Polêmica

CNBB faz crítica à "negação da ciência" na campanha da fraternidade

A campanha também condenou agressão contra mulheres, negros, indígenas e comunidade LGBTQI+

Carinne Souza *
postado em 18/02/2021 06:00
 (crédito: Daniel Flores / Assessoria de Imprensa CNBB)
(crédito: Daniel Flores / Assessoria de Imprensa CNBB)

Com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, a 5ª Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE), promovida pelo Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), começou com polêmica. O evento de abertura deste ano ocorreu em formato on-line e com um vídeo de divulgação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic). O texto-base, que justifica a escolha do tema da campanha, gerou polêmica e recebeu uma onda de críticas ao reprovar a “negação da ciência” durante a pandemia da covid-19, criticar a atuação do governo federal no combate ao coronavírus e igrejas que não respeitaram o distanciamento social. A campanha também condenou agressão contra mulheres, negros, indígenas e comunidade LGBTQI+.

“Estes homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQI+ e de outros grupos perseguidos e vulneráveis”, diz texto da Campanha da Fraternidade. O documento ainda ressalta que “Jesus questionou essas estruturas de poder e desigualdade. As pessoas não poderiam ser descartadas e sofrer as consequências para a manutenção de um poder segregador”.

O papa Francisco também enviou uma mensagem ao Conic, na qual ressalta a importância da campanha e do tempo de reflexão proposto pela quaresma. “Convoca-nos a cuidarmos de nós mesmos, de nossa saúde, e a nos preocuparmos uns pelos outros, como nos ensina na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Precisamos vencer a pandemia e nós o faremos à medida em que formos capazes de superar as divisões e nos unirmos em torno da vida”, disse o pontífice na mensagem.

O lema da CFE de 2021 foi extraído da carta de São Paulo aos Efésios e diz que “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”, e propõe cristãos e pessoas de boa vontade do país e de todas as igrejas a pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual. Tudo isso por meio do diálogo amoroso e do testemunho da unidade na diversidade, e inspirados no amor de Cristo.

Diálogo

Segundo o bispo Dom Joel Portela, o tema do diálogo é uma continuidade da campanha de 2020, sobre o cuidado mútuo entre as pessoas. Não se trata de “querer que todos pensem do mesmo modo”, ressalta, mas de se perceber que a diferença é convite ao diálogo. “Perplexas pela pandemia, as igrejas que compõem o Conic e algumas observadoras uniram-se e identificaram nesse tema a mensagem que o nosso tempo necessita. É triste ver que nosso tempo vem apresentando a marca da radicalização, da polarização e do desrespeito às pessoas, em especial às mais simples e vulnerabilizadas”, pontuou.

Realizada, em média, a cada cinco anos, a campanha da fraternidade é tradicionalmente feita pela Igreja Católica em parceria com instituições cristãs desde a década de 1960. O texto-base é escrito por membros do Conic e passa pelo aval da direção-geral da CNBB. De acordo com o bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, a opção pelo evento virtual teve o intuito de “evitar aglomerações nesse momento em que a pandemia assume números que nos assustam”.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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