Uma semana depois de divulgar o aplicativo TrateCov, que recomendava o tratamento precoce com a prescrição de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19, como a cloroquina e a ivermectina, o Ministério da Saúde retirou a plataforma do ar. Segundo a pasta, o site, que funcionava apenas como simulador, foi invadido e ativado indevidamente, “o que provocou a retirada do ar, que será momentânea”. A desativação ocorreu no mesmo dia em que o Conselho Federal de Medicina (CFM) apontou inconsistências no aplicativo e pediu a retirada imediata do ar.
Apesar de informar que o site foi hackeado, a plataforma tratecovbrasil.saude.gov.br foi divulgada pelo próprio ministério nas notícias do portal oficial da pasta. Ainda que tenha informado que o aplicativo foi criado para auxiliar os profissionais de saúde a diagnosticar a doença, após o médico cadastrar dados, sintomas e comorbidades do paciente, qualquer pessoa tinha acesso à plataforma e poderia fazer o próprio diagnóstico.
O CFM informou que, após a análise de conselheiros e assessores técnicos e jurídicos sobre o aplicativo TrateCov, alertou ao ministério que a ferramenta permitia o preenchimento por profissionais não médicos, além de validar medicamentos que não são apontados como eficazes contra o novo coronavírus. Mais: a plataforma induzia à automedicação e à interferência na autonomia dos médicos.
Críticas
O aplicativo foi lançado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em 11 de janeiro, em visita a Manaus — quando, aliás, a capital amazonense já sofria com a crise de oxigênio na rede pública de saúde. Mas, nas redes sociais, especialistas criticaram a plataforma após simular diversas situações, nas quais sempre prescrevia medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e outros –– independentemente da idade ou do problema alegado por quem preenchia os dados.
O “tratamento precoce”, aliás, foi oficializado pelo ministério, quando pressionou a Secretaria de Saúde de Manaus a utilizar medicamentos não reconhecidos pela ciência contra a covid-19, com base na “larga experiência no tratamento de outras doenças infecciosas e de doenças crônicas no âmbito do SUS, e a inexistência, até o momento, de outro tratamento eficaz disponível” — conforme ofício remetido pela secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do ministério, Mayra Pinheiro.
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