Agência Estado
postado em 25/01/2021 21:44
Com um caso registrado a cada três horas, São Paulo interrompeu uma sequência de sete anos de queda e viu o número de homicídios voltar a subir em 2020. Os dados consolidados do último ano foram divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) nesta segunda-feira, 25. Também segundo a pasta, os indicadores de estupro, latrocínio (o roubo seguido de morte), assalto e de mortes cometidas pelas polícias recuaram no Estado.
De acordo a SSP, os homicídios dolosos, quando há intenção de matar, subiram 4,1% - passando de 2.778 para 2.893 ocorrências no Estado, na comparação entre 2019 e 2020. O aumento anual de assassinatos aconteceu apesar da queda registrada em dezembro. Foram 279 casos no mês passado, ante 294 no mesmo período do ano anterior. Com isso, o Estado chegou à taxa de 6,48 homicídios por 100 mil habitantes.
Desde o início da série histórica, em 2001, esta foi a terceira vez que São Paulo registrou mais assassinatos na comparação com o ano anterior. Pelos dados oficiais, os últimos aumentos haviam sido em 2012 (de 4.193 para 4.836) e 2009 (de 4.432 para 4.564), ocasiões em que o patamar de homicídios no Estado era ainda maior do que o atual.
Essa estatística só considera o total de boletins de ocorrência registrados como "homicídio doloso", mas que podem ter mais de uma vítima por ocorrência ou contabilizar até chacinas como um caso só. Para o número de pessoas assassinadas no Estado, também informado pela SSP, o aumento foi ligeiramente maior: 4,5%. Foram 3.038 mortos em 2020, contra 2.906 no ano anterior.
Com 659 registros no ano passado, a capital paulista também viu o índice subir, mas de forma menos acentuada. A alta foi de 1,3%, segundo a SSP. Em 2019, haviam sido registrados 650 homicídios na cidade. Em relação às vítimas, a estatística aumentou de 685 para 709 - ou 3,5% a mais.
O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani diz que o aumento nos homicídios "preocupa bastante". "As parciais do ano passado já desenhavam que isso poderia acontecer. Acende uma luz amarela para o governo João Doria porque aumentos como esses historicamente são raros", explica.
Ele acredita que o governo deve analisar a fundo os dados para entender as variações por cada região. "Os números precisam ser estudados com maior clareza. O que parece é que a atual política de segurança se preocupa muito com viatura e arma e pouco com inteligência. O sucateamento da polícia de investigação afeta os esclarecimentos de homicídio", reforça.
Em contrapartida, o índice de feminicídios, assassinato cometido contra mulheres por motivação de gênero, recuou de 184 para 179 ocorrências no Estado, de acordo com a pasta. O índice representa queda de 2,7%.
Registros de estupro também interromperam uma sequência de quatro anos com aumento e fecharam 2020 com menos registros (10,9%). Um total de 11.023 casos foram informados pela SSP no ano passado, ante 12.374 em 2019. Especialistas, no entanto, alertam que o confinamento provocado pela pandemia de coronavírus pode ter dificultado que mulheres, as principais vítimas do delito, conseguissem registrar o BO de crime sexual.
Já os latrocínios caíram 6,7%, passando de 192 ocorrências para 179 no Estado. Na capital, foram 46 casos em 2020, contra 64 em 2019.
Por sua vez, roubos e furtos, em geral, recuaram 14,3% e 24,8%, respectivamente. Para o primeiro, foram registros 218.839 ao todo. Para o segundo, 392.311. Entre as modalidade, houve aumento de roubo a bancos - de 21 para 29 casos.
Sobre a variação nos roubos, Alcadipani diz que a gestão estadual deve observar os efeitos econômicos associados à criminalidade, como o fim do auxílio emergencial. "O que vai ser feito é colocar policiamento nos locais de maior incidência de crime. Mas é preciso também mapear as áreas de maior vulnerabilidade social e domínio do crime organizado para agir nessas regiões, observando a questão social", diz.
Letalidade policial tem queda em 2020
Após bater recorde negativo de mortes em supostos confrontos no 1º semestre, as polícias de São Paulo conseguiram reduzir a letalidade das suas ações em 2020, de acordo com a pasta. Foram 814 mortes decorrentes de intervenção policial no ano passado - 6,1% a menos do que em 2019, quando foram registrados 867 casos do tipo.
Do total, 659 pessoas morreram em confrontos com policiais militares em serviço e 121, de folga. Já a morte de outros 21 suspeitos envolveram policiais civis em serviço e 13, de folga.
A queda na letalidade policial aconteceu mesmo após a PM atingir patamar recorde mortes nos seis primeiros meses do ano, mesmo em meio à quarentena e à queda de crimes patrimoniais.
Diante de uma sequência de denúncias de violência policial, o governador João Doria (PSDB) chegou anunciar um programa para submeter todos os agentes a novo treinamento. Recentemente, também anunciou a compra de câmeras corporais para filmar as ações.
Pelas estatísticas divulgadas, o comportamento do último trimestre, período entre outubro e dezembro, teria sido responsável por inverter o cenário. Foram 138 casos de letalidade, de acordo com a pasta, ante 241 na mesma época de 2019 - uma queda de 42,7%.
SP desenvolve ações contra o crime e mantém menor taxa do País, diz coronel
O secretário executivo da Polícia Militar, coronel Alvaro Camilo, destacou que a taxa de homicídios por 100 mil habitantes em São Paulo permanece como a mais baixa do País, "uma das melhores do mundo". "São Paulo está brigando contra os próprios números", diz, lembrando da redução histórica dos casos no Estado.
Camilo diz que o governo está tentando entender melhor o que causou o aumento. "O que identificamos é que a maioria dos crimes foi por conflitos interpessoais. A situação foi agravada pelo confinamento das pessoas causado pela pandemia", declara.
Os conflitos interpessoais se diferenciam dos outros tipos de assassinato por não ser cometido com característica de execução, típica do crime organizado. As mortes nesses casos são causadas por brigas entre pessoas conhecidas ou ocasionadas por disputas pontuais, como desentendimentos.
A atuação da Secretaria da Segurança contra esse tipo de crime, diz o coronel, ocorre de forma indireta com ações contra o tráfico de drogas, contra o alcoolismo e contra o uso de armas de fogo, fatores que ele aponta como relacionados aos assassinatos. "O trabalho continua muito forte", reforça.
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