CoronaVac é testada contra cepa amazônica

Butantan pesquisa para saber se sua vacina tem o mesmo problema apresentado pela Oxford/AstraZeneca na África do Sul, onde a aplicação foi suspensa devido à limitada eficiência contra a variação do novo coronavírus originária naquele país

MARIA EDUARDA CARDIM SARAH TEÓFILO
postado em 08/02/2021 22:20
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Diante de dados que apontaram a limitada eficácia da vacina de Oxford/AstraZeneca contra a cepa do novo coronavírus descoberta na África do Sul, onde foi suspensa a aplicação do imunizante, o Instituto Butantan informou ontem que já testa a CoronaVac contra a variante originária do Amazonas, descoberta em janeiro e detectada em São Paulo. O diretor da instituição, Dimas Covas, afirmou que, em breve, terá os resultados, mas que acredita que a possibilidade de o imunizante não ter resposta quanto à mutação do novo micro-organismo é “bem menor”, pois a vacina desenvolvida pela Sinovac tem por base o vírus inativado.

Covas explicou que este tipo de fármaco mostrou bom desempenho na atuação contra as mutações. “Essa (efetividade contra as variantes) é uma preocupação de todas as vacinas, mas, principalmente, daquelas que têm uma única proteína como antígeno, que é chamada de proteína S. De fato, essas têm apresentado um desempenho inferior, principalmente, com essa cepa sul-africana. Não é o caso das vacinas de vírus inativado. Já tem teste quanto a essas duas variantes, a inglesa e a sul-africana, que mostraram um bom desempenho”, afirmou.

Na Organização Mundial da Saúde (OMS), a preocupação é grande com o estudo que mostrou redução da eficácia da vacina na África do Sul, como ressaltou, ontem, o diretor da instituição, Tedros Adhanom. Ele afirmou que o estudo que fomentou a decisão do país é limitado (apenas com pessoas jovens e saudáveis), mas que a situação está sendo analisada pelo Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas (Strategic Advisory Group of Experts, ou Sage) em Imunização da OMS –– que observa, também, o impacto da vacina na cepa amazonense. “Amanhã, vou me encontrar com o presidente do Sage para discutir as suas recomendações”, afirmou.

Eficácia menor
A diretora do Departamento de Imunização da OMS, Katherine O’Brien, disse, em entrevista coletiva, que há um indicativo de redução de eficácia da vacina de Oxford/Astrazeneca contra a covid-19 em casos de novas variantes do coronavírus. “Algumas mais, outras menos, dependendo da variante e da população”, explicou. Ainda assim, ela frisou que “é muito claro que tem eficácia contra casos graves, hospitalizações e morte”.

Questionada pelo Correio se a OMS tem alguma orientação para ser aplicada ao Brasil, como suspender o uso da vacina enquanto não houver certeza sobre a efetividade em relação à variante amazônica, Katherine afirmou que conversou com o grupo consultivo sobre a mutação que surgiu no norte do país e disse apenas que houve uma atualização sobre quando os diretores terão mais informações para embasar possíveis decisões.

Adhanom afirmou, ainda, que a organização espera decidir nos próximos dias sobre o uso emergencial da vacina Oxford/Astrazeneca. Neste meio tempo, segundo ele, o consórcio Covax Facility continua preparado para a sua primeira distribuição, mantendo o imunizante no portfólio. A OMS também informou que avalia o efeito do medicamento desenvolvido pela universidade inglesa e pelo laboratório anglo-sueco na cepa amazonense.

 

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STF manda ministério organizar imunização

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou ontem que o governo defina, em um prazo de cinco dias, a ordem dos grupos prioritários para serem vacinados contra a covid-19. De acordo com o magistrado, não está claro quais cidadãos devem ser imunizados primeiro e, como cada estado e município vêm adotando regras próprias, a imunização no país todo apresenta graus diferentes de avanço.

Pela determinação, o governo deve elaborar uma lista de preferências, com base no critério de grau de risco da covid-19 para cada grupo. Na decisão de Lewandowski, decidir tais critérios atende a princípios da administração pública estabelecidos pela Constituição.

O plano apresentado pelo governo prevê vacinação, por exemplo, de médicos e demais profissionais de saúde que estão na linha de frente contra a pandemia, assim como idosos, portadores de doenças crônicas e profissionais de segurança pública. No entanto, Lewandowski destacou que o planejamento não define quais grupos recebem a vacina primeiro. Mesmo entre os idosos, não há uma unidade do escalonamento por idade –– alguns estados e municípios ainda vacinam quem tem mais de 90 anos, enquanto outros já atendem aqueles que estão na faixa dos 80.

Lewandowski afirmou que as regras devem se basear em critérios técnicos e científicos. Para ele, não foram definidos parâmetros suficientes para orientar os profissionais de saúde. E existe ainda a falta de vacinas, o que gera uma difícil decisão nas unidades de saúde.

“Ao que parece, faltaram parâmetros aptos a guiar os agentes públicos na difícil tarefa decisória diante da enorme demanda e da escassez de imunizantes, os quais estarão diante de escolhas trágicas a respeito de quais subgrupos de prioritários serão vacinados antes dos outros. Os noticiários têm dado conta de que não há uma racionalidade nessa primeira distribuição, insuficiente para todos os milhões de brasileiros com perfil de prioridade”, observou Lewandowski, na decisão.

Dez dias para esclarecer pressão

 (crédito: Michael Dantas/AFP 31/1/21)
crédito: Michael Dantas/AFP 31/1/21

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Benjamin Zymler determinou que a Secretaria de Saúde de Manaus responda, em 10 dias, se foi pressionada pelo Ministério da Saúde a usar cloroquina, ivermectina e azitromicina em pacientes acometidos pela covid-19, quando a força-tarefa da pasta esteve no Amazonas, na semana do dia 11 de janeiro –– mesmo período em que sistema de saúde da capital do estado colapsou pela falta de cilindros de oxigênio e pessoas morreram asfixiadas nos leitos dos hospitais públicos. A secretaria municipal disse que ainda não foi notificada oficialmente e só poderá se manifestar após conhecer o teor da notificação.

Poucos dias antes da visita, o ministério enviou um ofício, datado de 7 de janeiro, à secretaria de Saúde de Manaus, Shadia Hussami Hauache Fraxe, no qual pressionava a gestão da capital a prescrever medicamentos antivirais, e sem eficácia comprovada, contra a covid-19.

“Aproveitamos a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde, tornando, dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus a não adoção da referida orientação”, diz o documento, assinado pela secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Isabel Correia Pinheiro. O ministério incentiva o uso da cloroquina em um protocolo elaborado, em maio do ano passado, embora o ministro Eduardo Pazuello tivesse afirmado que jamais estimulou o “tratamento precoce”, mas, sim, o “atendimento precoce”.

Além disso, durante a mesma visita ao Amazonas, com o sistema na iminência de entrar em colapso, Pazuello lançou um aplicativo que incentivava a utilização dos remédios no caso de sintomas que apontassem para suspeita de covid-19. O app foi tirado de circulação pouco depois.

O despacho do ministro do TCU é do último dia 5 e atende a uma representação feita pelo subprocurador-geral do Ministério Público junto ao tribunal, Lucas Rocha Furtado. No mês passado, ele deu 10 dias para que o ministério informasse sobre aquisição e fornecimento de cloroquina no tratamento de pacientes com covid-19. (MEC e ST)


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