Agência Estado
postado em 26/02/2021 08:32
A escalada de casos do novo coronavírus, somada às internações de pacientes com doenças crônicas, coloca pressão em hospitais particulares de elite de São Paulo, que operam com taxas de ocupação superiores a 90% nos leitos de enfermaria e de UTI, considerando alas covid-19 e as para outras doenças. A alta tem sido associada por médicos e especialistas aos efeitos das aglomerações e há preocupação com as consequências do carnaval. Nesta semana, o Estado registrou recorde de internações em UTIs na pandemia, considerando vagas públicas e privadas.
No Hospital Israelita Albert Einstein, a taxa total de ocupação era ontem de 99% e no Sírio Libanês, de 96%. No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a taxa de ocupação de UTI para covid está em 91%. No Beneficência Portuguesa (BP), a taxa de ocupação dos leitos de internação para infectados pelo vírus estava em 94% na quarta-feira, e era de 97,87% nas UTIs. Ontem, a taxa de ocupação nos leitos de UTI e enfermaria dedicados à doença no HCor era de 85% e a ocupação total, de 86%.
Esses índices variam diariamente, seja pelas altas, mortes de pacientes ou por adequação dos leitos, que podem ser transformados em UTI ou enfermaria, conforme a necessidade. Não significa, portanto, que os hospitais vão deixar de receber novos casos em breve. Mas as taxas têm se mantido elevadas nas últimas semanas. No Einstein, nesta quinta-feira, havia 123 internados com covid, dos quais 65 na UTI. Na quarta, eram 127 internados (55 na UTI). Mas o número veio aumentando nos últimos dias.
"Quando enfrentamos a pandemia na primeira onda, suspendeu-se o atendimento das outras especialidades. As pessoas ficaram quase um ano sem se tratar, mas nosso ambulatório de consultórios voltou à atividade plena, retomou-se o agendamento de cirurgias importantes", diz Fernando Torelly, superintendente corporativo e CEO do HCor. A volta de pacientes cardíacos e oncológicos, por exemplo, aumenta a demanda nas unidades de saúde.
No Einstein, embora o número de internações por covid esteja alto, também não houve aumento significativo do volume de internações pela doença nas últimas semanas e a principal causa da lotação atual são as cirurgias eletivas represadas. "A demanda por outros tratamentos tem sido altíssima desde novembro. Eu, por exemplo, costumo fazer uma ou duas cirurgias por dia e, hoje, fiz quatro", conta Sidney Klajner, presidente do Einstein e cirurgião do aparelho digestivo.
Por enquanto, a unidade não prevê cancelamento de procedimentos eletivos. "Estamos remanejando procedimentos de menor complexidade para a unidade de Perdizes, temos médicos contratados que passam visita logo cedo para acelerar altas e podemos abrir novos leitos em alas que eram usadas para a realização de exames ou para recuperação pós-cirúrgica."
Klajner diz que o que preocupa agora é uma eventual demanda crescente por leitos de covid-19 nas próximas semanas, como reflexo das aglomerações no carnaval. Torelly concorda. "A grande discussão é como vamos ter de atuar se continuar nesse padrão de ocupação do hospital. Agora, a situação é complexa e administrável, mas não sabemos o crescimento que vamos observar nas próximas semanas."
"O ponto de maior preocupação é como será a capacidade de crescimento (dos casos). As variáveis a considerar são: vacina, as novas variantes, o comportamento da população e a capacidade de leitos. Se tiver mais casos, vamos tentar adequar", diz o CEO do Hcor.
Futuro
Levantamento preliminar do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo, com amostra de 60 hospitais privados (16% das unidades da rede particular que atendem covid), apurou que 72% dos hospitais paulistas têm ocupação que varia de 80% a 100% dos leitos de UTI.
A pesquisa completa termina no fim da semana. Por outro lado, o estudo já destaca que dois terços dos hospitais declaram ter capacidade de aumentar o número de leitos disponíveis, se for preciso.
Para Francisco Ballestrin, presidente do SindHosp, a manutenção de cirurgias e atendimentos eletivos (não urgentes) indica que, por ora, existe a possibilidade de manter essa assistência, com cautela. "Agora temos o pior dos cenários: o pico está maior e muitos dos leitos estão ocupados por pacientes eletivos. Mas ainda existem leitos em hospitais privados que podem ser transformados para covid. Nesse instante, vai ser o critério por demanda. Estamos (hospitais privados) conseguindo atender as duas. Se houver demanda de covid que faça uma pressão enorme, vamos diminuir as outras e colocar pacientes da doença lá", adianta.
Torelly diz ainda que a população precisa colaborar para evitar que a situação se agrave mais ainda. "Temos uma estrutura hospitalar ativa e dando conta, mas não pode acontecer de ter convívio social mais liberado. Não podemos perder o medo e o respeito pelo vírus. Tem de manter medidas de proteção para efetivamente ganhar mais tempo com a vacinação", alerta. (Colaboraram Fabiana Cambricoli e Erika Motoda)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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