PANDEMIA

"É uma tragédia que o Brasil esteja encarando isso novamente", diz diretor da OMS

Sistema de Saúde está em colapso em diversos estados. No DF, taxa de ocupação de leito de UTI covid-19 superou 99%

Sarah Teófilo
postado em 26/02/2021 17:04 / atualizado em 26/02/2021 17:05
 (crédito: Reprodução/Youtube)
(crédito: Reprodução/Youtube)

O diretor-executivo do Programa de Emergências em Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan, afirmou nesta sexta-feira (26/2), ao ser questionado pelo Correio, que a situação da pandemia do coronavírus no Brasil é complexa e ressaltou a importância de se fazer um controle da transmissão comunitária do vírus. Ryan lamentou a situação do Brasil, que vive novo colapso no sistema de Saúde de diversos estados, ressaltando que é preciso mostrar solidariedade e prestar a assistência necessária para que o país lide com a doença.

“Infelizmente, e é uma tragédia ao Brasil, que o Brasil esteja encarando isso novamente. É difícil. É a quarta vez para o Brasil, eu acredito, pelo menos. A situação no Brasil melhorou em algumas áreas, e em outras não. Eu não acho que tenha havido um momento no último ano em que alguma parte do Brasil não tenha sido profundamente afetada por essa pandemia. É muito difícil e nós deveríamos tirar um momento para mostrar solidariedade ao povo brasileiro e prestar a assistência necessária para que eles lidem com essa doença. Mas novamente, o Brasil é um país muito capaz e tem várias instituições científicas e de saúde pública fantásticas”, afirmou.

O diretor pontuou que é perigoso qualquer “relaxamento” nas medidas que evitam a transmissão do coronavírus no momento. “Precisamos estar cientes de que esse vírus ainda tem muita energia. E se as medidas que aplicarmos não forem persistentes, continuando a suprimir a transmissão enquanto introduzimos as vacinas, nós vamos pagar o preço”, ressaltou.

Ryan disse que ao longo da pandemia, não foi visto no Brasil uma trajetória prolongada de queda de casos, e que o país é muito grande e tem uma situação complexa, mas não é o único que está vivendo essa situação. “Há muitos países em que a tendência de queda não está sendo alcançada”, relatou.

O diretor frisou que é preciso controlar a transmissão no país, uma vez que está ocorrendo em nível comunitário. “Muitas partes do Brasil sofreram intensa transmissão comunitária por um período muito prolongado. Tem sido muito difícil para brasileiros e para o Brasil. É muito difícil em um país muito populoso, onde as pessoas vivem em casas com pessoas de diversas gerações, casas com muitas famílias, muitos vivendo em áreas periurbanas, onde a pobreza e falta de acesso é um problema grande”, afirmou.

Ryan ainda ressaltou: “É fácil sentar aqui e falar sobre o que deve ser feito. É muito difícil na realidade de atingir isso em algumas das configurações que as autoridades brasileiras encararam e que as próprias comunidades encaram”.

Aumento de leito

Questionado pelo Correio, durante a na entrevista coletiva, se aumentar a quantidade de leito de unidade de terapia intensiva (UTI) é suficiente para controlar a situação de colapso no sistema de saúde do Brasil, Michael Ryan afirmou que o mundo já viu no passado que apenas aumentando a capacidade do sistema de saúde não é suficiente.

“O seu sistema de saúde ficará transbordando se a força da infecção, se a trajetória dos casos estiver aumentando. E o seu sistema não pode cobrir hoje e certamente não irá cobrir amanhã se essa pressão continuar no sistema. Então, sim, é sempre bom fortalecer a capacidade da saúde, é sempre bom conseguir abrir mais leitos e transferir trabalhadores da Saúde para áreas com menos pressão para ajudar equipes em outras áreas. Tudo isso é bom, mas só isso não é suficiente”, afirmou.

A taxa de ocupação de leitos de UTI para pacientes com covid-19 está acima de 90% em diversos estados brasileiros. No Distrito Federal, por exemplo, a taxa está agora em 99,4%

Sobre as variantes, e o possível impacto no aumento de casos no país e o colapso dos sistemas, o diretor afirmou que “a contribuição de variantes na situação não é inteiramente compreendida nesse caso específico”.

“Mas nós sabemos que nos países que estão aplicando medidas consistentes e persistentes em termos de saúde pública e medidas sociais e ações individuais que isso está afetando a trajetória de todas as variantes. e apesar de algumas variantes mostraram a propensão para altos níveis de transmissão, o que é claro é que as medidas de controle designadas estão afetando e levando-os (a quantidade de casos) para baixo”, afirmou.

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