a falta de oxigênio chegou ao Pará. Faro, na fronteira com o Amazonas, já teve sete mortes por asfixia devido à falta de oxigênio durante o tratamento da covid-19. O município possui cerca de 8 mil habitantes, e segundo o secretário de Governo da Prefeitura, Thiago Azevedo, a logística para atender à cidade é complexa e o município é mais dependente dos serviços de Manaus (a 380km).
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará disse que enviou 20 cilindros de O² para Faro. Segundo informações do governo do estado, foram distribuídos 159 cilindros: 79 para Oriximiná, 30 para Terra Santa e 30 para Juruti, em caráter preventivo. A pasta também emitiu alerta às secretarias municipais para que fiquem atentas no monitoramento e abastecimento dos hospitais.

* Estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi

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